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SAÚDE
Brasileiro bebe pouca água, dizem médicos
KÁTIA STRINGUETO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Água é vital. É mais do que um
remédio, porque remédio se usa
apenas quando algo não vai bem,
e a água é fundamental todos os
dias", diz o clínico-geral Arnaldo
Lichtenstein, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Não se trata de fazer a apologia
da bebida, mas de reforçar a importância da hidratação. Apesar
de não haver estatística confiável,
o que inviabiliza a comparação
com o que ocorre em outros países, o consumo de água dos brasileiros é baixo.
Especialistas de diversas áreas
confirmam a tese. "Pelo relato dos
meus pacientes, 80% ingerem
menos de um litro por dia", afirma Mário Kehdi Carra, clínico-geral e endocrinologista do Hospital das Clínicas de São Paulo.
"O problema é maior entre as
mulheres, talvez porque elas não
se sentem à vontade para ir a
qualquer banheiro e evitam isso
bebendo pouco líquido."
Quanto aos homens, eles têm
porcentagem maior de massa
muscular, que os faz gastar mais
energia e perder mais água. "Daí a
necessidade de a reposição ser
maior em relação ao que as mulheres bebem", diz Lichtenstein.
Independentemente do sexo, há
outros motivos que tornam o
consumo menor do que o desejável. "Muita gente diz que não gosta da bebida", afirma a dermatologista Ediléia Bagatin, da Universidade Federal de São Paulo.
Há ainda um grande número de
pessoas que simplesmente esquecem-se de se hidratar por causa
do corre-corre da vida moderna.
"Falta criar esse costume", diz a
nutricionista Maria Izabel Lamounier de Vasconcelos, do Hospital Alemão Osvaldo Cruz.
As razões para uma boa dose de
hidratação diária são relevantes.
O funcionamento dos órgãos depende da saúde das células. Para
elas desempenharem bem seu papel, precisam receber alimento:
vitaminas, minerais, açúcar e proteínas, por exemplo.
"A água é fundamental porque
faz o transporte desses nutrientes
e permite a maior parte das reações químicas que mantêm a vida. Em outras palavras, de nada
adianta ter esse "alimento" se não
houver um meio de entregá-lo às
células", explica Paulo Sérgio Santos, diretor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo.
Sem líquido, falta matéria-prima para o rim. Como não pode tirar água do organismo para filtrar
as toxinas e os sais minerais, o órgão tende a concentrar esse material, aumentando o risco de formação de cálculos renais.
A uréia retida também dificulta
a coagulação do sangue, facilitando sangramentos. O prejuízo não
pára aí. Ressecado, o tubo digestivo favorece a proliferação de bactérias que levam à diarréia.
Os mais vulneráveis aos efeitos
colaterais da carência hídrica são
as crianças e os idosos. "A criança
muito pequena não sabe pedir. E,
proporcionalmente ao adulto,
transpira mais", afirma Mauro
Fisberg, pediatra da Universidade
Federal de São Paulo.
Os pais têm de estar sempre oferecendo líquido aos filhos: de 100
ml a 120 ml por quilo de peso, por
dia, no primeiro ano de vida, e 70
ml/kg a partir dos dois anos.
Nos idosos, o problema é que
não funciona mais com a mesma
perfeição o mecanismo de alarme que dispara a vontade de beber líquido quando o corpo começa a sofrer pela falta de água.
Uma possível decorrência disso
é um estado de confusão mental.
Quando a quantidade de água no
sangue cai, a pressão diminui e o
fluxo de sangue que passa pela
cabeça também. "Com isso, chega pouco oxigênio no cérebro, e a
pessoa fica mais lenta e confusa",
diz Lichtenstein.
Se a falta de hidratação causa
tantos problemas, o consumo de
líquidos previne e alivia vários
males. Em geral, recomenda-se a
ingestão de dois litros de água
por dia. Pode-se incrementar a
quota com leite, sucos, chás, sopas ou caldos.
É um cuidado importante, especialmente no verão, quando a
transpiração e o risco de diarréia
aumentam -os alimentos se decompõem facilmente e podem levar à intoxicação do organismo.
No processo de expulsão das
toxinas, o corpo elimina litros de
água e se desidrata. A pressão
sanguínea diminui, a pessoa se
sente fraca e sonolenta. Repor a
dose perdida é uma forma de restabelecer o equilíbrio.
Tão importante quanto beber
água é beber água pura, livre de
contaminação. A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de
São Paulo) garante água potável
até o hidrômetro das casas. A
partir daí, a responsabilidade é
do morador.
É necessário que se faça a manutenção da caixa d'água a cada
seis meses para evitar contaminação. Se a opção for pelas águas
minerais, é importante verificar
se o produto contém no rótulo o
nome da fonte, a localidade, data
e número de concessão de lavra,
nome e endereço do concessionário, constantes físico-químicas, composição analítica e classificação, além de dados como volume do conteúdo, data do engarrafamento e prazo de validade
da bebida.
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