São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 2005

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SAÚDE

Conselho do HC aponta má gestão no gerenciamento do instituto, que nega e reclama de falta de repasse de verbas

Fundação do Incor deve R$ 200 milhões

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A dívida da Fundação Zerbini, entidade privada que administra o maior instituto público de cardiologia da América Latina, o Incor de São Paulo, chega hoje a R$ 200 milhões, diante de um orçamento de R$ 230 milhões anuais.
O quadro foi apresentado ontem pelo conselho deliberativo do Hospital das Clínicas da USP, ao qual o Incor está ligado, e pela própria fundação. As duas instituições estão em guerra por causa do endividamento, mas ambas cobraram ações do governo Geraldo Alckmin (PSDB) para a solução do problema.
O hospital quer um auxílio financeiro para o pagamento. Já a fundação cobra verbas que não teriam sido repassadas pelo governador. O instituto faz hoje um total de 250 mil consultas por ano, em média, 13 mil internações, 5.000 cirurgias e 2 milhões de exames diagnósticos. Problemas no atendimento não estão descartados, a longo prazo, caso a situação não se resolva.
A Zerbini foi criada com anuência do HC para melhorar a estrutura do Incor, como acelerar as contratações e viabilizar mais rapidamente os investimentos, justamente por não ter as amarras de um órgão estatal.
O conselho do hospital atribui o endividamento a uma má gestão de verbas pelo hoje presidente do Incor e do conselho curador da fundação, José Ramires, e tentou afastá-lo do cargo.
"A fundação está tecnicamente falida, pois não tem patrimônio para pagar a dívida", afirma Marcos Boulos, integrante do conselho deliberativo do hospital.
Ontem, o HC apresentou resultados de uma auditoria independente que aponta controles inadequados das compras e estoques da fundação. Segundo o órgão, a situação "é grave".
Já Paulo Bonadies, advogado de José Ramires, acusou ontem o governo Alckmin de "tungar", nos últimos cinco anos, R$ 100 milhões destinados à entidade que defende, isso principalmente em razão de repasses não realizados pelo governador e aportes feitos pelo governo federal, mas não direcionados pelo Estado à Zerbini, de acordo com sua versão.
Ainda segundo Bonadies, Alckmin não teria honrado compromisso do ex-governador Mário Covas de pagar empréstimo de R$ 40 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), dívida de longo prazo assumida pela fundação e que chega a R$ 120 milhões.
"A fundação arca com dois terços do custeio do Incor, hoje de R$ 230 milhões", afirmou o advogado da Zerbini. "Há um clima de beligerância, disputa de egos. Eles [o conselho] estão matando a galinha dos ovos de ouro do hospital, do Incor [a fundação], e diminuindo a oportunidade de se tratar em um centro de excelência", continuou, classificando em seguida o conselho do hospital como "uma turba", que estaria causando, com as acusações, dificuldades para a fundação obter novos empréstimos no sistema financeiro e recursos de doações. Bonadies nega a falência.
Segundo o advogado, a fundação vem pagando 1.600 funcionários que deveriam estar sob responsabilidade do governo do Estado. O hospital informou que recentemente Alckmin assumiu os salários de mais de 900 funcionários, o que melhorará a situação financeira da Fundação Zerbini.
Alckmin trata a polêmica como um desentendimento entre as duas instituições e informou que vem destinando adequadamente recursos ao Incor.
A Fundação Zerbini também está em pé de guerra com o Ministério Público do Estado de São Paulo, que acompanha o desempenho da instituição.
Ontem o advogado da entidade chamou o promotor que cuida do setor, Paulo José de Palma, de "pústula", em razão de Palma, supostamente, não ter apresentado provas de que a entidade está sob investigação do órgão público.
"Vou levar o caso à Corregedoria [do Ministério Público]", ameaçou. O promotor afirma não ter dado acesso às investigações porque o advogado não teria procuração da Zerbini para trabalhar em nome da instituição. Ele não quis comentar o xingamento do advogado e destacou que seu trabalho é técnico. Segundo Palma, há seis investigações sigilosas na Promotoria sobre a fundação.


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