São Paulo, quarta-feira, 14 de março de 2001

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TRATAMENTO

Choques causados pelo dispositivo instalado no lado esquerdo do peito diminuem o número e a intensidade das crises

Marca-passo é esperança para doentes de epilepsia

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um pequeno dispositivo marca-passo, instalado no lado esquerdo do peito e ligado por fios a um dos nervos próximos da carótida, é a nova esperança para doentes graves de epilepsia.
Em cirurgia de 90 minutos, os médicos instalam a bateria marca-passo sob a pele e ligam os fios ao nervo vago esquerdo, na altura do pescoço. Pequenos choques provocados pela bateria vão ativar o nervo que levará os estímulos ao cérebro. Por razões só parcialmente conhecidas, os choques diminuem o número e a intensidade das crises epilépticas.
Na semana passada, dois pacientes receberam o implante no Hospital Brigadeiro, em São Paulo. Nos Estados Unidos e na Europa, já há centenas de pessoas implantadas.
Pelo menos três brasileiros já se submeteram a esse procedimento lá fora. No serviço público, no Brasil, os dois pacientes operados nesta semana foram os primeiros.
O implante custa cerca de US$ 20 mil. Tão boa quanto a notícia do implante é a garantia de que o SUS pagará por ele. Arthur Cukiert, chefe da equipe de neurocirurgia do Hospital Brigadeiro e que dirigiu as duas operações da última quarta-feira, espera fazer de 10 a 20 implantes neste primeiro ano. Alguns planos de saúde também deverão arcar com esse tipo de tratamento.
O Brigadeiro é um dos maiores centros de tratamento de epilepsia do país, operando pelo menos dez pacientes por mês.

Auxiliar no tratamento
Cerca de 2% da população sofre de epilepsia, número que no Brasil é estimado em 3 milhões de pessoas. Felizmente, 80% dos pacientes são curados com medicação adequada. Outros 16% passam por cirurgia e também se livram das crises. Para os restantes 4% -cerca de 120 mil brasileiros- não havia outras soluções.
Mas mesmo o implante é só um auxiliar no tratamento e não beneficia a todos.
De acordo com Cukiert, uma metade dos pacientes vai ter uma redução significativa no número e na intensidade da crise. Os outros podem ter algum benefício, mas não se livrarão da doença.
Eliana Garzon, neurologista do Centro de Epilepsia do Hospital Osvaldo Cruz, diz que alguns médicos consideram que o "estimulador vagal", como é chamado, teria apenas um efeito placebo. Ou seja, o paciente acredita que ele funciona e com isso tem suas crises reduzidas.
Segundo Cukiert, a epilepsia é um conjunto de sinais e sintomas caracterizados por episódios recorrentes devido a uma descarga excessiva de neurônios em alguma região do cérebro.
As curas mais difíceis são quando todo o cérebro está afetado ou quando não se sabe conhece exatamente a região afetada.
As causas da doença vão desde hereditariedade até traumatismos, derrames e infecções. Em parte dos casos, a causa não chega a ser identificada.


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