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São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2003

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BARBARA GANCIA

Londres não é para o nosso bico

Volto de Londres e constato que isto aqui virou uma grande Argentina. Você já reparou, meu caro leitor, como o pessoal agora deu para se interessar por golfe e por pólo equestre, dois dos esportes que os argentinos mais adoram?
Basta abrir uma revista qualquer para dar de fuça com um sem-número de reportagens sobre campeonatos de pólo, condomínios com inspiração no chamado "jogo dos reis" e editoriais de moda para quem joga ou vê pólo.
Daí, você vai ao shopping e a vitrine da loja de esportes só oferece apetrechos para quem joga golfe. O que deu na turma? O desemprego atinge 2,6 milhões de pessoas e só faz crescer, e o comércio registrou queda pelo quinto mês seguido. Das duas, uma: enlouquecemos de vez ou estamos vivendo na Argentina.
Pois até eu não fui passar minhas férias em Londres, a cidade dos sonhos de todo argentino? Dizem que, na Inglaterra, de tão breve, o verão cai numa quinta-feira. Tomara que neste ano São Pedro colabore, já que um dos eventos mais aguardados para o verão londrino será a exposição de Oscar Niemeyer, na Serpentine Gallery do Hyde Park. Todo ano a galeria convida um arquiteto famoso que nunca tenha trabalhado na Grã-Bretanha para mostrar a sua obra. O nosso Niemeyer é a bola da vez e os livros a seu respeito já são exibidos com destaque nas livrarias, antes mesmo do início da exposição.
Na Linley, a loja de artigos em madeira que pertence ao visconde Linley, sobrinho da rainha Elizabeth, um porta-jóias em formato de igreja custa 17 mil libras esterlinas, cerca de US$ 30 mil. Quantos cavalos de pólo são necessários para comprar uma caixinha de madeira feita pelo sobrinho carpinteiro da rainha?
O Fome Zero arrecadou em seis meses perto da mesma quantia que um evento beneficente para crianças carentes conseguiu juntar em uma só noite, na semana passada, em Mayfair. Estavam lá o fotógrafo peruano Mario Testino, que acaba de clicar o príncipe William, e o ator Hugh Grant, que mais parece um anão de circo que acabou de tomar um chega-para-lá do leão.
Nas festas em prol das causas nobres, o Primeiro Mundo encontra uma maneira de aliviar a consciência. Pense comigo: em vez de fazer tanta caridade, por que a Comunidade Européia não acaba de vez com os subsídios para a sua agricultura? Não são esses subsídios que, além de gerar desperdício, só fazem promover a miséria no Terceiro Mundo?


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