São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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AMBIENTE

Em temporada de seca e de balões, o maior parque urbano do mundo, no Rio de Janeiro, fica vulnerável ao fogo

Parque da Pedra Branca perde grupo contra incêndio

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Às vésperas do início da temporada dos balões e do período mais seco do ano, o IEF (Instituto Estadual de Florestas), órgão vinculado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente, retirou do Parque Estadual da Pedra Branca, no Rio, seu grupamento de prevenção e combate a incêndios.
O Pedra Branca, que completa 30 anos no final deste mês, tem 12,5 mil hectares. É o maior parque florestal urbano do mundo. Fica na zona oeste do Rio e tem como destaques a vegetação exuberante e a maior montanha do município, o pico da Pedra Branca, com 1.024 m de altitude.
O parque é área de risco para incêndios. Só de junho a outubro do ano passado foram 73 as incidências registradas pelo Corpo de Bombeiros. No mesmo período de 2002, houve 45 incêndios.
O crescimento do número de incêndios na reserva não impediu a transferência do Nupif (Núcleo de Prevenção de Incêndios Florestais), que funcionava no parque, para o Parque Estadual do Grajaú (zona norte), há dois meses. Trabalhavam no núcleo um major e três sargentos cedidos ao IEF pelo Corpo de Bombeiros.
Eles realizavam trabalhos de prevenção e conscientização, orientando moradores da área.
Os pastos e plantações de banana avançam sobre a floresta. Já há 30 favelas e cinco condomínios de luxo que entraram no parque porque não há fiscalização.
Os caçadores circulam sem problemas. Entram por trilhas acessíveis a qualquer um, pois não há cercas e guaritas nos limites do parque, onde eles encontram aves raras, como o tucano-de-bico-preto e o papagainho, e mamíferos em extinção no município.
A partir deste mês e até o fim de agosto, o parque estará ameaçado pelos balões. O hábito de soltar balões é arraigado nas imediações do Pedra Branca.
O quadro se agrava porque os meses do inverno e da primavera costumam ser os mais secos do ano. Essa característica climática propicia os incêndios florestais. No caso do Pedra Branca, há ainda mais dois fatores de risco: as queimadas na mata para a instalação de lavouras e pastos e o costume local de atear fogo ao lixo.
Flagrado pela Folha a cerca de 300 m de altitude, na encosta onde derrubou a vegetação para plantar aipim e banana, o lavrador Celino Francisco do Carmo, 63, disse que há pelo menos três anos não vê fiscal no parque.
Para ele, não é errado arrancar árvores para plantar. Com a venda dos produtos que cultiva, diz que criou quatro filhos, já adultos. Segundo Carmo, o terreno que explora, de cinco hectares, foi arrendado de um vizinho.
Na área de Jacarepaguá, Grumari e Guaratiba (bairros na zona oeste), florestas entre os 100 m e os 500 m de altitude estão virando bananais e pastos. No vale do Calharis, a cerca de 2 km da administração do parque, três moradores transformaram o mato em pasto.

Outro lado
A diretora do Pedra Branca, Neila Cortes, disse que é temporária a transferência do grupamento de incêndio para o Parque Estadual do Grajaú.
De acordo com ela, a transferência foi a forma encontrada pelo IEF para ocupar a sede do Grajaú, que havia sido devolvida ao Estado pela prefeitura.
O Parque Estadual do Grajaú tem uma área de 55 hectares. O da Pedra Branca é 226 vezes maior.
A diretora reconhece que falta pessoal na administração do Pedra Branca. Para Cortes, deveria haver no parque um mínimo de dez guardas. Hoje, são cinco.
O aumento do efetivo do parque está sendo analisado pelo IEF, a partir de proposta que prevê a contratação de seis técnicos.


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