São Paulo, terça, 13 de outubro de 1998

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SAÚDE
Prematuro de oito meses, o menino está na UTI com anemia e seria submetido a transfusão de sangue ainda ontem
Nasce o 1º bebê da pílula de farinha em SP

SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local

Suposta vítima das pílulas de farinha, a funcionária pública Dalva Alves Ferreira, 32, deu à luz um menino às 12h30 de ontem no hospital Albert Einstein (zona sudoeste de SP), onde estava internada desde o último dia 6.
Dalva é a primeira entre as supostas vítimas paulistas do anticoncepcional Microvlar a ter a criança. As pílulas são fabricadas pela Schering do Brasil (não confundir com Schering-Plough).
Entre janeiro e abril, a empresa produziu duas toneladas de placebos para testes de embalagem, mas parte deles chegou ao mercado após suposto roubo.
Com o marido desempregado, Dalva diz que ficou desesperada quando descobriu em 4 de março que estava grávida. Há um ano, a renda da família (o casal e dois filhos) resume-se aos R$ 240 mensais que Dalva ganha na prefeitura.
Michael, o terceiro filho, nasceu prematuro de oito meses, com 2,5 kg, e continuava na UTI até a noite de ontem. Segundo a família, ele estava anêmico e seria submetido a transfusão de sangue.
O advogado de Dalva, Francisco Abdalah Lakis, disse que sua cliente resolveu entrar na Justiça ao saber pelos meios de comunicação do caso das pílulas de farinha.
A ação foi impetrada em 18 de setembro contra a Shering e a Drogasil, onde a funcionária pública diz ter comprado o remédio.
Em 24 de setembro, a juíza Maria Adelaide de Campos França, da 26ª Vara Cível, concedeu tutela antecipada (uma espécie de liminar), obrigando as duas empresas citadas a pagarem os exames e as despesas hospitalares de Dalva, que já somam R$ 4.228, considerado o preço padrão do hospital.
O advogado afirma ter anexado ao processo uma declaração médica que atesta que sua cliente engravidou enquanto estava tomando o Microvlar, além de uma nota fiscal de compra do medicamento onde constaria o número do lote.
No final da tarde de ontem, Dalva falou à Folha por telefone. Ela disse que tomava o Microvlar desde 1990 e confirmou que a caixa com pílulas de farinha foi comprada pelo marido no dia 11 de fevereiro na farmácia Drogasil da rua General Carneiro (região central). Dalva disse ainda que foi submetida à cesariana e que ligou as trompas "para evitar problemas".
O marido de Dalva, o eletricista Ataíde Cristino, 33, afirmou que a mulher teve uma gravidez complicada pela incompatibilidade sanguínea do casal. O problema já teria ocorrido na gestação de seu segundo filho, Michelle, 1 ano.
O Albert Einstein não divulgou nenhuma informação sobre a paciente. Dalva é a segunda suposta vítima do caso Microvlar a dar à luz. Os "primogênitos", meninas gêmeas, nasceram em 9 de setembro em Volta Redonda (RJ).



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