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Lula critica recusa de SP a ajuda federal
Presidente diz que situação no Estado é de pânico e que nada pode fazer enquanto governo paulista encará-la como "normal"
Governador Cláudio Lembo volta a rejeitar auxílio da Força Nacional de Segurança Pública; segundo secretário, ela não existe
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Ao tomar conhecimento ontem de manhã de mais uma onda de ataques em São Paulo, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva criticou a resistência do
governo paulista em aceitar a
ajuda federal. Segundo ele, a situação no Estado é de "pânico",
fora do "normal". "Os bandidos
estão provocando a polícia, estão provocando a sociedade civil, estão aterrorizando."
Em Salvador, onde participou de uma conferência sobre a
África, Lula afirmou que nada
pode fazer enquanto o Palácio
dos Bandeirantes encarar como "normal" a situação do Estado e sugeriu que o governador Cláudio Lembo (PFL) siga
os exemplos de Espírito Santo e
Mato Grosso do Sul, que recentemente contaram com o auxílio do Exército e da Força Nacional de Segurança Pública.
"Se eles [governo paulista]
quiserem, colocamos lá o que já
estamos fazendo no Espírito
Santo e em Mato Grosso do
Sul", disse. "Agora, se São Paulo
continua achando que a situação está normal, que pode tomar conta da situação, o governo federal nada pode fazer."
De Brasília, o ministro da
Justiça, Márcio Thomaz Bastou, falou por telefone de manhã com Lembo, voltando a
oferecer os serviços da Força
Nacional de Segurança Pública
e também eventual apoio das
Forças Armadas. O governador
novamente recusou.
"País de mudos"
O presidente Lula falou com
a imprensa às 8h, no saguão do
hotel em que estava hospedado, pouco depois de ficar sabendo dos ataques pelos telejornais. Demonstrando irritação, abordou o tema antes de
ser questionado a respeito.
Confrontado com a possibilidade de suas declarações serem
usadas politicamente, já que
seu principal adversário eleitoral, Geraldo Alckmin (PSDB),
governou São Paulo até março
passado, o presidente disse:
"Então vamos criar um país de
mudos, porque não se pode falar nada. O dado concreto é que
os fatos estão existindo, os bandidos não estão preocupados se
vai ter eleição ou não vai ter
eleição. Os bandidos estão aterrorizando São Paulo e temos de
tomar atitudes".
Na onda de ataques de maio
passado, Palácio do Planalto e
base aliada trocaram acusações
com o governo paulista e a oposição por conta das responsabilidades nos atentados.
Lula listou o que, no seu entender, precisa ser feito a curto
prazo no Estado.
"O que precisa é uma ação da
polícia muito forte para evitar
que os presos possam comandar as quadrilhas dentro da cadeia, e fazer as transferências
que forem necessárias. Agora
isso é muito fácil de falar e difícil de fazer, porque depende de
decisão do Poder Judiciário,
depende da concordância do
governo do Estado."
"Crise de inteligência"
Em Brasília, o ministro Bastos disse que a violência em São
Paulo resulta de uma "crise de
inteligência, de gestão", situação que levou o governo a compartilhar informações de inteligência, produzidas pela Polícia
Federal, com a Secretaria de
Segurança Pública do Estado.
Questionado sobre eventual
parcela de responsabilidade federal na crise paulista, Bastos
não respondeu. Disse que esse
tipo de assunto tem que ser tratado de forma impessoal e distante de interesses políticos e
eleitorais.
"Não é possível que uma situação em que há gente morrendo todo dia seja objeto de
disputa eleitoral ou de guerra
política (...) É preciso um trabalho impessoal, para o bem objetivo da população (...), que não
pode ser objeto de disputa política nem de troca de acusações
recíprocas", afirmou.
"Quem é o juiz da conveniência da presença dessas forças é
o governo do Estado. Não é o
caso de intervenção federal.
Então, o governo do Estado é
que decide", disse o ministro
sobre a oferta de ajuda.
À tarde, o secretário estadual
da Segurança Pública, Saulo de
Castro Abreu Filho, comentou
a oferta federal. Disse que não é
em atitude de soberba que o Estado a recusa. Segundo ele, a
Força Nacional de Segurança
Pública não existe.
Colaboraram ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de
Brasília, e LUÍSA BRITO, da Reportagem Local
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