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SAÚDE
Conselho do HC aponta má gestão no gerenciamento do instituto, que nega e reclama de falta de repasse de verbas
Fundação do Incor deve R$ 200 milhões
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A dívida da Fundação Zerbini,
entidade privada que administra
o maior instituto público de cardiologia da América Latina, o Incor de São Paulo, chega hoje a R$
200 milhões, diante de um orçamento de R$ 230 milhões anuais.
O quadro foi apresentado ontem pelo conselho deliberativo do
Hospital das Clínicas da USP, ao
qual o Incor está ligado, e pela
própria fundação. As duas instituições estão em guerra por causa
do endividamento, mas ambas
cobraram ações do governo Geraldo Alckmin (PSDB) para a solução do problema.
O hospital quer um auxílio financeiro para o pagamento. Já a
fundação cobra verbas que não
teriam sido repassadas pelo governador. O instituto faz hoje um
total de 250 mil consultas por ano,
em média, 13 mil internações,
5.000 cirurgias e 2 milhões de exames diagnósticos. Problemas no
atendimento não estão descartados, a longo prazo, caso a situação
não se resolva.
A Zerbini foi criada com anuência do HC para melhorar a estrutura do Incor, como acelerar as
contratações e viabilizar mais rapidamente os investimentos, justamente por não ter as amarras de
um órgão estatal.
O conselho do hospital atribui o
endividamento a uma má gestão
de verbas pelo hoje presidente do
Incor e do conselho curador da
fundação, José Ramires, e tentou
afastá-lo do cargo.
"A fundação está tecnicamente
falida, pois não tem patrimônio
para pagar a dívida", afirma Marcos Boulos, integrante do conselho deliberativo do hospital.
Ontem, o HC apresentou resultados de uma auditoria independente que aponta controles inadequados das compras e estoques
da fundação. Segundo o órgão, a
situação "é grave".
Já Paulo Bonadies, advogado de
José Ramires, acusou ontem o governo Alckmin de "tungar", nos
últimos cinco anos, R$ 100 milhões destinados à entidade que
defende, isso principalmente em
razão de repasses não realizados
pelo governador e aportes feitos
pelo governo federal, mas não direcionados pelo Estado à Zerbini,
de acordo com sua versão.
Ainda segundo Bonadies, Alckmin não teria honrado compromisso do ex-governador Mário
Covas de pagar empréstimo de R$
40 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), dívida de longo
prazo assumida pela fundação e
que chega a R$ 120 milhões.
"A fundação arca com dois terços do custeio do Incor, hoje de
R$ 230 milhões", afirmou o advogado da Zerbini. "Há um clima de
beligerância, disputa de egos. Eles
[o conselho] estão matando a galinha dos ovos de ouro do hospital, do Incor [a fundação], e diminuindo a oportunidade de se tratar em um centro de excelência",
continuou, classificando em seguida o conselho do hospital como "uma turba", que estaria causando, com as acusações, dificuldades para a fundação obter novos empréstimos no sistema financeiro e recursos de doações.
Bonadies nega a falência.
Segundo o advogado, a fundação vem pagando 1.600 funcionários que deveriam estar sob responsabilidade do governo do Estado. O hospital informou que recentemente Alckmin assumiu os
salários de mais de 900 funcionários, o que melhorará a situação
financeira da Fundação Zerbini.
Alckmin trata a polêmica como
um desentendimento entre as
duas instituições e informou que
vem destinando adequadamente
recursos ao Incor.
A Fundação Zerbini também
está em pé de guerra com o Ministério Público do Estado de São
Paulo, que acompanha o desempenho da instituição.
Ontem o advogado da entidade
chamou o promotor que cuida do
setor, Paulo José de Palma, de
"pústula", em razão de Palma, supostamente, não ter apresentado
provas de que a entidade está sob
investigação do órgão público.
"Vou levar o caso à Corregedoria [do Ministério Público]",
ameaçou. O promotor afirma não
ter dado acesso às investigações
porque o advogado não teria procuração da Zerbini para trabalhar
em nome da instituição. Ele não
quis comentar o xingamento do
advogado e destacou que seu trabalho é técnico. Segundo Palma,
há seis investigações sigilosas na
Promotoria sobre a fundação.
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