São Paulo, terça, 13 de outubro de 1998

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Suicídio é prova de honra no RS

do enviado especial

O suicídio para os gaúchos do Rio Grande do Sul e habitantes de regiões vizinhas é uma forma de conservar a honra e a masculinidade. Mais do que em qualquer outra cultura, não há alternativas para o homem quando já não pode mais galopar pelos campos e jogar seu laço. Saem de manhãzinha, como se fossem ao trabalho, escolhem uma árvore solitária e se enforcam.
A tese é da antropóloga Ondina Fachel Leal, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autora do estudo "Suicídio, Honra e Masculinidade na Cultura Gaúcha". Ondina não participa do encontro do México, mas seu trabalho está entre os mais citados. Em seu estudo, ela cita estatísticas que colocam o Rio Grande do Sul como o Estado campeão em suicídios (10,6 por 100 mil habitantes), 70% deles entre homens.
Segundo ela, o suicídio é legitimado dentro da cultura gaúcha e visto como um direito. A pessoa que se mata não é tida como vítima de alguma enfermidade.
"O gaúcho vive perigosamente", escreve Ondina. "Domar cavalos chucros, por exemplo, é um duelo onde pode se ferir seriamente. Em cada dia, ele precisa reafirmar que não teme a morte."
De acordo com o estudo, durante toda a sua vida, o gaúcho evita laços. Coincidência ou não, a morte também vai mantê-lo longe do solo. A grande maioria dos gaúchos que se suicidam morre enforcado, sem que os pés toquem o chão. (AB)


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