|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIOLÊNCIA 2
Quadrilha liderada por PM é apontada como responsável por 23 crimes em apenas uma rua de SP
Violência 2: Polícia prende acusados de 150 mortes
da Reportagem Local
A Polícia Civil de São Paulo
acredita ter descoberto uma das
maiores quadrilhas de matadores
de aluguel que já atuou no Estado:
seriam mais de 150 homicídios, 23
deles em uma única viela.
São 17 pessoas acusadas de matar por dinheiro ou para "garantir
a ordem" na Paraguai, favela fundada e dominada pelo bando no
Jardim Varginha, extremo sul de
São Paulo, a décima área no ranking da violência da cidade.
Nove dos acusados já estão presos. Todos narraram em detalhes
a maneira de agir da quadrilha,
mas apenas dois confessaram à
polícia os assassinatos.
Na "limpeza ética" que os acusados julgam estar promovendo,
a polícia identificou três tipos básicos de vítimas: as escolhidas, as
encomendadas e as casuais.
No primeiro grupo estão as que
"sujam a área", como dizem os
moradores da favela. São pessoas
que, acreditam os matadores, trazem ou poderão trazer problemas
para a favela. Vale marido que bateu na mulher, favelado que vendeu o barraco sem autorização do
bando, traficante, viciado, ladrão
e até desocupado, "porque já vai
começar a roubar".
No segundo grupo de vítimas
estão inimigos pessoais e concorrentes de comerciantes da periferia, para os quais a quadrilha
presta "serviços de segurança",
segundo a polícia.
Dez comerciantes são suspeitos
de patrocinar parte dos crimes
atribuídos ao bando. Pagariam de
R$ 1.000 a R$ 5.000 por cabeça.
Seus nomes são mantidos em
sigilo pelos investigadores. Eles já
depuseram e negaram terem sido
os mandantes dos crimes. Mas terão as contas bancárias rastreadas
porque há suspeita de que já tenham custeado advogados para a
quadrilha.
Entre as ações de "limpeza da
área" e as mortes encomendadas,
alguns tiros "erram o alvo". É o
terceiro grupo de vítimas: trabalhadores que andam com os jurados de morte ou que simplesmente estão no lugar errado, na hora
errada -são mortos por terem
testemunhado o "crime original".
Até sexta-feira, já havia indícios
da participação dos acusados em
60 assassinatos ocorridos nos últimos três anos. Como agem há oito, segundo a polícia, o número
de vítimas pode chegar a 150.
O índice é próximo do registrado durante todo o ano passado na
área do 37º DP (Campo Limpo), a
quarta mais violenta da cidade,
onde a gangue também atua, de
acordo com as investigações.
Na favela do Paraguai todo
mundo conhece essas histórias de
cor, mas poucos falam a respeito
delas. Dizem nunca ter ouvido falar dos acusados mesmo que um
deles seja seu vizinho de parede.
"Precisamos viver, moça", resumiu à Folha uma mulher de aproximadamente 50 anos que foi
abordada pela reportagem na Samuel Scott -uma rua de 300 metros onde 23 pessoas foram mortas no último ano.
É a lei do silêncio imposta pelo
bando. Até junho passado, ela era
uma regra seguida por todos. No
dia 12 daquele mês, porém, 27 tiros mataram sete pessoas em um
bar da Samuel Scott. Algumas das
vítimas moravam na favela, entraram nas estatísticas das vítimas
casuais, e alguém resolveu falar.
Um denunciante anônimo e um
adolescente são os maiores condutores da investigação policial.
No local do crime, após seis horas
de trabalho dos investigadores, o
menor foi o único a falar com a
polícia entre os mais de 500 moradores que cercavam o bar.
"Ele se aproximou e perguntou
por que nós não íamos atrás de
um Chevette cinza que acabara de
passar pela rua", conta o delegado
Luiz Osilak Nunes da Silva, que
conduz as investigações.
O Chevette de placas CMF-3779/SP pertencia ao soldado da
PM João José dos Santos, conhecido como Xirana, que, juntamente com seus comparsas, segundo o adolescente, haviam cometido o crime. Como ele, soube-se mais tarde, todos os demais
acusados passaram em frente ao
bar e intimidaram os moradores
enquanto a polícia fazia a perícia.
(SÍLVIA CORRÊA).
Texto Anterior: Walter Ceneviva: Livros Jurídicos Próximo Texto: Denunciante garante prisão Índice
|