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Procurador poderá barrar investigações
Promotores de SP que combatem crime organizado terão de pedir autorização do procurador-geral para abrir investigação
Para promotores, que pediram anonimato, medida é inconstitucional por ferir a independência funcional do cargo
ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio a uma série de suspeitas de corrupção envolvendo membros da polícia estadual, o procurador-geral de
Justiça de São Paulo, Fernando
Grella Vieira, publicou norma
pela qual assume poderes para
barrar ou não o início de investigações do Gaeco (Grupo de
Atuação Especial de Repressão
ao Crime Organizado).
O Ato Normativo nº 539, que
estabelece o "Plano Geral de
Atuação do Ministério Público"
para 2008, publicado no dia 7,
prevê que todas as investigações do Gaeco precisam de "autorização expressa" do procurador-geral para serem feitas.
"Respeitados os princípios
da oportunidade e conveniência e após autorização expressa
da PGJ [Procuradoria Geral de
Justiça], os integrantes do Gaeco poderão atuar em procedimentos de qualquer natureza
que apurem infrações cometidas por organizações criminosas", diz trecho do documento.
O Conselho Nacional do Ministério Público não quis comentar o ato porque poderá ter
de analisá-lo, caso receba alguma representação contra ele
-qualquer pessoa pode fazer
isso, segundo o órgão, até mesmo sem se identificar.
Para promotores ouvidos pela Folha, que falaram sob a
condição de anonimato, a determinação é inconstitucional
porque fere o princípio da independência funcional: o promotor pode apurar tudo aquilo
que considerar ilegal sem a necessidade de autorização. Essa
é a primeira vez que uma norma dessa natureza é publicada.
O Gaeco foi criado em 1995.
Os promotores dizem ver a
norma como um "cabresto" no
trabalho do Ministério Público
e que tende a dificultar eventuais investigações que possam
causar embaraços ao governo
paulista. Pelo menos um admite fazer apurações "clandestinas", sem comunicar à cúpula
da instituição, para não sofrer
eventual ingerência.
O procurador-geral é nomeado pelo governador, escolhido
de uma lista tríplice. Essa lista
é formada pelos três promotores mais bem votados na eleição interna da categoria. É praxe o governador apontar o mais
bem votado, como Grella.
O Gaeco, que no interior é
chamado de Gaerco (de regional), tem como principal missão investigar organizações criminosas, como aquela que agia
na Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito) de Ferraz
de Vasconcelos (Grande SP).
A chamada Operação Carta
Branca, que ocorreu quatro
dias antes de a normativa ser
anunciada, foi liderada pelo
Gaerco de Guarulhos e resultou na denúncia à Justiça de 23
suspeitos de integrar uma quadrilha especializada na venda
ilegal de CNHs (carteiras de
habilitação). Entre os suspeitos, dois delegados.
Grella diz que o documento é
uma diretriz" aos promotores
do Gaeco e que a intenção é evitar o "alijamento" do promotor
natural (leia texto ao lado).
A direção da Associação Paulista do Ministério Público
também foi procurada, mas
ninguém falou com a Folha. O
procurador-geral é o 1º vice-presidente da instituição.
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