São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2004

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GUERRA SEM TRINCHEIRA

No Rio, PMs deixam o patrulhamento das ruas por uma hora após morte de colegas em emboscada

Policiais protestam por falta de segurança

Guilherme Pinto/Agência O Globo
Policial deixa o patrulhamento após morte de colegas; batalhão reclama das condições de trabalho


MICHEL ALECRIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Dois policiais militares foram mortos em uma emboscada na madrugada de ontem em Inhaúma (zona norte do Rio de Janeiro). Eles tinham ido ao local a fim de verificar uma suposta denúncia de falsa blitz. Foram cercados e assassinados por criminosos armados com fuzis.
Em protesto, PMs do 3º Batalhão (Méier, zona norte) deixaram o patrulhamento das ruas da região por cerca de uma hora.
O crime ocorreu pouco antes das 6h. O serviço 190 da polícia recebeu um telefonema informando que homens armados estavam assaltando motoristas na avenida Martin Luther King, próximo à favela da Galinha.
Segundo a polícia, duas equipes do Batalhão de Patrulhamento de Vias Especiais (BPVE) checaram a reclamação feita pelo telefone, mas nada encontraram.
Em seguida, a patrulha do 3º BPM foi verificar a mesma informação e viu uma moto caída no chão. Momentos depois, foram atacados.
O sargento Arthur Guedes Freire, 35, e o soldado Adriano Reis Barbosa de Moura, 31, foram mortos com vários tiros. Ainda chegaram a ser socorridos por colegas, mas morreram a caminho do hospital Salgado Filho.
Indignados com a morte dos colegas, policiais fizeram um protesto na sede do batalhão. Parte deles, que já estava nas ruas para o início do plantão, retornou ao quartel. Eles se queixaram das condições de trabalho, principalmente do estado dos coletes à prova de balas, que seriam obsoletos.
Outra queixa manifestada pelos policiais foi em relação à chamada "operação visibilidade", em que as patrulhas ficam paradas em pontos considerados estratégicos.
O comandante-geral da PM, coronel Hudson de Aguiar, negou ter havido o protesto. Segundo ele, as equipes que estavam nas ruas foram convocadas pelo comandante do batalhão, tenente-coronel Hélio Luiz, para orientá-las a não esmorecer diante das mortes.
"Nosso trabalho vai continuar. Não vamos recuar diante de nada", afirmou Aguiar.
Os policiais foram enterrados à tarde no cemitério Jardim da Saudade (Sulacap, zona oeste), com honras militares. O irmão do sargento, o PM da reserva João Guedes, fez um discurso criticando as autoridades e a violência no Rio. Outros três irmãos da vítima trabalham na PM. João e o irmão José Guedes estão aposentados por terem sido baleados em serviço.
"Que o nosso sofrimento não acabe no esquecimento. As autoridades precisam dar uma resposta. Do jeito que está, as pessoas estão se escondendo dentro de casa", afirmou João Guedes, que também perdeu um cunhado policial civil, em um ataque de criminosos, há dois anos.
Arthur Guedes, que era casado, deixou um filho de cinco anos e uma filha de sete meses.
O irmão do soldado Adriano de Moura, Fabiano, 26, fez um protesto em frente ao batalhão do Méier. Segundo ele, o colete usado pelo policial morto não tinha placa protetora. A PM negou, informando que o material ficou no batalhão. O soldado casou-se em abril deste ano e não tinha filhos.
O presidente da Associação dos Ativos, Inativos e Pensionistas da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, Miguel Cordeiro, disse que a insatisfação na PM com as condições de trabalho é muito grande. Além dos coletes, os agentes teriam se queixado da falta de checagem das informações recebidas pelo serviço 190.
Cordeiro afirmou que os PMs do batalhão do Méier iniciaram uma operação tartaruga. Além de demorar a verificar as denúncias, eles estariam evitando circular pelas ruas.

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