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BARBARA GANCIA
Londres não é para o nosso bico
Volto de Londres e constato que isto aqui virou uma
grande Argentina. Você já reparou, meu caro leitor, como o pessoal agora deu para se interessar
por golfe e por pólo equestre, dois
dos esportes que os argentinos
mais adoram?
Basta abrir uma revista qualquer para dar de fuça com um
sem-número de reportagens sobre
campeonatos de pólo, condomínios com inspiração no chamado
"jogo dos reis" e editoriais de moda para quem joga ou vê pólo.
Daí, você vai ao shopping e a vitrine da loja de esportes só oferece
apetrechos para quem joga golfe.
O que deu na turma? O desemprego atinge 2,6 milhões de pessoas e só faz crescer, e o comércio
registrou queda pelo quinto mês
seguido. Das duas, uma: enlouquecemos de vez ou estamos vivendo na Argentina.
Pois até eu não fui passar minhas férias em Londres, a cidade
dos sonhos de todo argentino? Dizem que, na Inglaterra, de tão
breve, o verão cai numa quinta-feira. Tomara que neste ano São
Pedro colabore, já que um dos
eventos mais aguardados para o
verão londrino será a exposição
de Oscar Niemeyer, na Serpentine
Gallery do Hyde Park. Todo ano a
galeria convida um arquiteto famoso que nunca tenha trabalhado na Grã-Bretanha para mostrar a sua obra. O nosso Niemeyer
é a bola da vez e os livros a seu
respeito já são exibidos com destaque nas livrarias, antes mesmo
do início da exposição.
Na Linley, a loja de artigos em
madeira que pertence ao visconde
Linley, sobrinho da rainha Elizabeth, um porta-jóias em formato
de igreja custa 17 mil libras esterlinas, cerca de US$ 30 mil. Quantos cavalos de pólo são necessários
para comprar uma caixinha de
madeira feita pelo sobrinho carpinteiro da rainha?
O Fome Zero arrecadou em seis
meses perto da mesma quantia
que um evento beneficente para
crianças carentes conseguiu juntar em uma só noite, na semana
passada, em Mayfair. Estavam lá
o fotógrafo peruano Mario Testino, que acaba de clicar o príncipe
William, e o ator Hugh Grant,
que mais parece um anão de circo
que acabou de tomar um chega-para-lá do leão.
Nas festas em prol das causas
nobres, o Primeiro Mundo encontra uma maneira de aliviar a
consciência. Pense comigo: em
vez de fazer tanta caridade, por
que a Comunidade Européia não
acaba de vez com os subsídios para a sua agricultura? Não são esses subsídios que, além de gerar
desperdício, só fazem promover a
miséria no Terceiro Mundo?
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