São Paulo, sábado, 13 de julho de 2002

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SAÚDE

Duas unidades foram inauguradas na gestão de Anthony Garotinho sem equipamentos cirúrgicos e centro obstétrico

No Rio, precariedade marca hospitais novos

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

Dois dos três hospitais inaugurados por Anthony Garotinho (PSB) às vésperas de deixar o governo do Rio estão funcionando como postos de saúde, sem centros cirúrgico e obstétrico.
Pessoas em estado grave que necessitam de cirurgia e mulheres grávidas que vão aos hospitais têm de ser transferidas.
O caso mais grave é o do Hospital Geral Alberto Torres, em São Gonçalo (a 25 km da capital). Lá, além de os centros cirúrgico e obstétrico estarem fechados desde a inauguração -em 8 de março-, 264 funcionários, entre médicos, enfermeiros e auxiliares administrativos foram demitidos.
As demissões, que ocorreram no último dia 5, foram justificadas como "corte de despesas" pela direção do hospital, segundo um dos dispensados.
O critério de escolha dos demitidos não foi informado, de acordo com o funcionário, que, na esperança de ser reintegrado, não quis se identificar.
Os 536 funcionários que escaparam, até agora, da demissão só não estão sobrecarregados porque apenas 30% do hospital funciona -o que corresponde às alas de emergência, ao ambulatório, à clínica médica e a um CTI (Centro de Tratamento Intensivo) improvisado.
Os centros cirúrgico e obstétrico, que têm as portas trancadas, nunca funcionaram. O motivo: falta de equipamentos básicos, como respirador, monitor e mesa cirúrgica.
No Hospital Prefeito João Baptista Cáffaro, em Itaboraí (a 45 km do Rio), o CTI não está funcionando. O diretor administrativo da unidade, Aílton Vieira, informou que o setor, assim como os centros obstétrico e cirúrgico, está em obras desde a inauguração, em dezembro de 2001.
O setor de emergência também opera de forma precária, sem equipamentos básicos. Dos cem leitos, 38 estão disponíveis.
No Hospital Geral de Araruama, na região dos lagos, planejado para ser uma unidade de referência na região, nenhum dos cem leitos está pronto.
De acordo com o secretário estadual de Saúde, Leôncio Feitosa, as três unidades "foram inauguradas em situação de engodo para a população". "Foram inaugurações virtuais. Só os prédios estavam prontos", disse.
O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, concorda.
"Esses hospitais não tinham a menor condição de funcionar quando foram inaugurados. As condições em que estão atendendo põem em risco a vida da população. Uma pessoa em estado grave que procurar o hospital e não puder ser atendida pode morrer, pois a demora no atendimento, em casos assim, pode levar à morte", afirmou Darze.

Demissões
Feitosa afirmou que a demissão de cerca de 30% do pessoal do hospital de São Gonçalo foi necessária para adequar o quadro de funcionários ao serviço oferecido. Ele disse que também haverá dispensas nas unidades de Itaboraí e Araruama. Os cortes são possíveis porque os funcionários não prestaram concurso e foram contrados em regime de urgência.
"Não faz sentido termos médicos que não podem trabalhar. Como vou manter um cirurgião torácico, por exemplo, se não há a menor condição de fazer cirurgias desse tipo nesses hospitais?"
O secretário afirmou que, à medida que os hospitais forem se equipando e abrindo os setores hoje fechados, os empregados serão reconvocados. Feitosa estimou entre seis e oito meses o prazo para que as três unidades estejam funcionando plenamente.



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