São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2006

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Monitoras de creche cobram adicional por trocar fralda

VINÍCIUS SEGALLA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de monitoras de creches do município gaúcho de Santa Cruz do Sul (155 km de Porto Alegre) decidiu ir à Justiça para ter direito ao adicional de insalubridade. A alegação: elas trocam fraldas de bebês.
Os pedidos são baseados na portaria 3214/78, do Ministério do Trabalho, que prevê o pagamento do adicional a profissionais que têm contato com portadores de doenças infecciosas, como médicos e enfermeiros (o que representa adicional de até 20% do salário), ou com lixo ou esgoto, como faxineiros e garis (adicional de 40%).
Cerca de 90% das 300 monitoras de creches do município entraram na Justiça. Muitas delas já obtiveram direito ao benefício.
A grande maioria é cliente da advogada Marlise Rahmeier. O argumento usado pela advogada é que "as fezes e a urina são o primeiro estágio do componente do esgoto. Não é justo que as monitoras, que trocam de 20 a 30 fraldas de crianças por dia, não recebam o adicional de insalubridade".
Rahmeier destaca ainda que as crianças são "portadoras de doenças em potencial", o que, conseqüentemente, colocaria as monitoras na mesma condição dos enfermeiros. "As crianças, até apresentarem os sintomas da enfermidade e serem afastadas do convívio da creche, passam dias em contato com as monitoras, que ficam expostas a viroses e outras doenças", argumenta a advogada. Segundo ela, metade de suas clientes já obtiveram ganho definitivo de causa.

Monitoras
Para a monitora Elizabeth Noemia Schewengber, que acaba de ter um recurso negado no TST (Tribunal Superior do Trabalho), a maior instância trabalhista do país, a causa das servidoras é justa.
"A gente lida com xixi, com cocô, com tudo. Chega uma hora em que a gente quer ganhar nossos direitos", afirma ela. Ainda cabe recurso à decisão do tribunal.
Já Renita Lúcia Goerck, uma das primeiras a acionar a Justiça, em 1999, teve sua causa deferida pelo TRT-RS e um adicional de 40% incorporado ao salário, retroativo até 1994. "Eu cheguei a pegar sarampo e sarna. O prefeito mandou eu procurar meus direitos na Justiça. Então, eu fui", conta.
Procurado pela Folha, o procurador-geral de Santa Cruz do Sul, Oraci Garcia Rossoni, disse que não falaria sobre o assunto fora de seu horário de trabalho.


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