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Casal de americanos diz que acusação de pedofilia é "armação"
Estrangeiros presos no Rio Grande do Sul afirmam não saber como fotos de meninos nus foram apreendidas em seu chalé
Garoto de 14 anos apontado pela polícia nega ter sofrido abuso; EUA confirmam que acusado foi preso por fazer sexo com menor de idade
SIMONE IGLESIAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TAQUARA
Preso no Rio Grande do Sul
sob a acusação de pedofilia, o
casal de norte-americanos Frederick Louderback, 63, e Barbara Anner, 72, afirmou, em depoimento à polícia, na noite de
anteontem, que as fotografias
de meninos nus recolhidas em
sua casa e em computadores foram "plantadas".
O casal disse ainda não saber
como o material, que ainda será
periciado, apareceu na casa, um
chalé na comunidade naturista
Colina do Sol, em Taquara (73
km de Porto Alegre).
Segundo a polícia, as fotos
mostram meninos de 8 a 14
anos nus e em poses sensuais.
As investigações tiveram início
em outubro, a partir de depoimentos de moradores da comunidade naturista. Um agente foi infiltrado no local durante dois finais de semana.
Além de Louderback e Barbara, que moram na comunidade desde 2001, foram presos os
brasileiros André Herdy e Cleci
Jaeger. De acordo com a polícia, os norte-americanos usavam a ONG New Face, dirigida
por eles, para se aproximar de
moradores carentes da localidade e aliciar as crianças -a
instituição auxilia crianças
com cursos de inglês e atividades esportivas.
"Foi uma armação, foi tudo
plantado para nos incriminar",
disseram eles, segundo policiais que acompanharam o depoimento. O casal não soube
responder quem estaria interessado em denunciá-lo nem
por quais motivos.
Sem provas
O advogado do casal, Vitor
Peruchin, disse ontem que não
há provas concretas de que
Louderback, Barbara e os brasileiros aliciavam os meninos
ou praticavam pedofilia.
"Há depoimentos de algumas
crianças e dos presos. Não há
nada que os incrimine."
Peruchin afirmou que não teve acesso à investigação e às fotografias. "Vou ter acesso aos
dados amanhã [hoje], mas o
que acho é que há interpretação distorcida, e isso pode levar
a uma grave injustiça. A indignação de Fritz [como Louderback é conhecido] e Barbara e a
surpresa por estarem presos
não é comportamento de quem
tem culpa."
A Justiça de San Diego, na
Califórnia, confirmou ontem a
informação da polícia gaúcha
de que Louderback foi preso há
27 anos sob acusação de fazer
sexo com menor de idade. A
corte diz que ele foi detido em
20 de outubro de 1980, mas não
informa por que o processo não
foi adiante. Ao menos em San
Diego, não há mais processos
envolvendo Louderback e Barbara Anner.
O advogado Paulo André Alves, que defende Herdy e Jaeger, afirmou anteontem que a
prisão e a suspeita de participação deles no esquema de pedofilia era "um mal-entendido."
"Um pai"
A Folha conversou com um
menino de 14 anos, que, segundo a polícia, é um dos suspeitos
de ter sofrido abuso. Ele e a
mãe negaram. "Ia na casa dele,
ficava lá com uns amigos e com
o intérprete [Louderback fala
pouco português e, segundo o
menino, Herdy era o tradutor],
via TV e dormia. Nunca aconteceu nada", disse o garoto.
Uma mulher de 37 anos, mãe
de três meninos que iam com
freqüência à casa dos norte-americanos, afirma que as acusações são infundadas e que
têm o objetivo de afastar o casal das comunidades carentes.
"Eles são gente muito boa.
Ajudavam com remédios e comida. Como foi proibida a entrada na Colina do Sol, ele
[Louderback] me deu um título, passou para o meu nome,
para eu levar os meus filhos,
porque o custo é alto para a
gente poder desfrutar do clube.
Os meninos nunca reclamaram
de nada", disse ela.
"É tudo calúnia para tirar o
dinheiro dos velhos. Sempre
dormiam uns 20 meninos na
parte de cima da casa deles,
com autorização dos pais. Seu
Fritz, para nós, é um pai."
O delegado Juliano Ferreira
afirmou que o comportamento
dos pais e das crianças é "comum e típico" de quem confia
nos investigados.
Colaborou DANIEL BERGAMASCO, de Nova York
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