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São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2003

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RIO

Adolescente de 14 anos foi baleado em alojamento do Vasco depois de assistir à novela

Garoto é atingido por bala perdida

Guilherme Pinto/Agência O Globo
Luciano de Souza Silva, baleado anteontem à noite no Rio, chegou à cidade há apenas uma semana


FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

O adolescente Luciano de Souza Silva, 14, foi baleado no lado esquerdo do peito na sala de recreação do alojamento para atletas amadores do Vasco da Gama, em São Cristóvão (zona norte).
Silva, que é baiano e chegou ao Rio há uma semana, para tentar uma carreira no futebol, está internado no Hospital de Clínicas Doutor Aloan. O cirurgião-geral Aloan Júnior disse que a bala, alojada no pulmão, não será retirada. Ele prevê que o menino possa ter alta em 48 horas e que não ficará com sequelas.
Por coincidência, pouco antes de ser atingido, Silva assistia à novela "Mulheres Apaixonadas", da Rede Globo. O capítulo de anteontem reprisou a cena em que os personagens Téo (Tony Ramos) e Fernanda (Vanessa Gerbelli) são baleados durante perseguição a dois assaltantes, no Leblon, zona sul do Rio.
Antes de ir ao ar, a cena causou polêmica. Setores da indústria do turismo protestaram, alegando que a novela poderia aumentar a imagem de insegurança da cidade, afugentar turistas e causar prejuízos econômicos.
Silva veio de Camaçari, interior da Bahia, tentando realizar o sonho de ser jogador de futebol. Ele foi convidado para fazer testes para o time infantil do Vasco da Gama por um olheiro que viaja pelo interior do Brasil.
Estava hospedado no alojamento do clube, com outros 250 atletas. Por medida de segurança, as crianças e adolescentes não podem sair pela cidade. No clube, funciona até uma escola, para que os meninos não tenham que sair.
O delegado Fábio Ferreira, da 17ª DP, investiga de onde partiu o tiro que atingiu o menino. Por enquanto, ele não descarta nenhuma hipótese: o tiro pode ter partido da Barreira do Vasco, favela a 200 m do clube, da rua ou até mesmo de dentro do clube.
Segundo Ferreira, o comandante do 4º BPM, Cesar Tanne, disse que não houve nenhuma operação policial na região no momento em que o menino foi atingido.
Ele enviou um ofício ao Vasco pedindo que apresente à delegacia os atletas que testemunharam o episódio. Também quer saber se os seguranças do clube trabalham armados e o nome dos que estavam de plantão na noite do crime.
Um dos atletas que estavam na sala de recreação quando Silva foi baleado disse que ninguém ouviu o tiro. Ele não se identificou porque o presidente do clube, Eurico Miranda, proibiu os meninos de conversarem com jornalistas.
O atleta contou que havia pelo menos sete meninos na sala. Eles terminavam de assistir à novela. Segundo a testemunha, Silva se aproximou da janela. Os outros ouviram o barulho do vidro da janela quebrando. Caído no chão e sangrando, Silva reclamava de dores.
O supervisor do alojamento, Omar Roman, que socorreu Silva, disse ao delegado que o menino não ouviu o tiro, apenas sentiu uma dor repentina.
Do início do ano até agora, foram registradas 118 vítimas de bala perdida no Estado, de acordo com levantamento feito pela Folha. Dessas, 30 morreram.
O estudante Edson Moisés Caldeira, 17, também foi baleado anteontem, na perna esquerda, durante tiroteio entre policiais e traficantes no complexo da Maré (zona norte).

Colaborou MARIO HUGO MONKEN


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