São Paulo, domingo, 13 de julho de 2008

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LÍCIO BLEY VIEIRA (1916-2008)

A cavalo, o "meritíssimo farmacêutico"

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Lício Bley Vieira "sabia rir de si mesmo", mesmo com seus 91 anos de vida. Se alguém dizia que ouvira por aí que o "meritíssimo" fora dono de botica ou delegado (daqueles que andavam a cavalo atrás de bandido), ele fixava os olhos na pessoa, esperando o comentário. Estrábico, não perdia a gargalhada; depois da qual desatava a contar as reviravoltas da vida.
Filho de um caixeiro-viajante de Curitiba que cedo morreu, foi trabalhar, lá pelos 16, lavando pipetas de um laboratório. "Gostou do metiê" e foi estudar farmácia na faculdade. Por mais de uma década foi farmacêutico -teve uma botica onde "era meio como um médico da colônia de Santa Felicidade".
Tanto que foi aceito como subdelegado de polícia, diz o neto. Mas ouviu que, "sem formação, seria sub para sempre". Lá foi Vieira estudar direito, "vovô da turma". Formado, foi delegado, diretor da Polícia Civil e chefe de gabinete da secretaria de segurança pública do PR. Até que em 1966 o Estado ganhou seus juízes federais, quatro, entre eles Vieira. Lá passaria 20 anos, "sempre com a porta do gabinete aberta", não se sabe por quê.
Tinha dois filhos, nove netos e 12 bisnetos, o "meritíssimo farmacêutico". Morreu quinta, de falência múltipla dos órgãos. Até dias antes contara suas histórias cheias de "uma memória remota impressionante". Afinal, como dizia com um sorriso, "era do tempo em que se escrevia farmácia com ph."

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