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VIOLÊNCIA
Francisco de Assis Pereira afirma, em entrevista, que líder de rebelião na Casa de Custódia de Taubaté salvou sua vida
"Maníaco do parque" diz que será absolvido
RITA MAGALHÃES
DO "AGORA SÃO PAULO"
Chico, como faz questão de ser
chamado o preso Francisco de
Assis Pereira, ficou conhecido como "maníaco do parque" por ter
estuprado e estrangulado mulheres no parque do Estado (zona sudoeste de SP). Ele disse que matou
15 mulheres em 1997 e que só não
fez outras dezenas de vítimas porque elas não caíram no "conto do
vigário".
Ele concedeu entrevista na tarde
da última quarta-feira em sua cela
solitária no Centro de Detenção
Provisória, onde está preso temporariamente. Chico foi transferido da Casa de Custódia de Taubaté, no último dia 17, após uma rebelião de 36 horas que resultou na
morte de nove detentos jurados
de morte e na destruição parcial
da casa de segurança máxima.
No primeiro dia do motim, a Secretaria da Segurança Pública
chegou a anunciar sua morte à
imprensa. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Pergunta - Como foi a rebelião na
Casa de Custódia em Taubaté?
Francisco de Assis Pereira - Tudo
que sei dizer é que estava jejuando
e orando quando a rebelião estourou do lado de fora. Eu estava
ajoelhado ao lado da minha cama,
quando os presos arrebentaram
os cadeados e invadiram a minha
cela, que ficava de frente para o
pátio das visitas. Eles me renderam e me obrigaram a desfilar no
meio dos presos. Quando eles iam
começar a me espancar, o líder da
rebelião gritou: "Não ponham a
mão nele. Não relem no Chico".
Pergunta - E qual foi a reação do
grupo?
Pereira - Eles me levaram de volta para a cela, juntamente com os
outros nove jurados de morte. Estávamos reunidos ali, prontos para morrer. Fiquei mais de dois
dias (36 horas) no meio deles falando do amor de Jesus e do que
Deus tinha feito na minha vida,
como tinha me resgatado das
mãos do diabo.
Pergunta - Nesse período houve
uma ciranda da morte. Como ela
aconteceu?
Pereira - As mortes aconteceram
porque aqueles nove jurados de
morte tinham pisado na bola com
os presos da casa (líderes do PCC,
Primeiro Comando da Capital).
Nos momentos de tensão e pavor,
os ameaçados, em vez de se calarem, retrucavam aumentando a
fúria dos presos.
Pergunta - Você ficou no meio
dos presos rebelados e ninguém
tentou nada contra você?
Pereira - Não. Enquanto os outros eram maltratados, o líder me
abraçou e disse que nada aconteceria comigo. Ele falava para os
amigos me deixarem em paz porque o problema deles não era comigo. Me deram alimento e conversaram comigo educadamente.
Pergunta - Quem era o líder? Nome
ou apelido.
Pereira Eu não sei. Não o conhecia nem procurei saber quem ele
era. Agradeço pelo que fez por
mim.
Pergunta - O que os rebelados falavam para os jurados de morte?
Pereira - Diziam que iam pensar
em quem deixariam escapar dali
com vida. As ameaças não eram
blefes, eram reais e criava um clima de horror dentro da cela.
Pergunta - Você conseguiu que
alguém ouvisse sua pregação?
Pereira- Sim. O mais ameaçado
de todos estava apavorado, mas
me ouvia atentamente.
Pergunta - Quando você se converteu?
Pereira - Me converti assim que
cheguei à Casa de Custódia em
meados de 98. Recebi um arsenal
bíblico e comecei a ler aquilo com
desconfiança, sem querer me entregar. Até que encontrei o "velho" Chico na palavra de Deus.
Pergunta - O que você sentia?
Pereira - Quando via uma mulher bela e atraente, eu só pensava
em comê-la. Não só sexualmente.
Eu tinha vontade de comê-la viva,
comer a carne. Me aproximava
das meninas como um leão se
aproxima da presa. Eu era um canibal. Jogava tudo o que eu podia
para conquistá-la e levá-la para o
parque, onde eu acabava matando e quase comendo a carne. Eu
tinha uma necessidade louca de
mulher, de comê-la, de fazê-la
sentir dor. Eu pensava em mulher
24 horas por dia.
Pergunta - Você nunca usou a força para que elas fossem até lá?
Pereira - Jamais. Todas que chegaram lá foram porque quiseram.
Pergunta - Todas as suas investidas deram resultado?
Pereira - Não. Tentei convencer
outras dezenas que não me deram
bola, recusaram mesmo, foram
resistentes. A essas meninas, eu
agradecia mentalmente por não
me deixar matá-las. Era uma briga interior muito grande. Um lado meu queria matar e o outro,
bem mais fraco, não.
Pergunta - Você será julgado pelas mortes. Qual a pena que você
espera para seus crimes?
Pereira - Mais nenhuma. Eu fui
lapidado, purificado. Na madrugada do dia 14 de abril de 99, tive
uma visão celestial. Era Deus em
forma de vento forte me dando
prova viva que nasci de novo. Por
isso tenho fé, certeza absoluta de
que vou ser absolvido. Eu me arrependi verdadeiramente dos
meus pecados, que foram pagos
por Jesus Cristo, quando morreu
na cruz. Eu tenho convicção de
que nenhum juiz ou jurado vai
me condenar. O poder sobrenatural de Deus vai fazê-los enxergar
que aquele Chico criminoso morreu e que o que está aqui é alguém
que quer distribuir amor.
Pergunta - Quais são seus planos
fora da prisão?
Pereira - Constituir uma família.
Me casar, ter uma mulher e uma
filha. Sempre adorei crianças e as
tratei muito bem enquanto era
instrutor de patins.
Pergunta - Você crê que os pais
das suas vítimas possam te perdoar?
Pereira - Se eles seguirem os
mandamentos de Deus, sim.
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