|
Próximo Texto | Índice
TCU vê indolência do governo no setor aéreo
Relatório aprovado por unanimidade pelo tribunal atribui a crise nos aeroportos à falta de planejamento e aos cortes orçamentários
O ministro Augusto Nardes, autor do texto, disse que "houve irresponsabilidade de muita gente" antes de se chegar à atual crise no setor
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na primeira auditoria sobre
os problemas no tráfego aéreo
do país, o Tribunal de Contas
da União levantou suspeitas
ontem sobre o sistema de computador usado para vigiar as aeronaves e atribuiu os atrasos e
cancelamentos de vôos à falta
de planejamento e cortes orçamentários praticados pelo governo nos últimos anos.
"A crise não foi obra do acaso,
mas de má gestão, da sucessão
de equívocos, da indolência, da
incapacidade de expandir o setor e do contingenciamento de
recursos", disse o voto, lido e
aprovado em plenário, do ministro Augusto Nardes, relator
do diagnóstico elaborado por
técnicos do TCU.
O relatório de Nardes foi
aprovado por unanimidade. No
entanto, devido ao escasso prazo para elaboração do relatório
-dez dias- e à complexidade
do assunto, o plenário do tribunal aprovou uma nova auditoria, mais detalhada, nos órgãos
envolvidos com o tráfego aéreo.
No documento, o ministro
afirma que existem "dúvidas"
sobre a "eficiência operacional" do sistema operado pelos
controladores de tráfego.
Os controladores também
apontaram problemas no sistema como um dos fatores críticos na queda do vôo 1907, da
Gol, que matou 154 pessoas no
maior acidente da história do
país no dia 29 de setembro.
A Aeronáutica sempre negou
problemas, mas ontem, em audiência com uma comissão de
senadores, o comandante da
Aeronáutica, brigadeiro Luiz
Carlos Bueno, afirmou que o
equipamento do controle aéreo
de Brasília estava defasado e
precisaria ter passado por duas
renovações nos últimos seis
anos, o que não ocorreu.
Além da nova auditoria no
sistema de controle do espaço
aéreo, o TCU também solicitará ao governo que antecipe em
um ano a visita de uma equipe
da OACI (Organização de Aviação Civil Internacional), prevista inicialmente para 2008. A
visita faria parte do Programa
Universal da Vigilância de Segurança Operacional.
Ao sintetizar o conteúdo da
auditoria, Nardes disse que
"com certeza houve irresponsabilidade de muita gente" antes de se chegar à atual crise.
Críticas
Em trechos do relatório e na
entrevista, Nardes critica o governo. "Fica evidente que em
algumas áreas não dá para fazer
contingenciamento. Precisa ter
critério", afirmou. Contingenciamento é o bloqueio de recursos até que seja confirmada a
arrecadação prevista.
"O chamado apagão aéreo
nada mais é que uma sucessão
de equívocos quanto aos cortes
nas propostas orçamentárias,
indolência em relação às necessidades de modernização do
Sisceab [Sistema de Controle
do Espaço Aéreo Brasileiro] e
quanto à ineficiente política de
alocação de recursos humanos", diz o voto de Nardes.
Procurado, o Ministério da
Defesa informou que não se
manifestaria a respeito do relatório por não ter recebido uma
cópia do documento. O Comando da Aeronáutica não respondeu ao recado deixado no
início da noite de ontem.
O ministro também apresenta duas contas de recursos que
deixaram de entrar nos cofres
da Aeronáutica. Uma delas indica que, desde 2000, a Infraero (estatal que administra os
aeroportos) deixou de repassar
R$ 582,4 milhões.
O relatório não traz punições, apenas recomendações.
Entre elas a contratação de novos controladores e a obrigatoriedade de a Infraero repassar à
Aeronáutica informações sobre a arrecadação da empresa.
Próximo Texto: Comandante reconhece defasagem Índice
|