São Paulo, Quarta-feira, 13 de Outubro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Público é maior que o do papa João Paulo 2º

da Sucursal do Rio

"Ê, ô, ê, ô, Jesus Cristo é um terror!" A adaptação do grito de guerra das torcidas de futebol, cantado por grupos de fiéis que chegavam desde cedo ao Maracanã para a celebração "Em Nome do Pai", foi uma das marcas de um evento que reuniu ontem, segundo a contagem feita nas roletas, 161.722 mil pessoas -o maior público do estádio nesta década.
A celebração organizada pela Arquidiocese do Rio e pelo movimento Renovação Carismática bateu outros recordes. Para ver juntos, pela primeira vez, os padres Marcelo Rossi, Zeca, Zezinho, Jorjão, Jonas Abib e Antonio Maria, entre outros, o Maracanã recebeu um público maior do que nas apresentação do próprio papa ou de artistas como Frank Sinatra e Paul McCartney.
Em outubro de 1997, João Paulo 2º atraiu cerca de 120 mil pessoas. Sinatra reuniu 140 mil em janeiro de 1981; McCartney, 130 mil em abril de 1991. O maior público foi em 1969, no jogo Brasil 1 x 0 Paraguai, pelas eliminatórias para a Copa de 70: 183.341 pagantes.
Além dos padres, apresentaram-se no palco 12 bandas católicas e um coral de 2.000 pessoas.
Desde as 6h, católicos chegavam aos portões do Maracanã, que só seriam abertos às 11h. Por volta das 10h, o clima ao redor do estádio era de um grande clássico de futebol -com camisas de times substituídas por camisas com estampas de Nossa Senhora ou do padre Marcelo Rossi.
"Aha, uhu, O Jesus é nosso!", cantava um grupo de adolescentes de uma paróquia de Santa Teresa (centro do Rio), ao chegar ao estádio, uma alusão ao grito de guerra das torcidas cariocas "Aha, uhu, o Maraca é nosso!".
Às 13h30, os portões foram fechados -lá dentro, de acordo com a Suderj, que administra o Maracanã, já estavam 142 mil pessoas, o que causou uma troca de acusações entre a arquidiocese e os administradores do estádio.
"Autorizamos 122,5 mil pessoas. A arquidiocese distribuiu 20% a mais de ingressos do que o combinado", disse o presidente da Suderj, Francisco de Carvalho.
"Não houve isso. Fizemos só 120 mil ingressos", disse Adionel Cunha, assessor da arquidiocese.
Com os portões fechados, houve confusão do lado de fora. Engenheiros da Suderj foram chamados para verificar se o estádio poderia receber mais pessoas. "Eles constataram que poderíamos receber mais gente. O público de um evento como esse é calmo, não é o de um jogo de futebol."
Às 15h40, portões reabertos, mais 20 mil entraram, muitos sem convite, correndo e gritando "Ei, ei, ei, Jesus é nosso rei".

D. Eugenio
A celebração de ontem no Maracanã estava programada para ser inicialmente uma grande festa da Renovação Carismática, grupo nascido dentro da Igreja Católica para fazer frente ao crescimento das igrejas evangélicas.
No final, a celebração mostrou, mais uma vez, a vitalidade do cardeal-arcebispo d. Eugenio Sales, 78, que por volta das 18h iniciou a missa solene.
O evento vinha sendo preparado desde o início do ano pelos fiéis ligados à Renovação. Há cerca de dois meses, d. Eugenio tomou a frente do evento.
A Folha apurou que havia preocupação de que o evento fosse mal organizado, o que poderia arranhar a imagem da igreja. Houve insatisfação entre os carismáticos. A vinda do padre Marcelo ocorreu por interferência direta de d. Eugenio. Os carismáticos haviam tentado trazê-lo, sem sucesso. A autorização havia sido negada pelo bispo Fernando Figueiredo, da diocese de Santo Amaro, a quem Rossi está subordinado.
Quando decidiu tomar para si a organização, d. Eugenio chamou toda a equipe que havia participado da organização da visita do papa João Paulo 2º, em outubro de 1997. Ligou para d. Fernando, seu amigo, e explicou que era o coordenador do evento. Marcelo Rossi recebeu então autorização.



Texto Anterior: Festas católicas reúnem 329 mil
Próximo Texto: Perigo é o fanatismo, diz padre
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.