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PM e a irmã foram assassinados em casa
O soldado Odair José Lorenzi foi atingido por 5 tiros quando foi atender a porta; sua irmã foi baleada no olho, dentro do imóvel
Segundo afirmou coronel comandante da zona norte, os criminosos trocaram tiros com dois policiais, feriram um deles, e depois fugiram
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Karina, por que você está
chorando? Você vai comigo ver
meu pai lá no céu?", perguntava
Nicolas, 4, no colo da prima. A
metros dali, o pai de Nicolas, o
soldado Odair José Lorenzi, 29,
e sua irmã Rita de Cássia, 38,
mãe de Karina, eram velados
no cemitério Vila Nova Cachoeirinha (zona norte de SP).
Ambos foram mortos na madrugada de ontem na casa onde
vive a família, um sobrado de
oito cômodos, na favela do Boi
Malhado. Lorenzi foi alvejado
no portão, com cinco tiros no
tórax e braço. Rita, na janela,
com uma bala na cabeça. Eles
foram duas das oito vítimas que
morreram entre anteontem e
ontem em ataques no Estado.
Ainda atônita, a estudante
Karina, 19, contava sobre os últimos minutos do tio e da mãe.
"Estava dormindo no quarto
com minha mãe quando ouvimos os tiros. Olhamos pela janela e vimos meu tio caído.
Desci correndo, coloquei a cabeça dele no colo. Não deu para
entender o que dizia. Os tiros
continuavam e um dos bandidos gritou para eu sair dali senão me matavam."
Ao chegar ao andar de cima
da casa, Karina diz que encontrou a mãe, próxima à janela da
cozinha. "Ela chorava muito e
pediu para eu avisar a polícia.
Quando ligava, vi minha mãe
cair no chão. Tinha levado um
tiro no olho. Perdi as duas pessoas que mais amava na vida."
Exímio churrasqueiro e fã de
música sertaneja, Lorenzi estava havia dez anos na PM. Atuava como motorista da Força
Tática do 18º Batalhão. Caçula
de seis irmãos, tinha recém-concluído curso de reciclagem,
onde teve aulas de tiro.
"Ele se sentia seguro em casa
porque não tinha inimigos.
Moramos há 25 anos no mesmo lugar e todos conheciam e
gostavam do Odair", conta o irmão Carlos Alberto, 37.
Confiando nessa proteção, o
soldado saiu no portão, após
ouvir alguém o chamando pelo
nome. Lorenzi estava acordado
à espera da mulher, que trabalhava em telemarketing.
"Todos os policiais já foram
avisados para ter cuidado antes
de atender a porta. Mas, em casa, o policial se sente mais seguro e baixa um pouco a guarda",
diz o coronel David Antonio de
Godoy, comandante da zona
norte, presente ao velório. Ele
disse crer que a irmã do PM foi
atingida por bala perdida.
Segundo Godoy, os criminosos trocaram tiros com dois
PMs que estavam perto do local. Um dos policiais, mesmo
com colete à prova de bala, foi
baleado na bacia. Os criminosos fugiram. A mulher de Lorenzi conta que, embora evitasse mostrar, o marido andava
preocupado com os ataques do
PCC. Tanto que, desde maio,
pediu para mudar de lugar na
cama, ficando mais próximo à
janela. "Ele dizia que, se acontecesse algo coisa, preferia que
fosse com ele, não comigo."
Ao lado dela, o empreiteiro
Marco Galvão, 52, olhava incrédulo para o caixão da namorada, a atendente de cozinha Rita.
Na noite anterior, haviam conversado pelo celular, após terem trocado mensagens de dia.
Galvão trabalhava em Mongaguá, litoral sul, e Rita reclamava
da saudade. Estava eufórica
porque o namorado voltaria
ontem e eles acertariam a data
em que morariam juntos. "Corri tanto para adiantar o serviço
e voltar mais cedo. Prá quê? A
última coisa que eu esperava
nesta vida era reencontrá-la no
caixão."
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