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CONSUMO
Extinção do Decon prejudica consumidor
EUNICE NUNES
especial para a Folha
A extinção do Decon (Departamento de Polícia do Consumidor) prejudica a vítima de crime
de consumo, pelo menos no primeiro momento.
Esse é o prognóstico da Ouvidoria de Polícia do Estado de São
Paulo e de advogados ouvidos pela Folha sobre o fim do departamento, fechado pelo secretário de
Estado da Segurança Pública
Marco Vinício Petrelluzzi, por
ineficiência e corrupção.
O consumidor sofrerá com o
mau atendimento nas delegacias
de bairro, às voltas com flagrantes, crimes graves, fugas de presos
e falta de pessoal. Isso o levará a
desistir de formalizar a queixa e a
engrossar as fileiras dos que reclamam da qualidade do atendimento nos distritos policiais.
"A polícia acha normal que a
pessoa espere horas para ser atendida. Isso acontece com vítimas
de roubo e outras coisas mais graves, imagine com aquele que
comprou um xampu que fez seu
cabelo cair todo. Ele vai esperar
muito, vai desistir e nunca mais
volta à delegacia", afirma o ouvidor Benedito Domingos Mariano.
Ele diz que a população é muito
mal atendida nas delegacias. "Isso
também ocorre nos Estados Unidos e no Canadá, onde o mau
atendimento ocupa o primeiro
lugar na lista de reclamações contra a polícia", diz.
No primeiro balanço da ouvidoria paulista, em 1996, a má qualidade do atendimento era a principal reclamação. Em 1999, ficou
em sétimo lugar no ranking.
Isso não quer dizer que o atendimento esteja muito melhor. Para o ouvidor, as pessoas apenas
foram perdendo o medo e passaram a denunciar coisas que antes
não ousariam, como homicídios
cometidos por policiais. Essas
queixas suplantaram as de mau
atendimento.
Os advogados Antonio Fernando Pinheiro Pedro e Arystóbulo
de Oliveira Freitas concordam
com a avaliação do ouvidor. Ambos sustentam que os crimes contra as relações de consumo são
complexos e exigem um tratamento especializado.
"A extinção do Decon leva para
a vala comum esses delitos especiais, que vão até ser confundidos
com infrações administrativas
por quem não tem familiaridade
com o assunto. Nem estatística
vai dar para fazer", diz Freitas.
"Não se combate ineficiência e
corrupção fechando o departamento e transferindo as pessoas",
diz Pinheiro Pedro.
Marco Antonio Desgualdo, delegado-geral de polícia do Estado
de São Paulo, rebate as críticas e
diz que o consumidor lesado não
terá problemas de atendimento.
Ele afirma que a extinção do Decon ocorreu em conjunto com
outras medidas cujo objetivo é
fortalecer a polícia territorial (delegacias de bairro) e melhorar o
atendimento. "Teremos mais delegados nos plantões. Estamos
promovendo cursos de aperfeiçoamento, inclusive na área de
consumidor, que contarão pontos na carreira dos policiais", diz.
Segundo Desgualdo, uma iniciativa que tem tido bons resultados é a delegacia eletrônica
(www.policia-civ.sp.gov.br e
www.seguranca.sp.gov.br), inaugurada em 13 de janeiro.
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