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MENOR INFRATOR
Internos relatam supostas sessões de afogamento e golpes em articulações com o fim de não deixar marca
Febem "recicla" métodos de tortura, diz Promotoria
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Depoimentos de internos da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) e de mães, feitos à Promotoria da Infância e Juventude nos últimos 30 dias, apontam suposta prática de sessões de
tortura por afogamento em unidades da fundação.
A nova prática faria parte do
que os promotores chamam de
"reciclagem" de métodos de tortura, com o objetivo de evitar
marcas que comprovem eventuais agressões.
Além de supostos afogamentos,
internos também estariam sendo
alvo de golpes nas articulações,
principalmente nos cotovelos e
nos joelhos.
"Alguns funcionários têm uma
criatividade muito grande para
evitar hematomas que possam
identificar o espancamento. A
gente começa a pegar um método
e eles vêm com outro", afirmou a
promotora Sueli Barrios.
As supostas novas práticas formam uma longa lista de métodos
para evitar marcas que já foram
investigados. Entre eles, o uso das
chaves das celas para torcer dedos
e a utilização de panos para envolver cassetetes e correntes. Segundo promotores e entidades de direitos humanos, também seriam
comuns os banhos gelados para
amenizar hematomas.
A suposta preocupação em evitar marcas seria, segundo a Promotoria, motivada por denúncias
feitas nos últimos anos. Desde
2001, há sete processos em andamento na Justiça, nos quais 98
agentes e ex-funcionários são
acusados de tortura. Desse grupo,
14 pessoas que pertenciam à extinta unidade de Parelheiros tiveram a prisão preventiva decretada
por tortura e formação de quadrilha. Três estão na cadeia, e as demais, foragidas.
Por quatro vezes desde 1999,
promotores, juízes e representantes de entidades encontraram em
unidades da Febem grande quantidade de objetos que supostamente seriam usados para torturar internos.
No inquérito aberto para investigar sessões de afogamento já foram ouvidos pelo menos dez internos das unidades 30 e 31 da Febem de Franco da Rocha, na
Grande São Paulo. Novos relatos
foram colhidos na visita feita por
OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil), associação de mães e
Anistia Internacional na unidade
30, na semana passada.
Em todos os depoimentos, a
mesma versão: um grupo de 20 a
30 funcionários entraria na cela,
colocaria todos os internos de joelhos e escolheria um para começar a sessão de tortura. Os supostos afogamentos ocorreriam na
pia da cela ou em grandes caixotes
de plástico usados para transportar as marmitas.
"No final, os funcionários ainda
dizem que a gente não vai poder
fazer nada porque afogamento
não deixa marcas", narrou o interno G., 18. "Não adianta nem
pedir exame de corpo de delito
para esses casos. Mas depoimentos iguais, com mesmos detalhes,
são uma prova forte", disse o promotor Enilson Komono.
Em relação às lesões nos cotovelos e joelhos, laudos feitos pela Secretaria Estadual da Saúde na unidade 30, no mês passado, confirmariam essa prática, segundo o
promotor Wilson Tafner.
Dos 42 internos que apresentaram lesões, 14 tinham ferimentos
nos cotovelos e joelhos. "São regiões que doem muito, incham,
mas não deixam hematomas que
indiquem claramente que houve
espancamento", afirmou Tafner.
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