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HC demite médico que escreveu livro sobre hospital
Em obra, ex-diretor do Instituto Central
Waldemir Rezende relata irregularidades
Médico demitido "por justa
causa", segundo hospital,
diz que vai recorrer; "Tudo o
que escrevi é verdade e tem
que servir como lição", disse
DA REPORTAGEM LOCAL
O HC (Hospital das Clínicas)
decidiu demitir "por justa causa" o médico Waldemir Rezende, ex-diretor do Instituto Central do hospital, autor de um livro em que relata irregularidades supostamente cometidas
no instituto. A decisão deve ser
publicada hoje no "Diário Oficial" do Estado. O médico diz
que irá recorrer à Justiça.
Lançado em dezembro passado, o livro "Estação Clínicas
-Os Bastidores do Maior Hospital Público da América Latina" conta histórias de superfaturamento, compras sem licitação e furtos, entre outras irregularidades que Rezende diz
ter encontrado no Hospital das
Clínicas ao assumir a direção,
em dezembro de 2002.
"Tenho a consciência tranqüila. Tudo o que escrevi é verdade e tem que servir como lição de como trabalhar e administrar com sucesso", afirmou
ontem Rezende, que ainda não
havia tomado conhecimento da
demissão oficialmente.
Procurado, o HC não quis se
manifestar sobre o caso. A decisão foi tomada pela comissão
de sindicância aberta pelo hospital para apurar suposta
"transgressão de deveres e
proibições funcionais, que configuram procedimentos irregulares de natureza grave".
Formado em 1983 e médico
do HC há 15 anos, Rezende afirma que irá recorrer da decisão à
Justiça do Trabalho. "Eles [HC]
estão no direito deles [de decidir pela demissão]. Mas vou
usar de tudo o que tiver direito
para não deixar mancharem
meu currículo depois de 25
anos", diz o médico, que atua na
Divisão de Clínica Obstétrica.
No livro, o médico não cita
nomes, mas diz que todos os casos estão em atas e foram transformados em sindicâncias internas e boletins de ocorrência.
A Folha apurou, entretanto,
que a comissão decidiu demitir
o médico porque ele não teria
apresentado, durante o processo de sindicância, provas das
acusações feitas no livro e em
entrevistas à imprensa.
O processo teria provado
ainda a legalidade de uma festa
que, segundo o livro, foi bancada por empresas com contrato
com o hospital. Em vez disso, a
festa teria sido paga por funcionários. Rezende não quis comentar detalhes do processo.
"Relatei o que foi encontrado. Quem pode julgar são os
funcionários, que estavam lá
antes e que podem comparar."
Entre as histórias, ele conta
que o HC comprava, de uma
única empresa, feijão, fio cirúrgico, luvas, camisinhas, canetas, lápis e dezenas de outros
itens, quase sempre superfaturados ou de má qualidade e
sem aplicar punições.
(RICARDO SANGIOVANNI e RICARDO WESTIN)
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