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Conflito afeta rotina dos vizinhos
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A guerra do tráfico na Rocinha
alterou a rotina dos bairros vizinhos. Em São Conrado, o shopping Fashion Mall, um dos mais
sofisticados da cidade, ficou vazio, moradores da região não saíram dos condomínios e hóspedes
do Hotel Intercontinental assistiram dos quartos ao fogo cruzado
dos traficantes.
Por causa da violência, a Escola
Americana, que fica no alto da
Gávea (zona sul) e perto de uma
das entradas da Rocinha, não funcionou ontem. O Ciep (Centro Integrado de Educação Pública) em
frente à Rocinha, em São Conrado, também não abriu.
O Fashion Mall ficou "às moscas" no final de semana, segundo
o gerente da Ermenegildo Zegna,
André Rios. De acordo com a assessoria do shopping, as vendas
caíram 20% neste feriado da Semana Santa, na comparação com
o do ano passado.
Funcionários de lojas do Fashion Mall dizem que a queda nas
vendas foi ainda maior. A gerente
de uma grife feminina italiana,
que não quis ser identificada, afirmou que entraram na loja apenas
quatro pessoas no sábado, dia de
maior movimento. Ela avalia que
o movimento caiu mais de 80%.
A vendedora da mesma loja,
que mora no alto da Rocinha, perto da mata onde os traficantes ficaram escondidos, contou que
passou toda a madrugada de sexta-feira acordada, agarrada ao filho de apenas 11 meses. No sábado, não foi trabalhar.
A gerente de uma grife feminina
de São Paulo disse que teve de dispensar mais cedo duas funcionárias na sexta e no sábado. Outras
lojas, disse ela, fizeram o mesmo.
"A Páscoa não existiu para a
gente. O movimento caiu pela
metade", disse a gerente da loja de
chocolates Kopenhagen, Ana
Cláudia Antunes. Ela disse que
nunca viu o shopping tão vazio
nos cinco anos em que trabalha lá.
Turistas assustados
Hospedados no Intercontinental, a poucos metros da entrada da
favela, os portugueses Antonio,
56, e Tereza Belo, 50, contaram
que do seu quarto puderam ver e
ouvir os tiros dos traficantes na
madrugada de sexta-feira. Ficaram com medo, mas dizem que
vão voltar ao Rio. "Só que vamos
ficar, da próxima vez, em Copacabana", disse ele.
Hospede do Intercontinental, o
argentino Jaime Baintrub, 80, disse que pior do que o pânico causado aos turistas é a situação de terror que vivem os moradores. Ele
afirmou que não pretende voltar
mais ao Rio. "Só saí para ir ao
shopping porque há uma ligação
interna com o hotel", disse.
Inês Moura, 39, que mora no
condomínio Vilage, em frente ao
shopping, disse que não saiu de
casa para nada: "Só atravessei a
rua para ir trabalhar no shopping". Ela é gerente de uma loja.
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