São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 2002

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TRÁFICO

Caça ao traficante Elias Pereira da Silva deixa captura do principal chefe do crime organizado em segundo plano no Rio

Na busca por Maluco, polícia esquece Linho

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Ao priorizar a captura do traficante Elias Pereira da Silva, 36, o Elias Maluco, a polícia deixou de lado a busca a Paulo César Silva dos Santos, 30, o Linho, considerado pelo próprio secretário estadual de Segurança Pública, Roberto Aguiar, como o mais poderoso chefe de quadrilha do Rio. Dois meses e dez dias depois da morte do jornalista Tim Lopes, tanto Elias Maluco quanto Linho continuam soltos. Nesse período, as investigações sobre a quadrilha de Linho, que lidera a facção criminosa TC (Terceiro Comando), se restringem a delegacias de bairro, enquanto as unidades policiais especializadas priorizam a captura de Elias Maluco, principal nome do CV (Comando Vermelho).
Embora a recompensa para quem der informações que resultem na prisão dos dois criminosos seja a mesma, R$ 50 mil, a chefe de investigações da DRE (Divisão de Entorpecentes) da Polícia Civil, Marina Maggessi, diz que Linho é muito "mais forte" do que Elias Maluco. "É matuto" [fornecedor de drogas" e compra cocaína e maconha direto dos produtores (Paraguai, Bolívia e Peru).
Linho domina 13 das 15 favelas do complexo da Maré (zona norte). Levantamento da DRE mostra que elas movimentam R$ 1,34 milhão por mês com a venda de drogas. "Elias Maluco segue ordens do Marcinho VP [Márcio Nepomuceno, preso em Bangu 1". Linho é chefe e tem mais dinheiro", disse a policial.
Desde que o jornalista Tim Lopes foi morto, em 2 de junho, a polícia só fez uma operação objetiva (fruto de investigação) para prender Linho. A ação ocorreu na última quinta-feira, quando se descobriu uma central telefônica usada pelo criminoso. Linho estaria no local, mas conseguiu fugir.
No período, ocorreram cerca de 20 operações para prender Elias Maluco no complexo do Alemão (zona norte) e fora do Rio, em Estados como a Paraíba.
Desde a morte de Lopes, só um membro da quadrilha de Linho foi preso: Carlos Alberto Lima da Silva, o Pão, que gerenciava o tráfico na Pedreira, no dia 6 de julho.
Durante o período, a polícia capturou 30 supostos aliados de Elias Maluco. Ricardo Victor dos Santos, o Cuco, foi morto na quinta-feira por policiais. Segundo Marina, ele era o substituto natural de Elias Maluco no CV.
Os principais auxiliares de Linho continuam foragidos, como Robson André da Silva, o Robinho Pinga, que domina o tráfico em favelas da zona oeste, Irapuan David Lopes, o Gangan, que controla os morros de São Carlos e da Coroa (zona central), e da Serrinha (zona norte), e Romildo Souza da Costa, o Miltinho do Dendê.
O delegado da DRFA (Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos de Automóveis) Cláudio Góis afirmou que a polícia não dispõe de efetivo para procurar os dois criminosos ao mesmo tempo. "Era preciso priorizar. A meta agora é o Elias Maluco."
Nos primeiros dois meses da gestão da governadora Benedita da Silva (PT), iniciada em abril, a prioridade da polícia foi desarticular a aliança entre as facções ADA (Amigo dos Amigos) e TC. A Operação Camisa Preta, que envolveu a Polícia Federal, prendeu 17 integrantes do bando de Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, um dos líderes da ADA e preso há seis anos no presídio Bangu 1.
As prisões mais importantes que ocorreram foram as de Wanderley Soares, o Orelha, e Carlos Roberto da Silva, o Robertinho do Adeus, cunhados de Uê e responsáveis pelos contatos internacionais da quadrilha.
Após a morte de Lopes, só uma grande operação foi feita para tentar prender membros da ADA. A ação ocorreu no dia 18 de julho no morro do Adeus (zona norte) e reuniu 50 policiais civis, militares, federais e rodoviários, que procuravam Ruberlândia Matias. Apontada como fornecedora de armas e drogas para Uê, ela não foi encontrada.


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