São Paulo, domingo, 13 de setembro de 1998

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S&M 3
Terapeutas afirmam que rituais de submissão e dominação fazem parte do imaginário da maioria das pessoas
Sadomasoquismo light alimenta fantasias

da Reportagem Local

A fantasia de chicotes, correntes e couro povoa a mente da maioria dos casais, hetero e homossexuais. Pelo menos é o que afirmam sexólogos e terapeutas ouvidos; é também o que se depreende da pouca literatura a respeito.
Sobre a prática entre quatro paredes, as pesquisas são também vagas. Estimativas internacionais estabelecem em 1% o número de pessoas que tem algum "transtorno de preferência", aqui incluídos fetichismo, exibicionismo, voyeurismo e outros.
Mas é no sadomasoquismo light, adotado por casais absolutamente normais, que a prática tem maior número de adeptos.
Em seu livro "Objetos do Desejo", Oswaldo Rodrigues Júnior cita uma pesquisa com universitários paulistanos em que 48% disseram já ter tido relação sexual em que a dor estava associada ao prazer. Entre as mulheres, a porcentagem era de 40,9%.
Nesta pesquisa (realizada por Marques, Domingues e Dante), 35% dos homens e 26% das mulheres disseram usar a mordida como uma forma de produzir dor.
O relatório Kinsey, de 1954 -um vasto estudo sobre o comportamento sexual do norte-americano-, 55% das mulheres e 50% dos homens afirmaram reagir eroticamente a mordidas.
Em outro estudo citado por Rodrigues Júnior, as mulheres colocaram a prática masoquista em 7º lugar numa lista de 19 preferências sexuais. Para elas, o sadismo aparece em 12º. Os homens colocaram o ser sádico em 11º. Nesse estudo, homens e mulheres preferiam que o outro fosse sádico.
Carmita Abdo, do Instituto de Psiquiatria, afirma que a maioria já adotou ou adota alguma prática que tem a ver com o sadomasoquismo. Nesse universo, valem os tapas no bumbum, os arranhões e palavrões. A cena do deixar-se amarrar na cama -onde os nós são desatados com a boca- é relatada com frequência.
"Todo mundo tem fantasias que envolvem submissão e dominação", diz a terapeuta social Aparecida Vanini Favoreto.
Muitos precisam da ajuda de terceiros para materializá-las. "A maioria pede que eu não deixe marcas, porque em seguida voltarão para suas casas e dormirão com suas mulheres", afirma "Suzana, a dominadora", uma garota de programa "especializada" que atende no bairro de Pinheiros.
(ANTONINA LEMOS
E AURELIANO BIANCARELLI)



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