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Superbactéria é alerta para hospitais, diz infectologista
Para Timerman, falta higiene tanto em instituições privadas como em públicas
Klebsiella pneumoniae carbapenemase já circula por UTIs de grandes hospitais de São Paulo desde 2008
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
A superbactéria KPC
(Klebsiella pneumoniae carbapenemase), que pode ter
causado 18 mortes no Distrito
Federal neste ano, já circula
por UTIs de grandes hospitais de São Paulo desde 2008.
Só no Hospital das Clínicas,
foram 70 casos no período.
A situação preocupa porque não há antibiótico capaz
de contê-la. Ao mesmo tempo, ela encontra terreno fértil
para a proliferação nos hospitais por falta de higiene. O
alerta é de Artur Timerman,
57, um dos infectologistas
mais conceituados no país.
"Se você vai a qualquer um
dos grandes hospitais de São
Paulo, público ou privado,
vai ver que o índice de lavagem de mãos não chega a
40%", diz o chefe do serviço
de controle de infecções hospitalares do hospital Edmundo Vasconcelos. Timerman
também atua no Dante Pazzanese e no Albert Einstein.
No Brasil, os primeiros registros de KPC são de 2005,
em São Paulo. Há casos no
Paraná, Rio, Recife, João Pessoa, Vitória e Rio Grande do
Sul. Nos EUA, o problema é
endêmico em várias regiões.
A seguir, trechos da entrevista de Timerman à Folha.
Folha - A velocidade dos registros da KPC tem aumentado muito no Brasil. O momento é preocupante?
Artur Timerman - A situação é perigosa. Temos isolado cada vez mais bactérias
intratáveis, e a KPC é a que
mais preocupa no momento.
E o que se faz diante disso?
É preciso uma vigilância
mais estrita, um isolamento
mais rigoroso. A KPC tem a
ver com a gravidade da doença, mas também com a falta
de cuidados básicos, como
lavar as mãos corretamente.
Mas isso não ocorre por quê?
Para começar, não há funcionários suficientes. Para
cada paciente grave, deveríamos ter um atendente [de enfermagem]. Hoje, a média é
de um atendente para cinco
ou seis pacientes. Isso leva à
infecção cruzada, se ele não
lava a mão de forma correta.
Os cateteres de acesso venoso, as sondas urinárias, os
tubos do pulmão têm de ser
trocados sempre que preciso
e isso nem sempre acontece.
Sem contar o uso indiscriminado de antibióticos. Às vezes, você vê paciente tomando seis antibióticos. Parece
que querem matar as bactérias afogadas de antibióticos.
A maior preocupação é só
com os pacientes internados
ou as pessoas da comunidade
também correm algum risco?
Risco sempre tem. A história da bacteriologia mostra
isso. A UTI é o foco onde as
bactérias surgem e depois se
espalham para a comunidade. Não é logo que vai haver a
disseminação, mas é um risco em potencial. Não é para
causar pânico, mas a situação é de alerta. Estamos no limiar de uma situação que pode vir a ser muito grave.
Estamos perdendo a batalha
para as superbactérias?
A corrida já foi perdida.
Nenhum dos antibióticos novos trata a KPC. Paciente com
KPC deveria ser isolado, manuseado por uma pessoa só,
para evitar a transmissão
cruzada. Preocupa porque é
fácil falar, mas difícil de implementar. Em qualquer um
dos grandes hospitais de São
Paulo, público ou privado, o
índice de lavagem de mãos
não chega a 40%. Falo de lavar as mãos direito, um minuto lavando dos dois lados.
O que pode ser feito?
As autoridades, os hospitais têm que se mexer, senão
vai virar uma calamidade. Alguns autores já vêm tratando
essa fase como início da "era
pós-antibiótico". Ou seja, temos superbactérias e não temos recursos de tratamento.
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