São Paulo, segunda, 13 de abril de 1998

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VIOLÊNCIA
Conclusão faz parte de dossiê ainda não concluído do Departamento de Investigações sobre Narcóticos
SP tem 28 investigadores para 2.703 escolas

GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial

O tráfico de drogas está generalizado nas escolas públicas e privadas de São Paulo, comandado por quadrilhas que operam dentro das salas de aula.
Essa é a conclusão feita em dossiê, ainda em fase de preparação, pelo Grupo de Apoio e Proteção à Escola (Gape) do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc). Ela está baseada em um ano e dois meses de investigações, quando foram visitadas 2.703 escolas de 1º e 2º graus e feitos 409 flagrantes e 582 prisões.
"O tráfico está disseminado nas escolas e talvez seja o maior responsável pela violência crescente entre os jovens", afirma a delegada Elizabeth Sato, chefe do Gape.
Por outro lado, a polícia enfrenta a falta de investigadores -são 28 para as 2.703 escolas, sem contar as faculdades e cursos de línguas-, e a dificuldade para entrar na rede do tráfico nas escolas.
Essa dificuldade deveria ser superada, segundo o Gape, pela infiltração -a ofensiva não é aceita pela secretaria da Educação.
A polícia de São Paulo prepara um plano de infiltração de agentes nas salas de aulas, disfarçados de alunos e professores, para combater o tráfico de drogas.
Até agora os policiais camuflados de estudantes se limitam às calçadas. A tática é, porém, considerada insuficiente pelo Gape.
Avaliações internas do Gape, colhidas pela Folha, revelam que esses flagrantes significam uma parcela inexpressiva dos flagrantes que seriam necessários para acuar as quadrilhas.
Uma experiência já foi realizada numa escola da periferia de Santo Amaro. O professor, um agente disfarçado, denunciou integrantes de uma quadrilha que atuavam dentro da escola. Em represália, a gangue atacou, destruindo instalações e amedrontando ainda mais professores e alunos.
Elizabeth afirma, no entanto, que esse não é um fenômeno apenas das regiões mais pobres. Até porque a classe média tem maior poder aquisitivo. Cocaína e crack são as drogas mais apreendidas.
O Gape recebe denúncias diárias de professores acuados que, por ousarem dar nomes de integrantes das quadrilhas, são perseguidos.
Táticas de venda
Para a venda das drogas são usados os mais diversos truques. A droga é vendida em embalagens de doces, pipocas, dentro da salsicha do cachorro-quente.
Os policiais desconfiaram, por exemplo, de um carrinho de cachorro-quente em frente a uma escola chamada Bialik, no bairro de Pinheiros. Desconfiança óbvia. Os traficantes certamente não sabiam que o Bialik é frequentado por judeus, em boa parte religiosos -e os judeus não comem carne de porco.
A polícia deu uma batida e constatou que aquele ponto atendia a várias escolas da região.
A captação de consumidores é feita dentro da escola, longe das vistas de qualquer policial.
O problema é que o estudante viciado passa a ser traficante justamente para comprar drogas. A cada quatro papelotes de cocaína vendidos, o intermediário, colocado na categoria de "micro-traficantes", ganha um grátis.
Violência
O tráfico e o consumo são encarados como um dos propulsores da violência entre a juventude - inclusive nas classes média e alta.
Uma avaliação da Associação dos Comissários da Infância e da Juventude de São Paulo (Acmesp) estima que a violência juvenil, verificada pelas ocorrências policiais, cresceu mais de 70% nos últimos dois anos. De 97 para 96, os flagrantes por tráfico de droga contra jovens cresceram 37%.



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