São Paulo, domingo, 13 de abril de 2008

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Favelas do PAC sofrem com guerra do tráfico

Conflitos internos em Manguinhos, Rocinha e Alemão já deixaram 4 mortos e 14 pessoas desaparecidas em um mês

Segundo a polícia, a rixa entre grupos no Alemão é pessoal; traficantes da Pedra do Sapo mataram uma das mulheres de rival

Rafael Andrade - 17.mar.08/Folha Imagem
Operário trabalha no primeiro dia de obras do PAC, na favela da Fazendinha, no Alemão


ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Três favelas cariocas que recebem os investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) sofrem com guerras internas entre traficantes no primeiro mês de obras nas comunidades.
Na última semana, ao menos quatro supostos criminosos morreram e 14 estão desaparecidos, de acordo a polícia.
As favelas do Complexo do Alemão, Manguinhos e Rocinha receberão até 2011 investimento de R$ 1,14 bilhão. São nelas as disputas entre criminosos por pontos de venda de drogas e rixas internas.
O PAC tem investimento ainda no Pavão-Pavãozinho, em Copacabana (zona sul).
No Complexo do Alemão, principal entreposto de drogas e armas da facção Comando Vermelho, traficantes da favela da Grota entraram em confronto com rivais da Pedra do Sapo. Controlados pela mesma facção, o conflito gerou ao menos um morto: Robson Cirino, o Pé de Pano, homem de confiança de Antônio de Souza Ferreira, o Tota, chefe do tráfico no Complexo do Alemão.
De acordo com policiais, a rixa entre os dois grupos é de ordem pessoal. Traficantes da Pedra do Sapo mataram uma das mulheres de Tota, o que gerou o conflito.
Segundo moradores relataram à polícia, cinco traficantes da Pedra morreram no confronto. Seus corpos teriam sido carbonizados.
O complexo de 13 favelas é o que recebe o principal investimento do PAC (R$ 601,7 milhões). O conflito ainda não afetou o andamento das frentes de obra, atualmente na parte externa da favela.
Na Rocinha, onde a venda de drogas é controlada pela ADA (Amigo dos Amigos), traficantes do alto do morro tentaram tomar as bocas de fumo na parte baixa da favela. O confronto na semana passada durou cerca de seis horas.
Um homem morreu baleado com um tiro de fuzil no peito: Luiz Henrique da Silva, 43. Seu corpo foi deixado em um Honda Civic roubado em frente ao Hospital Miguel Couto, na Gávea (zona sul). Seis ficaram feridos. Dois fugiram do hospital após receberem atendimento. A polícia investiga ainda a existência de outras nove mortes, que de acordo com moradores, ocorreram durante o conflito.
Segundo a polícia, Antônio Francisco Bonfim, o Nem, manteve o controle da venda de drogas na parte baixa do morro e assumiu algumas na parte alta. Ele se preparou para o ataque ao tomar conhecimento de uma reunião de traficantes, comandada por Inácio de Castro Silva, o Canelão, gerente do tráfico na parte alta do morro.
As obras na favela se limitam, até agora, à parte mais próxima da Estrada Lagoa-Barra. Serão investidos até a conclusão da obra R$ 180,2 milhões.
Em Manguinhos, dois homens foram esquartejados semana passada após irem armados a uma reunião de traficantes da favela, sob comando do CV, de acordo com informações da polícia.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que o conflito não tem relação com as obras, sendo "mais uma vez a ardorosa luta por pontos de venda de drogas". Para o secretário, a polícia só pode atuar em casos como esses com "cautela, critério e inteligência".
"A forma que nós utilizamos [para evitar confronto entre traficantes] é identificar e desarmar esses grupos. Isso não é uma solução definitiva. Fazemos isso para que essas ações violentas não se alastrem. Porque violência como um todo nós não vamos resolver. O que vai resolver a violência como um todo é o caminho do PAC, do Pronasci [Programa Nacional de Segurança com Cidadania], de um processo de geração de emprego e renda", afirmou Beltrame.
A secretaria de Obras não comentou os casos. Em visita à primeira frente de obras na Fazendinha, no Complexo do Alemão, o vice-governador e secretário de Obras, Luiz Fernando de Souza, o Pezão, afirmou que "os próprios moradores garantirão a segurança aos trabalhadores". "Não vejo a questão como um problema".


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