São Paulo, segunda, 13 de julho de 1998

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Jovem se sente abandonado

da Sucursal do Rio

Sentimento de abandono, a falta do pai e um número crescente de jovens de classe média envolvidos com infrações penais são características que surgiram de pesquisa realizada com 27 adolescentes de 13 a 18 anos que passaram pelo Juizado da Infância e da Juventude do Rio -82% deles acusados de roubos e furtos.
Do total de adolescentes entrevistados pelas pesquisadoras da Cespi (Coordenação de Estudos e Pesquisas sobre a Infância da Universidade Santa Úrsula) e da 2ª Vara do Juizado, cinco não eram de famílias de baixa renda.
Para a coordenadora da Cespi, Irene Rizzini, existe uma tendência internacional de crescente envolvimento de jovens de famílias mais abastadas com infrações penais -principalmente em relação ao uso e tráfico de drogas.
Independente da situação socioeconômica dos entrevistados, Rizzini afirma que uma característica importante dos relatos é o sentimento de solidão, de abandono, de não ter pessoas na família para conversar.
Em geral, são relatos que falam da mãe trabalhando e do pai ausente ou que pouco aparece em casa.
Dos entrevistados, apenas seis moravam com o pai e a mãe, um com a mãe e o padrasto e um com o pai e a madrasta. O restante ou morava com a mãe ou com parentes ou em instituições ou na rua.

Excesso

Chamaram também a atenção das pesquisadoras Rizzini, Ruth Belém, Suely Faria e Tania Chalhub os relatos das violências familiares mais sutis do dia-a-dia, como o excesso de autoridade.
"Ele (o pai) ficava me esculachando na frente dos outros. Ficava me chamando de burro, idiota. Ficava me xingando", disse um rapaz de 17 anos, cujo pai exercia um cargo de confiança no governo.
"O abuso físico é uma regra. E o abuso verbal, mais ainda", afirma Rizzini.
Para ela, os dados da pesquisa mostram a necessidade de mudanças nas políticas voltadas para a infância -dando-se, por exemplo, ênfase no item educação.
Segundo Rizzini, o crescente envolvimento de jovens com infrações penais não se resolve com "o endurecimento das leis."
Para ela, o melhor caminho é a prevenção. "Temos que mudar, pela educação, a formação das crianças."



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