São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2010

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Superbactéria é alerta para hospitais, diz infectologista

Para Timerman, falta higiene tanto em instituições privadas como em públicas

Klebsiella pneumoniae carbapenemase já circula por UTIs de grandes hospitais de São Paulo desde 2008

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

A superbactéria KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase), que pode ter causado 18 mortes no Distrito Federal neste ano, já circula por UTIs de grandes hospitais de São Paulo desde 2008. Só no Hospital das Clínicas, foram 70 casos no período. A situação preocupa porque não há antibiótico capaz de contê-la. Ao mesmo tempo, ela encontra terreno fértil para a proliferação nos hospitais por falta de higiene. O alerta é de Artur Timerman, 57, um dos infectologistas mais conceituados no país.
"Se você vai a qualquer um dos grandes hospitais de São Paulo, público ou privado, vai ver que o índice de lavagem de mãos não chega a 40%", diz o chefe do serviço de controle de infecções hospitalares do hospital Edmundo Vasconcelos. Timerman também atua no Dante Pazzanese e no Albert Einstein.
No Brasil, os primeiros registros de KPC são de 2005, em São Paulo. Há casos no Paraná, Rio, Recife, João Pessoa, Vitória e Rio Grande do Sul. Nos EUA, o problema é endêmico em várias regiões. A seguir, trechos da entrevista de Timerman à Folha.

 

Folha - A velocidade dos registros da KPC tem aumentado muito no Brasil. O momento é preocupante?
Artur Timerman - A situação é perigosa. Temos isolado cada vez mais bactérias intratáveis, e a KPC é a que mais preocupa no momento.

E o que se faz diante disso?
É preciso uma vigilância mais estrita, um isolamento mais rigoroso. A KPC tem a ver com a gravidade da doença, mas também com a falta de cuidados básicos, como lavar as mãos corretamente.

Mas isso não ocorre por quê?
Para começar, não há funcionários suficientes. Para cada paciente grave, deveríamos ter um atendente [de enfermagem]. Hoje, a média é de um atendente para cinco ou seis pacientes. Isso leva à infecção cruzada, se ele não lava a mão de forma correta.
Os cateteres de acesso venoso, as sondas urinárias, os tubos do pulmão têm de ser trocados sempre que preciso e isso nem sempre acontece. Sem contar o uso indiscriminado de antibióticos. Às vezes, você vê paciente tomando seis antibióticos. Parece que querem matar as bactérias afogadas de antibióticos.

A maior preocupação é só com os pacientes internados ou as pessoas da comunidade também correm algum risco?
Risco sempre tem. A história da bacteriologia mostra isso. A UTI é o foco onde as bactérias surgem e depois se espalham para a comunidade. Não é logo que vai haver a disseminação, mas é um risco em potencial. Não é para causar pânico, mas a situação é de alerta. Estamos no limiar de uma situação que pode vir a ser muito grave.

Estamos perdendo a batalha para as superbactérias?
A corrida já foi perdida. Nenhum dos antibióticos novos trata a KPC. Paciente com KPC deveria ser isolado, manuseado por uma pessoa só, para evitar a transmissão cruzada. Preocupa porque é fácil falar, mas difícil de implementar. Em qualquer um dos grandes hospitais de São Paulo, público ou privado, o índice de lavagem de mãos não chega a 40%. Falo de lavar as mãos direito, um minuto lavando dos dois lados.

O que pode ser feito?
As autoridades, os hospitais têm que se mexer, senão vai virar uma calamidade. Alguns autores já vêm tratando essa fase como início da "era pós-antibiótico". Ou seja, temos superbactérias e não temos recursos de tratamento.


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