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SAÚDE/PEDIATRIA
Má qualidade do sono afeta desenvolvimento infantil
Noites maldormidas podem influenciar memória e capacidade de aprendizado
Funções orgânicas têm de ser consolidadas porque o cérebro está em formação, com o aumento de terminações nervosas
ISABELA MENA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A qualidade do sono na infância, principalmente nos três
primeiros anos de vida da
criança, pode influenciar na
memória e na capacidade de
aprendizagem, especialmente
no período pré-escolar.
O sono nessa etapa tem relação direta com a consolidação
de funções orgânicas fundamentais. É a fase em que o cérebro, ainda em desenvolvimento, sofre aumento de nervos e
de suas redes de comunicação.
Durante o sono, ocorre ainda
a secreção de hormônios como
o cortisol, importante para a
maturação do sistema imunológico, e o GH, responsável pelo
crescimento. Noites maldormidas levam a um desarranjo geral das secreções hormonais.
Apesar de não haver estatísticas brasileiras a respeito, sabe-se que problemas neurológicos ou psicológicos correspondem a apenas uma pequena
parcela entre as causas de distúrbios do sono infantil.
Segundo a neuropediatra Rosana Cardoso Alves, da divisão
de neurologia do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de
São Paulo) e responsável pelo
serviço do Laboratório do Sono
do Fleury Medicina e Saúde, as
desordens do sono com aumento de movimentação, sonolência ou insônia são reconhecíveis pelo pediatra, que
pode conduzir a maior parte
dos casos.
A indicação do exame de polissonografia e de tratamentos
específicos é ocasional. "O pediatra vai investigar o histórico
da criança para entender o que
a família chama de insônia.
Também é pedido para que os
pais escrevam um "diário de sono", para avaliar questões da dinâmica familiar. Há famílias
sem rotina nenhuma."
A maioria das crianças que
dorme mal o faz em função de
maus hábitos, aprendidos em
casa e ensinados pelos pais.
"Problemas biológicos do sistema nervoso são raros. O mais
comum é a criança associar o
sono a fatores ligados ao despertar, como mamadas, presença da mãe, colo do pai e então perpetuar essas despertadas durante a noite", diz o pediatra Gustavo Moreira, do Instituto do Sono da Unifesp (Universidade Federal de SP).
O pediatra relata ainda que
muitos pais têm dificuldade em
readeqüar os hábitos e, com
medo de fazer o filho sofrer, cedem ao choro. "Eles acham que
o médico é muito militar", diz.
O sono debilitado da criança
têm impacto direto na vida dos
pais, segundo estudo realizado
no Royal Children's Hospital e
na Universidade de Melbourne
(Austrália), publicado neste
mês. Entre dez mil famílias
com filhos pequenos e em fase
pré-escolar pesquisadas, 17%
das crianças têm problemas para dormir -e seus pais, por
conseqüência, também apresentam problemas de saúde.
Ansiedade
Também é preciso atenção a
questões emocionais. Crianças
muito agitadas e ansiosas podem dormir mal por não conseguirem organizar no sono as situações vividas durante o dia.
Já crianças mais quietas e fóbicas podem ter medo de ficar
sozinhas e ter pesadelos. "Os
pais devem conversar sobre os
pesadelos. Ao quebrar a barreira do "falar", o medo também é
quebrado", diz a psicanalista
Miriam Debieux Rosa, professora da USP e da PUC (Pontifícia Universidade Católica).
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