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Com o trânsito deteriorado, presidente da CET deixa cargo
Kassab tira Roberto Scaringella para evitar desgaste; nota diz que ele saiu "a pedido"
Alexandre de Moraes, secretário dos Transportes, acumulará a função; Scaringella foi o primeiro presidente da CET, em 1976
ALENCAR IZIDORO
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O principal responsável pela
gestão do trânsito de São Paulo,
Roberto Scaringella, deixou ontem a presidência da CET
(Companhia de Engenharia de
Tráfego), às vésperas do início
da campanha eleitoral na qual o
prefeito Gilberto Kassab
(DEM) tentará a reeleição.
A saída de Scaringella, que
estava no cargo desde o começo
de 2005, foi motivada pelo desgaste político do governo devido à deterioração do trânsito na
cidade, principal calcanhar-de-aquiles da gestão Kassab.
Em nota oficial, a prefeitura
informou apenas que Scaringella deixou a função "a pedido".
Auxiliares de Kassab e pessoas
da cúpula da Secretaria de
Transportes, no entanto, disseram à Folha que, embora o
presidente da CET também estivesse insatisfeito no cargo, a
demissão foi decidida pelo prefeito, preocupado com o desgaste do setor neste ano.
Na nota, a prefeitura informou que ele continuará no
Conselho de Administração da
CET. Ele não terá função executiva e deixa de interferir na
política de trânsito.
O secretário de Transportes,
Alexandre de Moraes, acumulará a função de presidente da
CET. Moraes é um dos auxiliares mais próximos de Kassab.
Advogado, atuou como promotor e é a primeira vez que trabalha na área de trânsito e transportes. Ele também acumula a
presidência da SPTrans (empresa que gerencia o transporte coletivo).
Scaringella foi o primeiro
presidente da CET, criada em
1976 na gestão de Olavo Setúbal. Voltou ao cargo no governo
Jânio Quadros (1986 e 1987).
Estava na função pela terceira
vez desde 2005, nomeado pelo
então prefeito e atual governador, José Serra (PSDB).
Scaringella foi um dos primeiros defensores, ainda nos
anos 90, da implantação de pedágio urbano para combater os
congestionamentos. Mas, como presidente da CET, evitava
manifestar essa posição. Kassab se diz contra a medida.
São Paulo vive uma crise no
trânsito que deve dominar os
debates eleitorais. Neste ano,
os índices de lentidão quebraram seguidos recordes.
A velocidade média dos carros na hora de pico da manhã
despencou 23% nos últimos
três anos: de 35 km/h em 2005
para 27 km/h no ano passado.
Em janeiro deste ano, época
de férias, foi de 32 km/h e nos
dois meses seguintes se limitou
a 25 km/h. No período da tarde, a velocidade, que era de 22
km/h em 2007, não passou de
18 km/h em fevereiro.
A prefeitura chegou a anunciar dois pacotes de intervenção no trânsito. O primeiro,
com obras em corredores de
ônibus, proibição de estacionamento em várias ruas e divulgação de rotas alternativas,
ainda não surtiu efeito.
O segundo previa maior restrição ao tráfego de caminhões,
mas ainda não saiu do papel
-está previsto para começar
no final do mês.
Scaringella foi contatado ontem pela Folha no começo da
noite. Aparentando irritação,
disse que estava em uma reunião e que não poderia falar.
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