São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice Caça-níquel paga até 118% das apostas, diz laudo policial

Peritos atestam que, em algumas máquinas, o apostador sempre sai vencedor

Corregedoria investiga se documentos foram usados para favorecer empresas defendidas por advogado suspeito de subornar policiais
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O IC (Instituto de Criminalística) de São Paulo, órgão vinculado à Polícia Civil responsável por investigar os caça-níqueis apreendidos ou lacrados em todo o Estado, emitiu em setembro e outubro de 2006 laudos periciais nos quais afirma que as máquinas pagam até 118,3% das apostas feitas. Isso significa que, em todas as realizadas em alguns aparelhos, o apostador sai vencedor.
Todos os caça-níqueis investigados pelos peritos estavam em bingos da capital e faziam parte de quatro inquéritos do Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado) sobre crimes de sonegação fiscal, crime contra a economia popular e jogo de azar. Nenhum foi concluído.
Ao todo, os peritos analisaram nos quatro bingos investigados, por amostragem, 55 máquinas. Dessas, a que menos retornava aos jogadores, segundo a perícia, estava no Bingo Formosa e pagava 78,7%.
Todas as outras 54 retornavam aos jogadores mais do que esse índice, sendo que outra, também do Formosa, pagava 118,3% das apostas feitas.
Os quatro laudos obtidos pela Folha foram feitos pelos peritos criminais Jonas Eboli Machado e Adriano Issamu Yonamine. Três deles têm a assinatura de Paulo Roberto Bonjorno, diretor do núcleo de patrimônio do IC.

Concorrida
Um desses quatro laudos periciais analisou 20 caça-níqueis fabricados pela Reel Token, a mesma empresa defendida juridicamente pelo advogado Jamil Chokr, 34, suspeito de operar um esquema de pagamentos de propinas para policiais civis de São Paulo.
A Corregedoria da polícia quer saber se esses laudos foram usados para favorecer empresas defendidas por Chokr.
O laudo assinado pelos peritos Bonjorno, Yonamine e Machado apontou que as 20 máquinas da Reel Token, pagavam, no mínimo, 80,75% das apostas e, no máximo, 102,84%.
No dia 25 de maio, Chokr bateu seu Vectra blindado em um ônibus. No carro, PMs encontraram R$ 38 mil em dinheiro e peças de caça-níqueis. Parte do dinheiro estava em envelopes e, neles, números e, na seqüência, as letras D e P, o que levou os PMs a desconfiar que poderiam ser abreviações de distrito policial ou delegacia de polícia. O caso acabou na Corregedoria da Polícia Civil.
O secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, informou desconhecer qualquer tipo de relação entre os três profissionais do IC e o advogado Chokr. Mas o cruzamento de ligações do celular de Chokr apontou números que podem ligá-lo ao diretor do IC Bonjorno e ao seu filho, Fábio, fotógrafo policial que trabalha no Deic.
Grampos da Polícia Federal revelaram que o empresário Raimundo Romano, dono de uma das seis montadoras de caça-níqueis investigadas na Operação Xeque-Mate e considerado foragido hoje, demonstrou preocupação quando soube que Chokr passou a ser investigado pela polícia paulista.



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