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NO AR
Infraero planeja instalar "abafadores" de ruído em aeroportos de SP e de BH; sistema já é utilizado nos EUA e no Japão
Reformado, Congonhas pode ter "silenciador"
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
Domingo será um dia de alívio
para os 33 mil usuários diários do
aeroporto de Congonhas, na zona
sul da cidade de São Paulo. Depois de 16 meses de reforma, será
inaugurada -em caráter experimental- a nova área de embarque, ampliada, mais confortável e,
principalmente, mais segura.
A principal mudança é a redução do número de passageiros
que terão de cruzar a pé ou de ônibus a distância entre o saguão e o
avião. Agora, o acesso de parte
dos usuários será feito por meio
de oito pontes de embarque, uma
passarela que parece uma sanfona
e liga diretamente o avião ao aeroporto, como existe em Cumbica.
Ontem, após vistoriar as obras
em Congonhas, o presidente da
Infraero (Empresa Brasileira de
Infra-Estrutura Aeroportuária),
Carlos Wilson, disse à Folha que
está em estudo técnico a construção de um isolamento acústico
para as cabeceiras (os extremos)
da pista -antiga reivindicação
dos moradores dos bairros que
cresceram ao redor do aeroporto
nas últimas cinco décadas.
É o que os técnicos chamam de
"blast defense". Já utilizados em
Narita (no Japão) e nos aeroportos de Los Angeles e Chicago, nos
Estados Unidos, esses abafadores
de ruído são estruturas metálicas
verticais que bloqueiam a propagação das ondas sonoras.
As cabeceiras da pista são os locais por onde as aeronaves decolam e aterrissam, provocando um
ruído superior a 100 decibéis. Ensurdecedor. Literalmente, segundo a aposentada Lygia Horta, que
mora nas imediações de Congonhas e diz ter perdido parte da audição nos últimos anos em razão
disso.
O modelo de abafador que seria
usado em São Paulo ainda está em
estudo. Os técnicos avaliam o custo da construção e sua eficácia,
que pode variar de acordo com a
direção preferencial do vento, o
fluxo e o tipo de aeronaves que
freqüentam o aeroporto e a proximidade dos vizinhos.
Além de Congonhas, o aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte (MG), também pode ganhar um abafador, já que a área
ao seu redor foi fortemente urbanizada nas últimas décadas.
Reclamações de barulho não
são uma exclusividade dos aeroportos brasileiros. Em Hamburgo
(na Alemanha) e em Londres (na
Inglaterra) as autoridades aeroportuárias fizeram acordos com
os vizinhos para reduzir o desconforto provocado pelos aviões.
Alguns moradores ganharam isolamento acústico em suas casas.
O silêncio ainda não chegou a
Congonhas, mas pelo menos a segurança dos usuários foi reforçada com a reforma. Depois do
check-in, os passageiros vão subir
ao primeiro andar e de lá ser direcionados para o embarque. Parte
vai usar as novas pontes de embarque. O restante vai ter de descer de volta ao térreo e pegar um
ônibus até a aeronave.
"A idéia era reduzir o risco de
um novo atropelamento", diz
Carlos Wilson, referindo-se ao
acidente que, em 2002, matou um
passageiro que caminhava pela
pista em direção ao avião.
O conforto, afirma Wilson, deve
aumentar. Serão inauguradas
agora quatro escadas rolantes e
mais dois elevadores, além das
novas esteiras de bagagem.
Também está em construção
-com previsão de término para
julho de 2005- a nova garagem
subterrânea do aeroporto, que
deve ampliar a capacidade para
3.400 vagas. Hoje, cabem apenas
1.200 carros. O custo de todas essas obras é de R$ 42 milhões, segundo a Infraero.
Está em licitação a segunda fase
da reforma de Congonhas, que
prevê a construção de quatro
pontes de embarque, novos elevadores e escadas rolantes e mais
quiosques de check-in, o que ampliaria o total para 92 postos.
Todas as modificações em curso
e projetadas são necessárias para
reduzir as longas e incômodas filas que se tornaram comuns em
Congonhas nos últimos anos.
O aeroporto foi planejado para
atender 6 milhões de passageiros
por ano. Hoje, o movimento
anual é o dobro disso.
O crescimento de Congonhas
-inaugurado em 1936 com uma
pista improvisada e rodeada de
mato, por onde pastava o gado
das fazendas da vizinhança- foi
espantoso, assim como o da cidade. Em 1957, já era o terceiro
maior aeroporto do mundo em
volume de carga, perdendo apenas para Londres e Paris. Hoje, é o
mais movimentado da América
do Sul, com 600 pousos e decolagens por dia.
"O aeroporto mais charmoso
do país agora vai ser também um
dos mais eficientes e seguros", comemorava ontem Carlos Wilson,
em meio aos trabalhadores que
corriam contra o relógio para deixar tudo pronto para o domingo.
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