São Paulo, domingo, 13 de maio de 2007

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SAÚDE/PEDIATRIA

Má qualidade do sono afeta desenvolvimento infantil

Noites maldormidas podem influenciar memória e capacidade de aprendizado

Funções orgânicas têm de ser consolidadas porque o cérebro está em formação, com o aumento de terminações nervosas

ISABELA MENA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A qualidade do sono na infância, principalmente nos três primeiros anos de vida da criança, pode influenciar na memória e na capacidade de aprendizagem, especialmente no período pré-escolar.
O sono nessa etapa tem relação direta com a consolidação de funções orgânicas fundamentais. É a fase em que o cérebro, ainda em desenvolvimento, sofre aumento de nervos e de suas redes de comunicação.
Durante o sono, ocorre ainda a secreção de hormônios como o cortisol, importante para a maturação do sistema imunológico, e o GH, responsável pelo crescimento. Noites maldormidas levam a um desarranjo geral das secreções hormonais.
Apesar de não haver estatísticas brasileiras a respeito, sabe-se que problemas neurológicos ou psicológicos correspondem a apenas uma pequena parcela entre as causas de distúrbios do sono infantil.
Segundo a neuropediatra Rosana Cardoso Alves, da divisão de neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e responsável pelo serviço do Laboratório do Sono do Fleury Medicina e Saúde, as desordens do sono com aumento de movimentação, sonolência ou insônia são reconhecíveis pelo pediatra, que pode conduzir a maior parte dos casos.
A indicação do exame de polissonografia e de tratamentos específicos é ocasional. "O pediatra vai investigar o histórico da criança para entender o que a família chama de insônia. Também é pedido para que os pais escrevam um "diário de sono", para avaliar questões da dinâmica familiar. Há famílias sem rotina nenhuma."
A maioria das crianças que dorme mal o faz em função de maus hábitos, aprendidos em casa e ensinados pelos pais.
"Problemas biológicos do sistema nervoso são raros. O mais comum é a criança associar o sono a fatores ligados ao despertar, como mamadas, presença da mãe, colo do pai e então perpetuar essas despertadas durante a noite", diz o pediatra Gustavo Moreira, do Instituto do Sono da Unifesp (Universidade Federal de SP).
O pediatra relata ainda que muitos pais têm dificuldade em readeqüar os hábitos e, com medo de fazer o filho sofrer, cedem ao choro. "Eles acham que o médico é muito militar", diz.
O sono debilitado da criança têm impacto direto na vida dos pais, segundo estudo realizado no Royal Children's Hospital e na Universidade de Melbourne (Austrália), publicado neste mês. Entre dez mil famílias com filhos pequenos e em fase pré-escolar pesquisadas, 17% das crianças têm problemas para dormir -e seus pais, por conseqüência, também apresentam problemas de saúde.

Ansiedade
Também é preciso atenção a questões emocionais. Crianças muito agitadas e ansiosas podem dormir mal por não conseguirem organizar no sono as situações vividas durante o dia.
Já crianças mais quietas e fóbicas podem ter medo de ficar sozinhas e ter pesadelos. "Os pais devem conversar sobre os pesadelos. Ao quebrar a barreira do "falar", o medo também é quebrado", diz a psicanalista Miriam Debieux Rosa, professora da USP e da PUC (Pontifícia Universidade Católica).


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