São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2006

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Lula critica recusa de SP a ajuda federal

Presidente diz que situação no Estado é de pânico e que nada pode fazer enquanto governo paulista encará-la como "normal"

Governador Cláudio Lembo volta a rejeitar auxílio da Força Nacional de Segurança Pública; segundo secretário, ela não existe


EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Ao tomar conhecimento ontem de manhã de mais uma onda de ataques em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a resistência do governo paulista em aceitar a ajuda federal. Segundo ele, a situação no Estado é de "pânico", fora do "normal". "Os bandidos estão provocando a polícia, estão provocando a sociedade civil, estão aterrorizando."
Em Salvador, onde participou de uma conferência sobre a África, Lula afirmou que nada pode fazer enquanto o Palácio dos Bandeirantes encarar como "normal" a situação do Estado e sugeriu que o governador Cláudio Lembo (PFL) siga os exemplos de Espírito Santo e Mato Grosso do Sul, que recentemente contaram com o auxílio do Exército e da Força Nacional de Segurança Pública.
"Se eles [governo paulista] quiserem, colocamos lá o que já estamos fazendo no Espírito Santo e em Mato Grosso do Sul", disse. "Agora, se São Paulo continua achando que a situação está normal, que pode tomar conta da situação, o governo federal nada pode fazer."
De Brasília, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastou, falou por telefone de manhã com Lembo, voltando a oferecer os serviços da Força Nacional de Segurança Pública e também eventual apoio das Forças Armadas. O governador novamente recusou.

"País de mudos"
O presidente Lula falou com a imprensa às 8h, no saguão do hotel em que estava hospedado, pouco depois de ficar sabendo dos ataques pelos telejornais. Demonstrando irritação, abordou o tema antes de ser questionado a respeito.
Confrontado com a possibilidade de suas declarações serem usadas politicamente, já que seu principal adversário eleitoral, Geraldo Alckmin (PSDB), governou São Paulo até março passado, o presidente disse: "Então vamos criar um país de mudos, porque não se pode falar nada. O dado concreto é que os fatos estão existindo, os bandidos não estão preocupados se vai ter eleição ou não vai ter eleição. Os bandidos estão aterrorizando São Paulo e temos de tomar atitudes".
Na onda de ataques de maio passado, Palácio do Planalto e base aliada trocaram acusações com o governo paulista e a oposição por conta das responsabilidades nos atentados.
Lula listou o que, no seu entender, precisa ser feito a curto prazo no Estado. "O que precisa é uma ação da polícia muito forte para evitar que os presos possam comandar as quadrilhas dentro da cadeia, e fazer as transferências que forem necessárias. Agora isso é muito fácil de falar e difícil de fazer, porque depende de decisão do Poder Judiciário, depende da concordância do governo do Estado."

"Crise de inteligência"
Em Brasília, o ministro Bastos disse que a violência em São Paulo resulta de uma "crise de inteligência, de gestão", situação que levou o governo a compartilhar informações de inteligência, produzidas pela Polícia Federal, com a Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Questionado sobre eventual parcela de responsabilidade federal na crise paulista, Bastos não respondeu. Disse que esse tipo de assunto tem que ser tratado de forma impessoal e distante de interesses políticos e eleitorais.
"Não é possível que uma situação em que há gente morrendo todo dia seja objeto de disputa eleitoral ou de guerra política (...) É preciso um trabalho impessoal, para o bem objetivo da população (...), que não pode ser objeto de disputa política nem de troca de acusações recíprocas", afirmou. "Quem é o juiz da conveniência da presença dessas forças é o governo do Estado. Não é o caso de intervenção federal.
Então, o governo do Estado é que decide", disse o ministro sobre a oferta de ajuda.
À tarde, o secretário estadual da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, comentou a oferta federal. Disse que não é em atitude de soberba que o Estado a recusa. Segundo ele, a Força Nacional de Segurança Pública não existe.


Colaboraram ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de Brasília, e LUÍSA BRITO, da Reportagem Local

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