São Paulo, sábado, 13 de junho de 2009

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Destroços do Airbus não têm sinais de fogo

Para especialistas, o estado das peças e dos corpos já encontrados fortalece a hipótese de que não houve explosão no ar

Situação reforça suspeita de que as falhas que levaram à queda devem ter ocorrido de forma muito rápida; mais 6 cadáveres são resgatados

DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE DA REPORTAGEM LOCAL

Os primeiros destroços do Airbus-A330 da Air France recolhidos no mar não contêm sinais de chamuscamento ou de ação de fogo. As 37 peças, resgatadas e apresentadas ontem em Recife, estão dilaceradas, em pedaços de no máximo 3 metros de comprimento.
O avião, com 228 pessoas a bordo, caiu no oceano Atlântico na noite de 31 de maio, quando operava um voo entre o Rio e Paris. Ontem foram recolhidos mais seis corpos, o que eleva a 50 o total já resgatado.
Segundo especialistas, a condição do material apresentado, aliada ao estado dos corpos já encontrados -com sinais de fraturas e nenhum deles carbonizado-, fortalece a tese de que não houve explosão no ar, pelo menos em parte do avião.
As bordas dos destroços não são uniformes. Aparentam pedaços de papelão rasgados com as mãos. Entre as peças, destacam-se duas poltronas usadas por comissários de bordo.
Os assentos estão desarmados, encostados a um resto de parede branca ainda intacto. Os cintos de segurança, com fivelas vermelhas, estão abertos e recolhidos, como se não tivessem sido usados no voo.
A situação reforça a suspeita de que os problemas que levaram à queda do Airbus devem ter ocorrido de forma muito rápida, sem tempo até mesmo para que a tripulação buscasse se proteger. Os pilotos também não deram nenhum aviso por rádio ao centro de controle.
Todas as peças de plástico encontradas, incluindo lonas e um pequeno pacote amarelo, permanecem intactas, sem deformações, indicando que não houve incêndio no local onde elas estavam guardadas.
A Aeronáutica, que apresentou os destroços, não fez comentários sobre os objetos recolhidos no oceano nem suposições sobre as condições em que foram encontrados os assentos dos comissários.
A avaliação unânime de oito especialistas ouvidos pela Folha é que as 37 peças e os 50 corpos resgatados ainda representam muito pouco para levar a conclusões sobre o acidente.
Parte deles, porém, avalia haver indícios de que a aeronave se despedaçou. Alguns veem semelhança com a queda do Boeing da Gol, em 2006, que se desintegrou no ar após colidir com um jato Legacy -foram achados destroços na mata num raio de até 20 quilômetros de distância uns dos outros.
"Se tivesse batido inteiro [no mar], com certeza o cone de cauda, o estabilizador vertical e horizontal estariam íntegros", afirma Roberto Peterka, ex-investigador de acidentes aéreos, lembrando que o estabilizador vertical do Airbus foi achado separado das outras partes.
De acordo com a Aeronáutica, ainda não é possível confirmar o local exato da queda do avião. Segundo o diretor do Departamento de Controle do Espaço Aéreo da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Ramon Borges Cardoso, há uma "provável área" do acidente, num raio de 70 quilômetros do ponto onde a aeronave emitiu o último sinal eletrônico. Essa área dista 850 km de Fernando de Noronha, ainda em águas brasileiras.
O oficial diz que também não há como afirmar se o avião da Air France caiu inteiro no mar ou se despedaçou no ar. Segundo ele, as buscas podem ser prorrogadas até o dia 25, e não ser encerradas no dia 19, conforme previsão anterior.
A responsabilidade pela investigação do acidente é da França. O tenente-brigadeiro disse não haver data para entregar as peças ao governo francês. Um perito da França chegará a Recife no domingo para analisar os destroços.
No mesmo dia, novas peças resgatadas no mar, entre elas um grande pedaço que aparenta ser a parte traseira do avião, chegarão ao continente, a bordo da fragata Constituição.
(FÁBIO GUIBU, MATHEUS MAGENTA, ALENCAR IZIDORO, RICARDO SANGIOVANNI e ROGÉRIO PAGNAN)


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