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MEC diz que criacionismo não é tema para aula de ciências
Material didático do Mackenzie e Pueri Domus traz visão teológica no ensino fundamental
Segundo modelo, que se
opõe à teoria da evolução
desenvolvida por Charles
Darwin, o Universo foi
criado por um ser superior
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
TALITA BEDINELLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O Ministério da Educação tomou posição no debate relativo
ao ensino do criacionismo nas
escolas do país. Para o MEC, o
modelo não deve ser apresentado em aulas de ciências, como
fazem alguns colégios privados,
em geral confessionais (ligados
a uma crença religiosa).
"A nossa posição é objetiva:
criacionismo pode e deve ser
discutido nas aulas de religião,
como visão teológica, nunca
nas aulas de ciências", afirmou
à Folha a secretária da Educação Básica do Ministério da
Educação, Maria do Pilar.
Apesar do posicionamento, o
MEC diz não poder interferir
no conteúdo ensinado pelas escolas, pois elas têm autonomia.
Conforme informou o colunista da Folha Marcelo Leite
no último dia 30, o colégio
Mackenzie (presbiteriano)
adotou neste ano apostilas que
apresentam o criacionismo nas
aulas de ciências nos anos iniciais do ensino fundamental.
Outras escolas, como as adventistas, por exemplo, praticam opção semelhante.
Teorias
Os criacionistas dizem que o
Universo foi criado por um ser
superior, assim como os seres
vivos. Para eles, a vida é muito
complexa para ter surgido sem
intervenção sobrenatural.
Essa crença se opõe à teoria
da evolução desenvolvida por
Charles Darwin, presente nas
diretrizes curriculares nacionais, segundo a qual todas as espécies provêm de um ancestral
único -e, a partir dele, se diferenciaram, chegando à diversidade atual de seres vivos.
O entendimento do MEC é
semelhante ao dos pesquisadores contrários ao criacionismo:
o modelo não pode ser considerado teoria científica por não
estar baseado em evidências
(preceito tido como básico para
se definir o que é ciência).
"[O ensino do criacionismo
como ciência] é uma posição
que consideramos incoerente
com o ambiente de uma escola
em que se busca o conhecimento científico e se incentiva a
pesquisa", afirmou Pilar.
O presidente da Associação
Brasileira de Pesquisa da Criação, Christiano da Silva Neto,
tem entendimento diferente.
Para ele, como não há consenso sobre qual teoria está
correta, "a maneira mais justa e
honesta de lidar com a questão
é apresentar ambos os modelos
nas aulas de ciências, dando-se
destaque aos pontos fortes e
fracos de cada um".
Escolas
O criacionismo é ensinado
no Colégio Presbiteriano Mackenzie desde 1870, quando a
instituição foi fundada.
O conteúdo é abordado no
sexto ano do fundamental -para crianças com idade por volta
dos 11 anos-, assim como a teoria evolucionista.
Neste ano, no entanto, o colégio passou a adotar um novo
material nos três primeiros
anos do ensino fundamental.
São apostilas com conteúdos
didáticos convencionais, onde
há a explicação criacionista,
mas sem a teoria evolucionista.
Segundo o colégio, nessa idade (por volta dos oito anos) os
alunos não estão preparados
para aprender o darwinismo. O
colégio anunciou que alterará o
conteúdo das apostilas, abrandando o caráter religioso, mas
manterá o criacionismo.
O Pueri Domus Escolas Associadas, uma rede laica que
reúne 160 escolas no Brasil inteiro, algumas com orientação
católica ou protestante, também apresenta o criacionismo
nas aulas de ciências.
O conteúdo é exposto com o
evolucionismo no oitavo ano
do ensino fundamental das escolas. Para Lilio Alonso Paoliel-lo Júnior, diretor de conteúdo
da rede associada, o objetivo é
promover o debate.
"Negativo seria não deixar
que a discussão acontecesse. É
uma questão de posição pedagógica. O conteúdo é aceito por
pais das escolas laicas e das religiosas", diz o diretor.
A visão também é defendida
por Maria Lúcia Callegari,
orientadora do colégio Santa
Maria (zona sul de SP). "Quando falamos sobre o surgimento
da vida, abordamos o criacionismo e o evolucionismo. Trabalhamos com pluralidade na
ciência, para romper a idéia de
uma verdade absoluta."
Na escola, o conteúdo é ensinado para os alunos do quinto
ano do ensino fundamental e,
segundo ela, não há reclamação
de pais por causa do conteúdo.
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