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LEITO SELETIVO
Humberto Costa disse que proposta de limitar acesso à terapia intensiva tornou-se debate político
Ministro da Saúde recua e pára a discussão sobre restrição em UTI
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A ACRA (GANA)
O ministro Humberto Costa
(Saúde) recuou ontem na decisão
de criar normas para a internação
de pacientes nas UTIs (unidades
de terapia intensiva) brasileiras e
anunciou o engavetamento das
discussões sobre o assunto.
"Essa discussão, da forma como
está colocada, precisa ser reposta.
Estamos suspendendo o debate
para começá-lo no momento em
que possamos reposicionar a discussão e deixar claro à população
que não existe qualquer risco de
as pessoas deixarem de ter acesso
ao serviço", disse em entrevista,
ontem à tarde, em Acra (Gana).
Anteontem, em Iaundê (Camarões), Costa havia dito que a iniciativa não encontraria "polêmicas" nem "resistências" em torno
da formulação, com prazo até então para meados do ano. Chegou
a citar um exemplo: uma pessoa
com morte cerebral, segundo critérios, não ocuparia uma vaga de
UTI em detrimento de outra.
Como revelou a Folha na última
segunda, o ministério trabalhava
com o objetivo de criar normas
para restringir os leitos de UTI só
para pacientes graves com chances reais de recuperação. A iniciativa causou reações negativas em
setores médicos e no Congresso.
Costa disse que a discussão causou reações "políticas" em vez de
polemização técnica. A partir de
agora, diz, não há prazo para retomar a conversa. "Queremos fazer
a discussão de forma correta, situá-la em nível técnico e impedir
que haja má compreensão ou insegurança pela população."
O ministro garantiu que a eventual normatização do tema não
excluirá o poder de decisão do
médico de optar ou não por internar o paciente em UTI. "Ainda
que existam normas e protocolos,
será sempre o profissional que tomará a última decisão", afirmou.
"Nenhum brasileiro sofrerá qualquer tipo de restrição no acesso a
leitos de UTIs quando houver indicação médica", acrescentou.
Hoje, a estimativa é que de 15%
a 20% dos internados nas unidades estejam em estado incurável.
Costa disse também que a informação de que o governo discute a
criação das normas veio de forma
não planejada.
"A discussão não foi aberta [pelo Ministério da Saúde]. Havia expectativa, mas surgiu uma notícia
no jornal [Folha]."
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