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TRANSPORTE
Condutores de duas empresas de ônibus retêm tarifa para pagar despesas e salários; garagem não tem diesel nem peças
Motoristas assumem comando de viações
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem a perspectiva de receber os
salários e temendo a perda dos
empregos, motoristas e cobradores de ônibus das viações Santo
Amaro e Ibirapuera, da zona sul
de São Paulo, tomaram conta da
garagem e assumiram a operação
das duas empresas desde a última
sexta à noite, sem a interferência
do dono ou da própria prefeitura.
Os trabalhadores continuavam
ontem acampados na sede das
duas viações, na av. Guido Caloi.
A tarifa arrecadada é retida e utilizada para pagar despesas operacionais e salários. A garagem está
sem combustível nem peças para
reposição há quase uma semana.
A situação afeta diretamente a
qualidade e a segurança do transporte de 57 mil passageiros.
Os condutores chegam a interromper as viagens e param em
um posto de combustível, com os
passageiros, para colocar diesel.
As peças quebradas são trocadas
pelas dos veículos que estão abandonados no pátio.
O motorista José Cândido de
Moraes, 50, teve que deixar anteontem 35 passageiros esperando dentro do veículo durante 20
minutos, na av. Nove de Julho, para comprar óleo no meio do caminho. "Voltei sujo e ainda tive que
me explicar, porque ninguém se
conformava", afirmou Moraes,
cujo ônibus, de número 724807,
fazia a linha Brooklin-Bandeira.
Dos 213 veículos das viações
Santo Amaro e Ibirapuera, 36 já
tiveram que ser encostados pelos
trabalhadores desde a semana
passada porque não havia peças
para repor as que quebraram.
"Agora a gente tira as peças deles para colocar nos demais", disse Cesar Nogueira da Silva, 33,
mecânico da Santo Amaro.
As duas empresas, que reúnem
1.131 motoristas, já pertenceram
ao grupo Constantino de Oliveira,
líder do transporte urbano no
país, mas foram repassadas para
Leonardo Capuano. O empresário não respondeu ontem aos pedidos de entrevista da Folha.
Dívida
O dono e os diretores não aparecem na garagem desde a última
quarta-feira. Os trabalhadores dizem que a dívida com salários, férias e convênio médico já passa de
R$ 525 mil. As equipes de trabalhadores se revezam no controle
da arrecadação -uma delas contabilizava R$ 5.923 das 11h15 às
16h, sem incluir os passes e vales.
Parte deles coloca no próprio
bolso a tarifa arrecadada. O cobrador Cláudio de Souza, 30, da linha Parque Dom Pedro-Santo
Amaro, reteve R$ 868 na catraca.
"Eu dividi com meu motorista. A
gente precisa pagar as contas."
A decisão de controlar a garagem foi tomada para tentar obter
os pagamentos atrasados e evitar
que as linhas e ônibus das duas
viações sejam transferidos para
outros empresários sem que haja
compromisso com a manutenção
dos postos de trabalho.
Segundo Edilson Rodrigues Pereira, diretor do sindicato dos
motoristas e cobradores, Capuano acertou a venda das linhas e
ônibus da Ibirapuera para Romero Niquini e das linhas da Santo
Amaro para José Ruas Vaz. Nem
todos os trabalhadores teriam sido incluídos nas negociações.
"As empresas vão fechar e eles
não vão pagar as dívidas que têm
com a gente", afirmou Pereira.
A SPTrans (São Paulo Transporte, órgão responsável pelo
transporte coletivo) admite a
existência de um protesto na garagem, mas diz que a administração das viações continua nas mãos do mesmo grupo. A empresa não quis comentar as interferências nos serviços prestados.
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