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VIOLÊNCIA
Conclusão faz parte de dossiê ainda não concluído do Departamento de Investigações sobre Narcóticos
SP tem 28 investigadores para 2.703 escolas
GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial
O tráfico de drogas está generalizado nas escolas públicas e privadas de São Paulo, comandado por
quadrilhas que operam dentro das
salas de aula.
Essa é a conclusão feita em dossiê, ainda em fase de preparação,
pelo Grupo de Apoio e Proteção à
Escola (Gape) do Departamento
de Investigações sobre Narcóticos
(Denarc). Ela está baseada em um
ano e dois meses de investigações,
quando foram visitadas 2.703 escolas de 1º e 2º graus e feitos 409
flagrantes e 582 prisões.
"O tráfico está disseminado nas
escolas e talvez seja o maior responsável pela violência crescente
entre os jovens", afirma a delegada
Elizabeth Sato, chefe do Gape.
Por outro lado, a polícia enfrenta a falta de investigadores -são
28 para as 2.703 escolas, sem contar as faculdades e cursos de línguas-, e a dificuldade para entrar
na rede do tráfico nas escolas.
Essa dificuldade deveria ser superada, segundo o Gape, pela infiltração -a ofensiva não é aceita
pela secretaria da Educação.
A polícia de São Paulo prepara
um plano de infiltração de agentes
nas salas de aulas, disfarçados de
alunos e professores, para combater o tráfico de drogas.
Até agora os policiais camuflados de estudantes se limitam às
calçadas. A tática é, porém, considerada insuficiente pelo Gape.
Avaliações internas do Gape, colhidas pela Folha, revelam que esses flagrantes significam uma parcela inexpressiva dos flagrantes
que seriam necessários para acuar
as quadrilhas.
Uma experiência já foi realizada
numa escola da periferia de Santo
Amaro. O professor, um agente
disfarçado, denunciou integrantes
de uma quadrilha que atuavam
dentro da escola. Em represália, a
gangue atacou, destruindo instalações e amedrontando ainda mais
professores e alunos.
Elizabeth afirma, no entanto,
que esse não é um fenômeno apenas das regiões mais pobres. Até
porque a classe média tem maior
poder aquisitivo. Cocaína e crack
são as drogas mais apreendidas.
O Gape recebe denúncias diárias
de professores acuados que, por
ousarem dar nomes de integrantes
das quadrilhas, são perseguidos.
Táticas de venda
Para a venda das drogas são usados os mais diversos truques. A
droga é vendida em embalagens
de doces, pipocas, dentro da salsicha do cachorro-quente.
Os policiais desconfiaram, por
exemplo, de um carrinho de cachorro-quente em frente a uma
escola chamada Bialik, no bairro
de Pinheiros. Desconfiança óbvia.
Os traficantes certamente não sabiam que o Bialik é frequentado
por judeus, em boa parte religiosos -e os judeus não comem carne de porco.
A polícia deu uma batida e constatou que aquele ponto atendia a
várias escolas da região.
A captação de consumidores é
feita dentro da escola, longe das
vistas de qualquer policial.
O problema é que o estudante viciado passa a ser traficante justamente para comprar drogas. A cada quatro papelotes de cocaína
vendidos, o intermediário, colocado na categoria de "micro-traficantes", ganha um grátis.
Violência
O tráfico e o consumo são encarados como um dos propulsores
da violência entre a juventude -
inclusive nas classes média e alta.
Uma avaliação da Associação
dos Comissários da Infância e da
Juventude de São Paulo (Acmesp)
estima que a violência juvenil, verificada pelas ocorrências policiais, cresceu mais de 70% nos últimos dois anos. De 97 para 96, os
flagrantes por tráfico de droga
contra jovens cresceram 37%.
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