São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

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NO AR

Infraero planeja instalar "abafadores" de ruído em aeroportos de SP e de BH; sistema já é utilizado nos EUA e no Japão

Reformado, Congonhas pode ter "silenciador"

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Domingo será um dia de alívio para os 33 mil usuários diários do aeroporto de Congonhas, na zona sul da cidade de São Paulo. Depois de 16 meses de reforma, será inaugurada -em caráter experimental- a nova área de embarque, ampliada, mais confortável e, principalmente, mais segura.
A principal mudança é a redução do número de passageiros que terão de cruzar a pé ou de ônibus a distância entre o saguão e o avião. Agora, o acesso de parte dos usuários será feito por meio de oito pontes de embarque, uma passarela que parece uma sanfona e liga diretamente o avião ao aeroporto, como existe em Cumbica.
Ontem, após vistoriar as obras em Congonhas, o presidente da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária), Carlos Wilson, disse à Folha que está em estudo técnico a construção de um isolamento acústico para as cabeceiras (os extremos) da pista -antiga reivindicação dos moradores dos bairros que cresceram ao redor do aeroporto nas últimas cinco décadas.
É o que os técnicos chamam de "blast defense". Já utilizados em Narita (no Japão) e nos aeroportos de Los Angeles e Chicago, nos Estados Unidos, esses abafadores de ruído são estruturas metálicas verticais que bloqueiam a propagação das ondas sonoras.
As cabeceiras da pista são os locais por onde as aeronaves decolam e aterrissam, provocando um ruído superior a 100 decibéis. Ensurdecedor. Literalmente, segundo a aposentada Lygia Horta, que mora nas imediações de Congonhas e diz ter perdido parte da audição nos últimos anos em razão disso.
O modelo de abafador que seria usado em São Paulo ainda está em estudo. Os técnicos avaliam o custo da construção e sua eficácia, que pode variar de acordo com a direção preferencial do vento, o fluxo e o tipo de aeronaves que freqüentam o aeroporto e a proximidade dos vizinhos.
Além de Congonhas, o aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte (MG), também pode ganhar um abafador, já que a área ao seu redor foi fortemente urbanizada nas últimas décadas.
Reclamações de barulho não são uma exclusividade dos aeroportos brasileiros. Em Hamburgo (na Alemanha) e em Londres (na Inglaterra) as autoridades aeroportuárias fizeram acordos com os vizinhos para reduzir o desconforto provocado pelos aviões. Alguns moradores ganharam isolamento acústico em suas casas.
O silêncio ainda não chegou a Congonhas, mas pelo menos a segurança dos usuários foi reforçada com a reforma. Depois do check-in, os passageiros vão subir ao primeiro andar e de lá ser direcionados para o embarque. Parte vai usar as novas pontes de embarque. O restante vai ter de descer de volta ao térreo e pegar um ônibus até a aeronave.
"A idéia era reduzir o risco de um novo atropelamento", diz Carlos Wilson, referindo-se ao acidente que, em 2002, matou um passageiro que caminhava pela pista em direção ao avião.
O conforto, afirma Wilson, deve aumentar. Serão inauguradas agora quatro escadas rolantes e mais dois elevadores, além das novas esteiras de bagagem.
Também está em construção -com previsão de término para julho de 2005- a nova garagem subterrânea do aeroporto, que deve ampliar a capacidade para 3.400 vagas. Hoje, cabem apenas 1.200 carros. O custo de todas essas obras é de R$ 42 milhões, segundo a Infraero.
Está em licitação a segunda fase da reforma de Congonhas, que prevê a construção de quatro pontes de embarque, novos elevadores e escadas rolantes e mais quiosques de check-in, o que ampliaria o total para 92 postos.
Todas as modificações em curso e projetadas são necessárias para reduzir as longas e incômodas filas que se tornaram comuns em Congonhas nos últimos anos.
O aeroporto foi planejado para atender 6 milhões de passageiros por ano. Hoje, o movimento anual é o dobro disso.
O crescimento de Congonhas -inaugurado em 1936 com uma pista improvisada e rodeada de mato, por onde pastava o gado das fazendas da vizinhança- foi espantoso, assim como o da cidade. Em 1957, já era o terceiro maior aeroporto do mundo em volume de carga, perdendo apenas para Londres e Paris. Hoje, é o mais movimentado da América do Sul, com 600 pousos e decolagens por dia.
"O aeroporto mais charmoso do país agora vai ser também um dos mais eficientes e seguros", comemorava ontem Carlos Wilson, em meio aos trabalhadores que corriam contra o relógio para deixar tudo pronto para o domingo.


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