UOL


São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

Texto Anterior | Índice

VIDA RELIGIOSA

Para pesquisador, comunidades rurais, que forneciam grande número de noviças, foram afetadas pela urbanização

Número de candidatas a freira cai 71% em 40 anos

DO "AGORA"

Houve um tempo em que a vida religiosa se apresentava como única opção ao casamento na vida das moças brasileiras. Aquele tempo já passou e o que a Conferência dos Religiosos do Brasil viu surgir em seu lugar é a queda em 71% do número de candidatas à vida religiosa nos últimos 40 anos.
O Brasil tem 1.558 noviças, moças que em breve estarão fazendo os votos de obediência, pobreza e castidade, colocando-se a partir daí à disposição da Igreja Católica. Em 1970, o noviciado brasileiro contava com 1.450 jovens. O número aponta cada vez menos vocações, já que, no mesmo período, a população feminina no país praticamente dobrou.
Atualmente, as religiosas formam uma comunidade de 35.732 irmãs, cuja idade média está na casa dos 60 anos. Esse, aliás, é outro dado que atesta a falta de vocações nas últimas décadas. "Nos últimos anos, principalmente, as jovens têm se mostrado inseguras para assumir um compromisso", diz a irmã Lídia, que há 58 anos faz parte da congregação das Monjas Beneditinas do Mosteiro de Santa Maria.
Quem assume, entrega-se a regras rígidas. As irmãs beneditinas vivem uma vida contemplativa, em clausura. Seus dias são preenchidos por orações e trabalhos domésticos. Saídas do convento, só com autorização e em situações especiais.
Para Fernando Altemeyer Júnior, professor do departamento de ciências da religião da PUC-SP, a queda no número de religiosas está também relacionada à modernização da sociedade. "A urbanização pôs em xeque um grande celeiro de vocações, que eram as comunidades rurais", diz.
Ainda que faltem vocações, o processo de seleção para a vida religiosa é bastante rigoroso. Antigamente, as moças eram enviadas para conventos por influência da família por volta dos 12 anos, e lá ficavam, sem muito questionar. A noviça de agora precisa ter o 2º grau completo e já ter completado os 18 anos.
Além disso, fala mais alto a intenção. "Nós temos um grande cuidado em avaliar se a vontade da moça em ingressar na vida religiosa se trata de uma vocação ou apenas uma tentativa de fuga, por conta de uma decepção, seja familiar ou amorosa", diz a irmã Mari, da congregação das Irmãs de Santo André, no bairro Pompéia.
As irmãs dessa congregação -fundada na Bélgica, em 1231- aboliram o hábito há mais de 30 anos e, diferentemente das irmãs beneditinas, têm uma vida bastante ativa na sociedade, desenvolvendo trabalhos junto a comunidades carentes. "Incentivamos que as irmãs continuem os estudos e façam faculdade", explica a irmã Mari.
Com as monjas beneditinas é diferente. Elas trocam até de nome e cortam todo o contato com o mundo exterior. "Nos dedicamos a uma vida de oração e recolhimento", diz a irmã Lídia, que antes de ser freira se chamava Maria Bernadete. "Ser freira não é uma tarefa fácil. A rotina é dura, exige dedicação e obediência. Só consegue quem realmente quer."



Texto Anterior: Gilberto Dimenstein: Silvio Santos escreve a novela "Celebração"
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.