São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2006

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PM e a irmã foram assassinados em casa

O soldado Odair José Lorenzi foi atingido por 5 tiros quando foi atender a porta; sua irmã foi baleada no olho, dentro do imóvel

Segundo afirmou coronel comandante da zona norte, os criminosos trocaram tiros com dois policiais, feriram um deles, e depois fugiram


CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Karina, por que você está chorando? Você vai comigo ver meu pai lá no céu?", perguntava Nicolas, 4, no colo da prima. A metros dali, o pai de Nicolas, o soldado Odair José Lorenzi, 29, e sua irmã Rita de Cássia, 38, mãe de Karina, eram velados no cemitério Vila Nova Cachoeirinha (zona norte de SP).
Ambos foram mortos na madrugada de ontem na casa onde vive a família, um sobrado de oito cômodos, na favela do Boi Malhado. Lorenzi foi alvejado no portão, com cinco tiros no tórax e braço. Rita, na janela, com uma bala na cabeça. Eles foram duas das oito vítimas que morreram entre anteontem e ontem em ataques no Estado.
Ainda atônita, a estudante Karina, 19, contava sobre os últimos minutos do tio e da mãe. "Estava dormindo no quarto com minha mãe quando ouvimos os tiros. Olhamos pela janela e vimos meu tio caído. Desci correndo, coloquei a cabeça dele no colo. Não deu para entender o que dizia. Os tiros continuavam e um dos bandidos gritou para eu sair dali senão me matavam."
Ao chegar ao andar de cima da casa, Karina diz que encontrou a mãe, próxima à janela da cozinha. "Ela chorava muito e pediu para eu avisar a polícia. Quando ligava, vi minha mãe cair no chão. Tinha levado um tiro no olho. Perdi as duas pessoas que mais amava na vida."
Exímio churrasqueiro e fã de música sertaneja, Lorenzi estava havia dez anos na PM. Atuava como motorista da Força Tática do 18º Batalhão. Caçula de seis irmãos, tinha recém-concluído curso de reciclagem, onde teve aulas de tiro.
"Ele se sentia seguro em casa porque não tinha inimigos. Moramos há 25 anos no mesmo lugar e todos conheciam e gostavam do Odair", conta o irmão Carlos Alberto, 37.
Confiando nessa proteção, o soldado saiu no portão, após ouvir alguém o chamando pelo nome. Lorenzi estava acordado à espera da mulher, que trabalhava em telemarketing.
"Todos os policiais já foram avisados para ter cuidado antes de atender a porta. Mas, em casa, o policial se sente mais seguro e baixa um pouco a guarda", diz o coronel David Antonio de Godoy, comandante da zona norte, presente ao velório. Ele disse crer que a irmã do PM foi atingida por bala perdida.
Segundo Godoy, os criminosos trocaram tiros com dois PMs que estavam perto do local. Um dos policiais, mesmo com colete à prova de bala, foi baleado na bacia. Os criminosos fugiram. A mulher de Lorenzi conta que, embora evitasse mostrar, o marido andava preocupado com os ataques do PCC. Tanto que, desde maio, pediu para mudar de lugar na cama, ficando mais próximo à janela. "Ele dizia que, se acontecesse algo coisa, preferia que fosse com ele, não comigo."
Ao lado dela, o empreiteiro Marco Galvão, 52, olhava incrédulo para o caixão da namorada, a atendente de cozinha Rita. Na noite anterior, haviam conversado pelo celular, após terem trocado mensagens de dia. Galvão trabalhava em Mongaguá, litoral sul, e Rita reclamava da saudade. Estava eufórica porque o namorado voltaria ontem e eles acertariam a data em que morariam juntos. "Corri tanto para adiantar o serviço e voltar mais cedo. Prá quê? A última coisa que eu esperava nesta vida era reencontrá-la no caixão."


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