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Traficante usa "tias" para barrar ação da PM na Bahia
Mães simulam protestos contra a polícia e prejudicam abordagens, diz Promotoria
Investigação revelou que testemunha, a mando do tráfico, forjou depoimento para acusar Polícia Militar de matar garoto em ação
MATHEUS MAGENTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Para tentar desqualificar e
atrapalhar ações policiais de
combate ao tráfico de drogas na
periferia de Salvador, traficantes passaram a utilizar jovens e
mães de família, chamadas tradicionalmente na Bahia de
"tias", como manifestantes e
testemunhas "profissionais"
em investigações da polícia.
Durante ações da Polícia Militar em áreas de influência dos
traficantes, mães se mantêm
próximas dos policiais como
forma de atrapalhar e tumultuar a abordagem a suspeitos,
diz o Ministério Público.
Ataques contra PMs na semana passada expuseram a força do tráfico. Até sexta, nove
postos da PM foram atacados,
16 ônibus, incendiados, e três
policiais ficaram feridos. Dez
suspeitos foram mortos.
Segundo a promotora Isabel
Adelaide, coordenadora do Gacep (grupo de controle da polícia), testemunhos forjados
também fazem parte de novo
leque de ações de criminosos
para atrapalhar a polícia. Ela
relata o caso de um jovem de 16
anos, assassinado em 2008 na
comunidade Pela Porco, na periferia da capital baiana.
O crime gerou revolta entre
moradores do local, que chegaram a atear fogo em um ônibus.
De acordo com o depoimento
de uma testemunha, o garoto
foi morto a tiros por PMs durante uma ação no local.
"O exame cadavérico do menino revelou que nem de tiro
ele morreu, mas por causa de
um instrumento cortante", diz.
Efeito midiático
Para a pesquisadora Tania
Cordeiro, do Fórum Comunitário de Combate à Violência da
Bahia, criminosos promovem
protestos em horários em que
podem ser exibidos nos telejornais e adotaram a prática de
queimar ônibus inspirados no
PCC, que atua em São Paulo.
"O tráfico necessita mostrar
o seu poder para a polícia, mas
com novas formas de reação,
não apenas baseada em confrontos armados", disse.
É necessário levar em conta
também os excessos em operações policiais, diz a promotora.
Segundo levantamento obtido
pela Folha, nos últimos quatro
anos foram denunciados mais
de 70 policiais, sob suspeita de
homicídio. Todos argumentaram que houve "troca de tiros".
"Não é que a polícia aja sempre certo. Há os excessos, obviamente. O problema é que,
atualmente, as corregedorias
não investigam, o que dificulta
muito dar uma punição a policiais violentos", disse.
Questionado sobre violência
nas ações, Nilton Mascarenhas,
comandante da PM da Bahia,
afirmou que a corporação não
age com viés de execução.
Segundo a Corregedoria da
PM, o número de punições a
policiais caiu 77% nos sete primeiros meses deste ano em relação a 2008 -de 290 para 65.
Mas o número de processos
disciplinares instaurados cresceu 57%, de 410 para 644.
Para a promotora, as condenações a policiais esbarram nos
júris populares. "A sociedade
baiana, baseada no coronelismo, deixa de condenar uma
pessoa se a vítima tiver um
simples porte ilegal de arma. É
como se as pessoas não julgassem o fato, mas a pessoa."
A socióloga Ivone Freire
Costa, que coordena um programa sobre segurança na Universidade Federal da Bahia,
avalia que a "cumplicidade" entre chefes de família, traficantes e policiais corruptos influencia na alta da violência, o
que pode levar a ataques.
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