São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2004

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Conflito afeta rotina dos vizinhos

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A guerra do tráfico na Rocinha alterou a rotina dos bairros vizinhos. Em São Conrado, o shopping Fashion Mall, um dos mais sofisticados da cidade, ficou vazio, moradores da região não saíram dos condomínios e hóspedes do Hotel Intercontinental assistiram dos quartos ao fogo cruzado dos traficantes.
Por causa da violência, a Escola Americana, que fica no alto da Gávea (zona sul) e perto de uma das entradas da Rocinha, não funcionou ontem. O Ciep (Centro Integrado de Educação Pública) em frente à Rocinha, em São Conrado, também não abriu.
O Fashion Mall ficou "às moscas" no final de semana, segundo o gerente da Ermenegildo Zegna, André Rios. De acordo com a assessoria do shopping, as vendas caíram 20% neste feriado da Semana Santa, na comparação com o do ano passado.
Funcionários de lojas do Fashion Mall dizem que a queda nas vendas foi ainda maior. A gerente de uma grife feminina italiana, que não quis ser identificada, afirmou que entraram na loja apenas quatro pessoas no sábado, dia de maior movimento. Ela avalia que o movimento caiu mais de 80%.
A vendedora da mesma loja, que mora no alto da Rocinha, perto da mata onde os traficantes ficaram escondidos, contou que passou toda a madrugada de sexta-feira acordada, agarrada ao filho de apenas 11 meses. No sábado, não foi trabalhar.
A gerente de uma grife feminina de São Paulo disse que teve de dispensar mais cedo duas funcionárias na sexta e no sábado. Outras lojas, disse ela, fizeram o mesmo.
"A Páscoa não existiu para a gente. O movimento caiu pela metade", disse a gerente da loja de chocolates Kopenhagen, Ana Cláudia Antunes. Ela disse que nunca viu o shopping tão vazio nos cinco anos em que trabalha lá.

Turistas assustados
Hospedados no Intercontinental, a poucos metros da entrada da favela, os portugueses Antonio, 56, e Tereza Belo, 50, contaram que do seu quarto puderam ver e ouvir os tiros dos traficantes na madrugada de sexta-feira. Ficaram com medo, mas dizem que vão voltar ao Rio. "Só que vamos ficar, da próxima vez, em Copacabana", disse ele.
Hospede do Intercontinental, o argentino Jaime Baintrub, 80, disse que pior do que o pânico causado aos turistas é a situação de terror que vivem os moradores. Ele afirmou que não pretende voltar mais ao Rio. "Só saí para ir ao shopping porque há uma ligação interna com o hotel", disse.
Inês Moura, 39, que mora no condomínio Vilage, em frente ao shopping, disse que não saiu de casa para nada: "Só atravessei a rua para ir trabalhar no shopping". Ela é gerente de uma loja.


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