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GEOGRAFIA DA EXCLUSÃO
Após reintegrações de posse, famílias vivem em barracos improvisados na Luz e na Capela do Socorro
Despejados "favelizam" ruas na capital
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma placa publicitária sobre a
porta do barraco anuncia "pronto
para morar". As paredes de madeira, feitas com material de propaganda de imóveis, falam em
apartamentos de quatro quartos
com duas suítes.
No entanto, o barraco, assim como outros 22 montados na rua
Plínio Ramos (centro de São Paulo), possui apenas um cômodo. A
maioria abriga mais de uma família, integrantes do MMRC (Movimento de Moradia da Região
Centro) que moravam num prédio invadido na mesma rua.
Retirados por ordem judicial
após terem invadido propriedades particulares, sem-teto do centro e da zona sul estão favelizando
vias próximas aos locais desocupados. Na Plínio Ramos, as famílias acamparam na calçada e vivem em uma estrutura de favela,
com barracos feitos de pedaços de
madeira, banheiro improvisado e
cozinha comunitária.
Os grupos cobram projetos habitacionais dos governos Geraldo
Alckmin e José Serra (ambos do
PSDB) e criticam só terem recebido a oferta de abrigos e bolsas
emergenciais. Um cartaz na rua
Mauá, onde já existem 41 barracos, responsabiliza as duas esferas
de governo: "Aqui nasce a favela
Alckmin, mais uma obra Serra".
A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social disse que ofereceu abrigos para todas as famílias provenientes
de desocupações. Segundo a secretaria, elas ficariam separadas
dos moradores de rua e poderiam
permanecer durante todo o dia
no local. O governo estadual concedeu o benefício de R$ 250 mensais, durante um ano, para as famílias da Plínio Ramos.
No entanto, segundo os moradores, muitos não conseguem sair
da rua porque não são aceitos em
pensões devido à quantidade de
filhos. Eles também afirmam ter
dificuldade de alugar um apartamento por falta de fiador.
Se dizendo sem opção, a desempregada Simone Monteiro, 23,
improvisou moradia para ela, o
marido e três filhas (de 5, 4 e 3
anos) dentro de uma Brasília. Os
bancos do carro foram retirados
para poder comportar um colchão de solteiro no qual dorme o
casal. As crianças deitam numa
superfície de espuma improvisada na mala do carro. "Viver aqui é
muito apertado, acordo com dor
no corpo. A vantagem é que não
molha quando chove. Nos barracos, fica tudo inundado", conta.
Segundo um dos coordenadores do MMRC, Nelson da Cruz
Souza, o ideal é que o dinheiro
fosse usado para alugar um prédio onde as famílias pudessem ficar juntas. Souza diz não ser ligado a partidos políticos.
Na rua Mauá, os barracos foram
montados por sem-teto que moravam há três anos num prédio
também invadido na rua Paula
Souza (centro). Os moradores,
que dizem não fazer parte de movimentos organizados, foram retirados do local no início do mês.
"O prefeito deveria dar o terreno para a gente fazer mutirão e
construir nossas casinhas", afirmou Gabriela de Paula, 28, que está grávida de oito meses e mora
num barraco na Mauá com o marido e os três filhos.
Comerciantes da região reclamam dos novos vizinhos e dizem
que eles afastam os compradores.
"Os clientes sentem medo, ficamos sem saber se eles vão voltar",
afirmou Sueli Rocha, 29, proprietária de uma loja de venda de sal.
Ela disse que, se o problema não
for resolvido, não renovará o contrato de aluguel da loja, que vence
no final do ano.
No bairro Capela do Socorro
(zona sul), famílias retiradas de
um terreno particular ocuparam
uma praça e quebraram bancos e
brinquedos para poder construir
36 barracos no local. Outros 40
barracos ficam numa rua próxima à praça. O líder dos moradores, Wesley Lopes, diz que a prefeitura não ofereceu abrigo.
A secretaria estadual de assistência social informou que o grupo recusou o benefício de R$ 250.
Lopes nega a informação e diz que
as famílias esperam o dinheiro.
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