São Paulo, Segunda-feira, 13 de Setembro de 1999
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REBELIÃO
Número divulgado por presidente da entidade pode estar subestimado, e fugitivos podem ser 500
350 menores fogem da Febem em final de semana com agressões e tumulto

Dado Junqueira/Folha Imagem
Internos da Febem, durante rebelião na unidade da Imigrantes


ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

O complexo da Imigrantes da Febem, na zona sudeste de São Paulo, teve nova rebelião e fuga neste final de semana. Da tarde de sábado até a manhã de ontem, 350 adolescentes conseguiram fugir, segundo o presidente da Febem, Guido Antonio Andrade. Até as 22h, 158 foram recapturados.
Funcionários da unidade e policiais militares acreditam que esse número está subestimado. A avaliação extra-oficial é que fugiram cerca de 500 internos e 76 haviam sido recapturados.
Na hipótese de o número maior estar correto, a fuga pode ter sido recorde. Em julho, 459 internos já haviam fugido da mesma unidade. Em novembro de 97, houve fuga de 470 menores, também da Imigrantes.
Os problemas do fim-de-semana não se limitaram às fugas. Há suspeita de que monitores espancaram menores do sábado para o domingo -imagens de TV mostram adultos batendo em internos já dominados- e a tropa de choque da Polícia Militar feriu pelo menos seis pessoas ao disparar balas de borracha contra familiares de internos, ontem.
Fugas e tumultos começaram nas alas B, C e D das duas unidades de acolhimento provisório do complexo, no final do sábado, logo após a visita. A revolta começou em razão do suposto espancamento de dois meninos por funcionários, no sábado de manhã. Um funcionário foi tomado como refém.
Durante o início da rebelião, familiares que visitavam os menores permaneceram nas unidades. Nesse momento, pelo menos 50 adolescentes fugiram.
Os dormitórios foram incendiados e o fogo só foi contido com a chegada dos bombeiros. O funcionário só foi libertado depois de negociação com promotores.
Segundo o promotor Ebenezer Salgado Soares, da Vara da Infância e da Juventude de São Paulo, a negociação para a libertação do refém envolveu um fato inédito. "Os menores exigiram que a tropa de choque entrasse nas unidades rebeladas para tirar os monitores, com medo de retaliação por parte dos funcionários."
Ontem de manhã houve nova rebelião, quando fugiram os demais adolescentes.
Por volta das 12h, parentes de menores internados invadiram o complexo e conseguiram entrar nas unidades rebeladas. Mães disseram ter visto jovens apanhando de monitores. Às 15h45, a tropa de choque atirou com balas de borracha contra parentes dos internos, na frente da unidade.
As informações sobre o número de fugitivos e de recapturados não eram passadas à imprensa pela Febem, mas pelo senador Eduardo Suplicy e pelo padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Menor, que ontem visitaram a unidade.
A unidade também foi visitada por Paulo Sérgio Pinheiro, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, e pelo deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos na Assembléia, Renato Simões (PT).
O governador Mário Covas foi procurado ontem à noite pela Folha, mas não foi localizado.
Durante todo o dia de ontem, o que mais preocupava os parentes dos adolescentes internados era a falta de informação. A Febem não divulgava os nomes dos fugitivos e dos recapturados.
Toda vez que um carro da polícia chegava trazendo um menor recapturado, as mães corriam para o vidro do carro para tentar identificar o rapaz detido.


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