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Placas nas ruas do Rio confundem biografias
Bolívar foi tratado como "jornalista" e San Martín, como presidente argentino
Prefeitura já trocou parte das informações incorretas, mas falhas ou omissões na identificação de pessoas homenageadas persistem
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
O general libertador de Venezuela, Colômbia, Equador,
Peru e Bolívia, Simón Bolívar,
foi reduzido apenas a "jornalista" na rua de Copacabana, zona
sul do Rio, que o homenageia.
Bolívar também exerceu o jornalismo, mas não foi a carreira
das letras impressas que o notabilizou. Outro revolucionário
da região, San Martín, tampouco foi presidente da República
Argentina, como dizia a placa
na avenida que cruza o Leblon.
As sinalizações da Bolívar e
da San Martín foram trocadas
pela Prefeitura do Rio, mas algumas outras continuam curiosas ou demasiado óbvias.
É o caso da tradicional Atlântica, descrita somente como
"avenida que margeia a praia",
e as que "explicam" que Almirante Gonçalves e Almirante
Belfort, nomes de rua e praça,
foram "militares".
"Não conheço almirante ou
general que não seja militar
nem padre que não seja religioso", ironiza o coronel da reserva do Exército Carlos Alberto
de Lima, autor de "Nomes que
Marcam o Rio", obra lançada
na Bienal do Livro no Rio.
Segundo Lima, correios eletrônicos seus, identificando erros e imprecisões, provocaram
mudanças e correções nas placas. O coronel escolheu cerca
de 400 ruas, prédios públicos,
teatros, hospitais e estádios para contar no livro quem são
aqueles que lhes deram nome.
"Mas muita coisa continua
errada e outras placas foram
substituídas, sem dados sobre
aquela personalidade", disse.
Júlio Albieri, sócio do Grupo
Plamarc, responsável pela sinalização das ruas do Rio desde
2007, confirmou, mas se isenta
de culpa pelos deslizes.
"A prefeitura tinha de nos
fornecer o arquivo histórico
com essas informações, em até
104 toques. Começaram a me
malhar, passei a mandar sem
histórico", disse Albieri.
Segundo ele, há mais de
2.000 processos esperando liberação na prefeitura. A Plamarc ofereceu R$ 4,513 milhões para implantar 18 mil
postes com informações e ter o
direito de explorar publicidade
por 20 anos nesses locais.
O ex-prefeito Cesar Maia disse que se lembra de "uns cinco"
erros do gênero e que pessoalmente reparou em um, andando pela cidade. Sobre os erros
referentes a Bolívar e San Martín, por exemplo, ele sugeriu
que "a empresa poderia usar
Wikipedia". Também afirmou
que bastava pedir ao Instituto
Pereira Passos mais informações sobre os personagens.
O empresário Albieri, que é
autor do site "dicionarioderuas.com.br", de São Paulo,
disse que não usaria o Wikipedia para não cair "em mais uma
esparrela". Ele conta que as cobranças chegaram até ele por
telefone. "Um senhor me ligou
dizendo ser neto de um almirante que tinha homônimo, e
nossa descrição era sobre o homônimo. Como eu poderia saber?", questionou.
Além de muitos generais e
militares em geral, entre os miniperfis apresentados no livro
-com base em pesquisas na Biblioteca Nacional, na prefeitura, na Câmara Municipal, na
Assembleia Legislativa e na internet-, há informações sobre
personalidades como o músico
Heitor Villa-Lobos, o presidente João Goulart, Leila Diniz,
Machado de Assis, o jornalista
Mário Filho (nome oficial do
Maracanã) e Tiradentes.
E se houver erros? O coronel
Lima promete novas edições
com outros nomes de ruas e
eventuais correções.
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