São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 2002

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TRANSPORTE

Condutores de duas empresas de ônibus retêm tarifa para pagar despesas e salários; garagem não tem diesel nem peças

Motoristas assumem comando de viações

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem a perspectiva de receber os salários e temendo a perda dos empregos, motoristas e cobradores de ônibus das viações Santo Amaro e Ibirapuera, da zona sul de São Paulo, tomaram conta da garagem e assumiram a operação das duas empresas desde a última sexta à noite, sem a interferência do dono ou da própria prefeitura.
Os trabalhadores continuavam ontem acampados na sede das duas viações, na av. Guido Caloi. A tarifa arrecadada é retida e utilizada para pagar despesas operacionais e salários. A garagem está sem combustível nem peças para reposição há quase uma semana.
A situação afeta diretamente a qualidade e a segurança do transporte de 57 mil passageiros.
Os condutores chegam a interromper as viagens e param em um posto de combustível, com os passageiros, para colocar diesel. As peças quebradas são trocadas pelas dos veículos que estão abandonados no pátio.
O motorista José Cândido de Moraes, 50, teve que deixar anteontem 35 passageiros esperando dentro do veículo durante 20 minutos, na av. Nove de Julho, para comprar óleo no meio do caminho. "Voltei sujo e ainda tive que me explicar, porque ninguém se conformava", afirmou Moraes, cujo ônibus, de número 724807, fazia a linha Brooklin-Bandeira.
Dos 213 veículos das viações Santo Amaro e Ibirapuera, 36 já tiveram que ser encostados pelos trabalhadores desde a semana passada porque não havia peças para repor as que quebraram.
"Agora a gente tira as peças deles para colocar nos demais", disse Cesar Nogueira da Silva, 33, mecânico da Santo Amaro.
As duas empresas, que reúnem 1.131 motoristas, já pertenceram ao grupo Constantino de Oliveira, líder do transporte urbano no país, mas foram repassadas para Leonardo Capuano. O empresário não respondeu ontem aos pedidos de entrevista da Folha.

Dívida
O dono e os diretores não aparecem na garagem desde a última quarta-feira. Os trabalhadores dizem que a dívida com salários, férias e convênio médico já passa de R$ 525 mil. As equipes de trabalhadores se revezam no controle da arrecadação -uma delas contabilizava R$ 5.923 das 11h15 às 16h, sem incluir os passes e vales.
Parte deles coloca no próprio bolso a tarifa arrecadada. O cobrador Cláudio de Souza, 30, da linha Parque Dom Pedro-Santo Amaro, reteve R$ 868 na catraca. "Eu dividi com meu motorista. A gente precisa pagar as contas."
A decisão de controlar a garagem foi tomada para tentar obter os pagamentos atrasados e evitar que as linhas e ônibus das duas viações sejam transferidos para outros empresários sem que haja compromisso com a manutenção dos postos de trabalho.
Segundo Edilson Rodrigues Pereira, diretor do sindicato dos motoristas e cobradores, Capuano acertou a venda das linhas e ônibus da Ibirapuera para Romero Niquini e das linhas da Santo Amaro para José Ruas Vaz. Nem todos os trabalhadores teriam sido incluídos nas negociações.
"As empresas vão fechar e eles não vão pagar as dívidas que têm com a gente", afirmou Pereira.
A SPTrans (São Paulo Transporte, órgão responsável pelo transporte coletivo) admite a existência de um protesto na garagem, mas diz que a administração das viações continua nas mãos do mesmo grupo. A empresa não quis comentar as interferências nos serviços prestados.


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