São Paulo, quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

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Casal de americanos diz que acusação de pedofilia é "armação"

Estrangeiros presos no Rio Grande do Sul afirmam não saber como fotos de meninos nus foram apreendidas em seu chalé

Garoto de 14 anos apontado pela polícia nega ter sofrido abuso; EUA confirmam que acusado foi preso por fazer sexo com menor de idade

SIMONE IGLESIAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TAQUARA

Preso no Rio Grande do Sul sob a acusação de pedofilia, o casal de norte-americanos Frederick Louderback, 63, e Barbara Anner, 72, afirmou, em depoimento à polícia, na noite de anteontem, que as fotografias de meninos nus recolhidas em sua casa e em computadores foram "plantadas".
O casal disse ainda não saber como o material, que ainda será periciado, apareceu na casa, um chalé na comunidade naturista Colina do Sol, em Taquara (73 km de Porto Alegre).
Segundo a polícia, as fotos mostram meninos de 8 a 14 anos nus e em poses sensuais.
As investigações tiveram início em outubro, a partir de depoimentos de moradores da comunidade naturista. Um agente foi infiltrado no local durante dois finais de semana. Além de Louderback e Barbara, que moram na comunidade desde 2001, foram presos os brasileiros André Herdy e Cleci Jaeger. De acordo com a polícia, os norte-americanos usavam a ONG New Face, dirigida por eles, para se aproximar de moradores carentes da localidade e aliciar as crianças -a instituição auxilia crianças com cursos de inglês e atividades esportivas.
"Foi uma armação, foi tudo plantado para nos incriminar", disseram eles, segundo policiais que acompanharam o depoimento. O casal não soube responder quem estaria interessado em denunciá-lo nem por quais motivos.

Sem provas
O advogado do casal, Vitor Peruchin, disse ontem que não há provas concretas de que Louderback, Barbara e os brasileiros aliciavam os meninos ou praticavam pedofilia.
"Há depoimentos de algumas crianças e dos presos. Não há nada que os incrimine."
Peruchin afirmou que não teve acesso à investigação e às fotografias. "Vou ter acesso aos dados amanhã [hoje], mas o que acho é que há interpretação distorcida, e isso pode levar a uma grave injustiça. A indignação de Fritz [como Louderback é conhecido] e Barbara e a surpresa por estarem presos não é comportamento de quem tem culpa."
A Justiça de San Diego, na Califórnia, confirmou ontem a informação da polícia gaúcha de que Louderback foi preso há 27 anos sob acusação de fazer sexo com menor de idade. A corte diz que ele foi detido em 20 de outubro de 1980, mas não informa por que o processo não foi adiante. Ao menos em San Diego, não há mais processos envolvendo Louderback e Barbara Anner.
O advogado Paulo André Alves, que defende Herdy e Jaeger, afirmou anteontem que a prisão e a suspeita de participação deles no esquema de pedofilia era "um mal-entendido."

"Um pai"
A Folha conversou com um menino de 14 anos, que, segundo a polícia, é um dos suspeitos de ter sofrido abuso. Ele e a mãe negaram. "Ia na casa dele, ficava lá com uns amigos e com o intérprete [Louderback fala pouco português e, segundo o menino, Herdy era o tradutor], via TV e dormia. Nunca aconteceu nada", disse o garoto.
Uma mulher de 37 anos, mãe de três meninos que iam com freqüência à casa dos norte-americanos, afirma que as acusações são infundadas e que têm o objetivo de afastar o casal das comunidades carentes.
"Eles são gente muito boa. Ajudavam com remédios e comida. Como foi proibida a entrada na Colina do Sol, ele [Louderback] me deu um título, passou para o meu nome, para eu levar os meus filhos, porque o custo é alto para a gente poder desfrutar do clube.
Os meninos nunca reclamaram de nada", disse ela. "É tudo calúnia para tirar o dinheiro dos velhos. Sempre dormiam uns 20 meninos na parte de cima da casa deles, com autorização dos pais. Seu Fritz, para nós, é um pai."
O delegado Juliano Ferreira afirmou que o comportamento dos pais e das crianças é "comum e típico" de quem confia nos investigados.


Colaborou DANIEL BERGAMASCO, de Nova York


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