|
Próximo Texto | Índice
ABASTECIMENTO
Plano para a Grande SP abandona grandes obras e prevê investir 15,3% menos do que o realizado entre 1995 e 2002
Sabesp reduz gasto com água até 2025
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Para conseguir atender à demanda por água da Grande São
Paulo nos próximos 20 anos, com
a folga para evitar crises como as
que a região enfrenta desde o início da década, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do
Estado de São Paulo) prevê gastar
R$ 2,2 bilhões em aumentos na
produção, na capacidade de reservação e na rede que leva a água
das represas às torneiras.
O montante, que não inclui os
gastos com manutenção da rede,
é 15,3% menor do que os R$ 2,6
bilhões que a empresa investiu
em água na região metropolitana
entre 1995 e 2002, quando teve de
superar um rodízio permanente
que afetou 10 milhões de pessoas.
Os gastos futuros acabaram ficando abaixo do que esperavam
especialistas do setor porque
obras bilionárias de busca de novos mananciais, inicialmente previstas, foram descartadas a priori.
Foi o que ocorreu, por exemplo,
com as alternativas de trazer água
da bacia do rio Paraíba do Sul e da
região de Iguape, no litoral sul
paulista. Além de custarem mais
de R$ 1 bilhão cada uma, elas envolveriam complicações como
disputar água com outros Estados
e contrariar ambientalistas.
Aumento da oferta
A previsão é que os R$ 2,2 bilhões sejam suficientes para aumentar a oferta atual de água (de
66,1 mil litros por segundo) em
até 18,3 mil litros por segundo, 4%
a mais do que a máxima demanda
esperada para o ano de 2025.
Num cenário pessimista, no
qual as perdas se mantenham em
30% do produzido (sendo 15%
perdas físicas e 15% roubo de
água), só o consumo em órgãos
públicos caia 20% e não haja aumento nem no reúso nem na tarifa (como forma de forçar o uso racional), a perspectiva é que, daqui
a 20 anos, o consumo médio pule
para 81 mil litros por segundo.
Num cenário otimista, em que,
além da redução no consumo público, haja uma economia de 2%
no residencial, as perdas caiam, o
reúso aumente e a tarifa seja usada para conter o gasto, a demanda
média seria bem menor: 70 mil litros por segundo. O volume de
água economizado por segundo,
11 mil litros, seria suficiente para
abastecer cerca de 3 milhões de
pessoas -pouco mais que a população de Salvador (BA).
As informações constam do
Plano Diretor de Abastecimento
de Água da Sabesp, a que a Folha
teve acesso exclusivo. Ele vem
sendo escrito desde 2002 e deve
ser publicado até meados do ano.
O crescimento da população da
Grande São Paulo, de 18 milhões
de pessoas para 22,5 milhões em
2025, quando se estabilizaria, é
projetado a partir da fecundidade,
da mortalidade e da migração.
Gastos enxutos agradam
A previsão de gastos mais enxuta agradou à maioria dos especialistas e ambientalistas ouvidos pela Folha, os quais temiam que a
Sabesp sucumbisse ao lobby das
empreiteiras. Dos entrevistados,
apenas a Prefeitura de São Paulo,
que disputa o controle do saneamento na capital com a empresa,
critica a falta de investimentos.
Por ordem de prioridade e conforme a evolução da demanda, a
Sabesp prevê inicialmente o melhor aproveitamento do bombeamento do rio Taquaçetuba (um
dos formadores da represa Billings, na zona sul de SP) para o
sistema Guarapiranga, aumentando a sua produção em 1.700 l/s.
O segundo passo seria aumentar a produção no sistema Alto
Tietê em 5.600 l/s -o que deverá
ser conseguido com a implantação das barragens de Biritiba-Mirim e Paraitinga, já autorizadas
pela Justiça, e o aprofundamento
da barragem de Taiaçupeba (todas na Grande São Paulo).
Em seguida, viria o aproveitamento do rio Pequeno, um outro
formador da Billings, que pode
fornecer mais 2.200 l/s para o sistema Rio Grande. Só depois de
usar os mananciais mais próximos, a Sabesp prevê partir para os
rios Juquiá e Juquitiba, que ficam
na divisa entre a Grande São Paulo e o litoral sul paulista. Eles podem fornecer mais 4.700 l/s.
Se a demanda continuar crescendo, serão aproveitados os rios
Itapanhaú e Itatinga, com mais
2.800 l/ s e 2.100 l/s, respectivamente, para o sistema Alto Tietê.
Nos dois últimos casos, no entanto, os rios estão em áreas protegidas. A alternativa de fazer represas menores e, portanto, desmatar menos e afetar menos a
fauna da região, implicaria maiores gastos e custos com energia.
Próximo Texto: Especialistas cobram controle de consumo Índice
|