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Minha vida virou um inferno
Fumante, passageiro de ônibus fretado e corintiano, Marcelo, 27, conta que tudo mudou em sua vida nas últimas semanas; "só falta agora eu pegar gripe suína", diz
Letícia Moreira/Folha Imagem
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Marcelo é fumante, passageiro de fretado e corintiano
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
O analista de sistemas Marcelo Taboada não acredita muito em inferno astral, mas nas
últimas semanas viu a vida virar de pernas para o ar. Fumante, passageiro de ônibus fretado, e de quebra corintiano, diz
que anda comendo o pão que o
diabo amassou.
O calvário começou em 27 de
julho passado, quando a prefeitura paulistana proibiu a circulação dos coletivos em boa parte do centro expandido. Poucos
dias depois, em 7 de agosto, entrou em vigor a lei antifumo,
que o obriga, em todo lugar que
vai, a fumar na calçada.
E nesse intervalo, o Corinthians está há cinco jogos seguidos sem ganhar, perdendo
do Palmeiras, do Náutico, do
Flamengo... Bom, mas disso ele
não quer mais falar.
"Está mudando tudo na minha vida. Não posso mais fumar, não posso andar de fretado, não posso dirigir depois de
beber um copinho e ainda por
cima o Corinthians perdendo.
Só falta agora pegar a gripe suína", desabafa enquanto espera
o fretado na estação Sumaré,
depois daquele arranca-cabelo
no metrô no pico das 18h.
Implicância
Rodeado de não fumantes
implicantes que faziam cara de
quem havia acabado de bater
um prato de jiló, Marcelo, o corintiano sofredor, diz, fumando
o último cigarro antes de subir
no ônibus fretado, que tem agora de pagar R$ 100 a mais pelos
bilhetes de metrô, além dos
R$ 365 da condução particular.
Antes, o ônibus fretado que o
leva a Jundiaí, onde mora, parava na alameda Jaú, a poucas
quadras do prédio comercial
em que trabalha na avenida
Paulista. Agora, tem de andar
até uma estação para tomar o
metrô e descer no novo ponto
de embarque que, depois da
proibição da prefeitura, passou
a ser no bolsão da Sumaré.
A mudança de rotina obriga
Marcelo a perder horas de sono
-tem de acordar mais cedo, para não chegar atrasado ao serviço, e o faz chegar ao menos
meia hora mais tarde em casa
depois do dia de trabalho.
"Ah, coitado", ria a professora Amélia Albuquerque, colega
de outro ônibus fretado que ouvia a conversa, mas não fuma
nem é torcedora do Timão.
Fumódromo
Outra coisa que deixa o corintiano Marcelo, 27, fumante
desde os 15 anos, ainda mais sofredor é a nova lei antifumo.
Antes da proibição, acendia os
cigarros durante o expediente
num fumódromo improvisado
numa área coberta da empresa.
Agora, tem de atravessar a
calçada par fumar do outro lado
da rua. Mas o que o faz perder
mesmo a paciência é ter de pagar a conta no bar para sair para
fumar e não poder levar o copo
de cerveja para fora.
"Para boate já não vou mais.
Vai ter de sair para fumar, entrar e pagar de novo, não saio
mais de casa. Só vou a barzinho
que tenha uma área ao ar livre
para fumantes", reclama.
No novo ponto de fretado da
região da avenida Sumaré, ele
se queixa ainda da falta de estrutura. Quando chegar o verão, diz, vai ser pior (porque ali
alaga), e, como por lá não tem
abrigo, vai chover no molhado.
Depois de tanto sofrimento,
o corintiano diz que o último
medo que lhe resta é a gripe suína. No trabalho, espalharam
bombas de álcool em gel para
desinfecção e ele é obrigado a
lavar as mãos de tempos em
tempos. O receio é maior ainda
porque passou a andar de metrô lotado, que não tomava antes de ir para casa.
Gripe suína
Como não há limite para o
pior, o analista de crédito
Emerson André Medeiros Vieira, outro usuário de ônibus fretado, já até deixou de fumar,
mas, na semana em que passou
a andar de metrô para ir ao novo ponto de parada, adoeceu de
gripe -justamente o medo de
Marcelo, o corintiano sofredor.
"Nesse curto espaço de tempo fui afastado do serviço por
sete dias em virtude de uma
forte gripe. Atribuo o contágio à
exposição à massa do transporte público. Seria esse o melhor
momento para restrição aos
ônibus fretados?", diz.
O corintiano Marcelo e o gripado Emerson não a conhecem, mas a história deles se repete na gestora de internet Aline Cristina Luna. Aos 21 anos,
fumante há três, ela diz que a
restrição aos fretados "ferrou"
com a sua vida.
"Acordo uma hora mais cedo,
chego 40 minutos atrasada todo dia no trabalho e ainda tenho de sair meia hora antes do
fim do expediente para pegar o
metrô, que está muito mais
cheio, e não perder o ônibus",
afirma Aline, que de uma semana para cá não pode mais fumar
na cobertura aonde ia antes.
"Como fumante, fiquei "pê"
da vida com essa lei. Vou deixar
de ir aos bares onde não tenha
espaço aberto para fumar. Daqui a pouco vão proibir até..."
Ah, isso não dá para publicar.
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