São Paulo, domingo, 13 de setembro de 2009

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Placas nas ruas do Rio confundem biografias

Bolívar foi tratado como "jornalista" e San Martín, como presidente argentino

Prefeitura já trocou parte das informações incorretas, mas falhas ou omissões na identificação de pessoas homenageadas persistem

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O general libertador de Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia, Simón Bolívar, foi reduzido apenas a "jornalista" na rua de Copacabana, zona sul do Rio, que o homenageia. Bolívar também exerceu o jornalismo, mas não foi a carreira das letras impressas que o notabilizou. Outro revolucionário da região, San Martín, tampouco foi presidente da República Argentina, como dizia a placa na avenida que cruza o Leblon.
As sinalizações da Bolívar e da San Martín foram trocadas pela Prefeitura do Rio, mas algumas outras continuam curiosas ou demasiado óbvias.
É o caso da tradicional Atlântica, descrita somente como "avenida que margeia a praia", e as que "explicam" que Almirante Gonçalves e Almirante Belfort, nomes de rua e praça, foram "militares".
"Não conheço almirante ou general que não seja militar nem padre que não seja religioso", ironiza o coronel da reserva do Exército Carlos Alberto de Lima, autor de "Nomes que Marcam o Rio", obra lançada na Bienal do Livro no Rio.
Segundo Lima, correios eletrônicos seus, identificando erros e imprecisões, provocaram mudanças e correções nas placas. O coronel escolheu cerca de 400 ruas, prédios públicos, teatros, hospitais e estádios para contar no livro quem são aqueles que lhes deram nome.
"Mas muita coisa continua errada e outras placas foram substituídas, sem dados sobre aquela personalidade", disse.
Júlio Albieri, sócio do Grupo Plamarc, responsável pela sinalização das ruas do Rio desde 2007, confirmou, mas se isenta de culpa pelos deslizes.
"A prefeitura tinha de nos fornecer o arquivo histórico com essas informações, em até 104 toques. Começaram a me malhar, passei a mandar sem histórico", disse Albieri.
Segundo ele, há mais de 2.000 processos esperando liberação na prefeitura. A Plamarc ofereceu R$ 4,513 milhões para implantar 18 mil postes com informações e ter o direito de explorar publicidade por 20 anos nesses locais.
O ex-prefeito Cesar Maia disse que se lembra de "uns cinco" erros do gênero e que pessoalmente reparou em um, andando pela cidade. Sobre os erros referentes a Bolívar e San Martín, por exemplo, ele sugeriu que "a empresa poderia usar Wikipedia". Também afirmou que bastava pedir ao Instituto Pereira Passos mais informações sobre os personagens.
O empresário Albieri, que é autor do site "dicionarioderuas.com.br", de São Paulo, disse que não usaria o Wikipedia para não cair "em mais uma esparrela". Ele conta que as cobranças chegaram até ele por telefone. "Um senhor me ligou dizendo ser neto de um almirante que tinha homônimo, e nossa descrição era sobre o homônimo. Como eu poderia saber?", questionou.
Além de muitos generais e militares em geral, entre os miniperfis apresentados no livro -com base em pesquisas na Biblioteca Nacional, na prefeitura, na Câmara Municipal, na Assembleia Legislativa e na internet-, há informações sobre personalidades como o músico Heitor Villa-Lobos, o presidente João Goulart, Leila Diniz, Machado de Assis, o jornalista Mário Filho (nome oficial do Maracanã) e Tiradentes.
E se houver erros? O coronel Lima promete novas edições com outros nomes de ruas e eventuais correções.


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