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SAÚDE / COMPORTAMENTO
Cuidar de animal faz bem, mas pode causar dependência
Relação proporciona companhia, afeto e reduz tensão, mas exageros devem ser evitados
Médicos admitem
uma relação de amor incondicional, mas alertam donos de animais quanto
a isolamento e ansiedade
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Quanto mais conheço os homens, mais admiro o meu cachorro." O tradicional slogan
de adesivos de carros parece
uma piada qualquer, mas é
mais real do que se pensa.
Isso porque a relação entre
humanos e animais de estimação, teoricamente inofensiva e
prazerosa, pode também trazer
prejuízos como dependência e
ansiedade, dependendo da forma como se estabelece ou do
comportamento do dono.
De acordo com médicos ouvidos pela Folha, essas são algumas manifestações negativas em uma relação benéfica.
Além de proporcionar também
afeto e diversão, os animais podem reduzir a tensão e até o batimento cardíaco das pessoas
que o tocam.
Para o psicólogo da Unifesp
Murilo Battisti, "pessoas com
mais dificuldade no contato
com o outro muitas vezes vêem
no animal uma forma menos
ameaçadora de fazer vínculo.
Mas isso pode levar ou reforçar
um isolamento".
Ele afirma considerar normal uma relação de amor incondicional com o animal e que
a pessoa o veja como um membro da família, mas que é preciso estar atendo para que a relação seja saudável.
"Essa troca pode ser muito
bacana pelo exercício da afetividade", diz Battisti.
Dentro de casa
O zootecnista e mestre em
Psicologia pela USP Alexandre
Rossi, diz ser comum que uma
ligação muito intensa cause
uma "ansiedade de separação",
pela qual a pessoa fica intranqüila ao sair de casa por preocupar-se com o animal.
A vendedora de roupas Nádia
Areda Nunes, 48, que vive com
seus dois "filhos" da raça samoieda -originária da Rússia-, conta que fica preocupada com um deles, Flopy, quando sai. Isso porque o cachorro
também sente a distância e come partes da casa quando está
só, como pedaços do painel da
máquina de lavar, guarnição da
porta e móveis.
Nádia mora e trabalha em
seu apartamento em Cerqueira
César (zona oeste da capital
paulista) e diz que sai de casa
quando tem que fazer alguma
coisa, não se prendendo pelo
animal. Entretanto, admite que
gostaria de trabalhar fora e que
ainda não se decidiu por isso
em razão de Flopy.
Facilitando contatos
Segundo Rossi, não é algo negativo a pessoa procurar o animal ao chegar em casa.
"Ele ajuda a diminuir o estresse e facilita o contato com
outras pessoas", afirma. Na rua,
os animais também são "facilitadores sociais", pois ajudam as
pessoas a se conhecerem e ainda podem servir de pretexto
para cantadas manjadas.
Para a veterinária Ana Luiza
Mazorra, isso é importante em
uma cidade como São Paulo,
em que as pessoas tendem a estar mais sozinhas, cheias de
trabalho e onde muitas vivem
apenas com o animal. Ela diz
ter a impressão de que a relação
não é tão próxima no interior.
"Aqui o animal acaba sendo
usado como uma válvula de escape. Percebo uma ligação muito acentuada em alguns clientes e um medo muito grande
pelo que pode acontecer com o
animal. Por outro lado, tem o
ponto positivo de perceberem
mais facilmente sintomas simples no animal, como o fato de
ele beber mais água", diz ela.
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