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LEITO SELETIVO
Associações médicas argumentam que propor normas para a UTI e depois recuar é desviar o foco da questão
Problema é falta de vaga, dizem entidades
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Representantes de associações
médicas brasileiras afirmam que,
ao propor a adoção de critérios
para admissão e alta de pacientes
na UTI e depois recuar, o governo
tentou desviar o foco do real problema: a falta de leitos nas unidades de terapia intensiva do país.
Para as entidades, o debate sobre os critérios é importante, mas
só tem sentido se ocorrer com o
envolvimento das sociedades médicas e quando "a casa estiver arrumada". "É a mesma coisa que
fazer um estatuto antes de construir o hospital", afirma o médico
José Maria Orlando, presidente
da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira).
O percentual de leitos de UTI é
calculado sobre o total de vagas da
rede de saúde e deve ser de, no mínimo, 4%. Hoje, o país tem 21.528
leitos públicos e privados de UTI,
o que representa uma média de
3,74% sobre o total.
Desses, em torno de 13 mil estão
no sistema público de saúde, que
atende perto de 140 milhões de
brasileiros. A rede privada tem
cerca de 8.000 leitos para atender
a um público de 30 milhões de
pessoas. Para Orlando, seria necessário dobrar o número de leitos públicos para o país atingir
um número aceitável de vagas.
Hoje, segundo ele, é comum pacientes da rede particular, especialmente os que possuem planos
de saúde, serem internados nas
UTIs públicas, mas o inverso dificilmente ocorre.
Na avaliação do Ministério da
Saúde, não é necessário expandir
leitos nacionalmente, mas concentrar esforços no Norte e no
Nordeste e melhorar o aproveitamento das vagas.
Investimento
Para Luiz Flávio Borges D'Urso,
presidente da OAB-SP (Ordem
dos Advogados do Brasil), o ministro Humberto Costa teve
"bom senso". O presidente da Associação Médica Brasileira
(AMB), Eleuses Vieira de Paiva,
concorda: "A norma era absurda.
O ministério tentou fugir do foco
principal, falta de leito".
"Protocolos e diretrizes não resolvem a questão da demanda. O
que resolve é investimento", avalia Paiva. Em sua opinião, a discussão de critérios técnicos e científicos não deve ser misturada aos
problemas de infra-estrutura.
"Quem define quem entra e
quem sai da UTI é o médico.
Qualquer norma do ministério
[sobre critérios de internação e alta] que respeite isso será bem-vinda", diz Isac Jorge Filho, presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo).
Jorge Filho lembra que os médicos sofrem inúmeras pressões da
família para manter o paciente na
UTI mesmo sem necessidade.
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