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URBANISMO
Bares e igrejas evangélicas serão permitidos em vias de tráfego intenso na minuta elaborada pela prefeitura
Novo zoneamento criará "ruas do barulho"
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A nova lei de zoneamento, elaborada por técnicos da Secretaria
Municipal do Planejamento Urbano (Sempla), criará "ruas do
barulho", vias da cidade nas quais
será permitido o funcionamento
de barzinhos, shoppings ou fábricas -estabelecimentos que costumam incomodar a vizinhança.
O objetivo é solucionar um dos
maiores problemas de São Paulo
sobre o qual a atual legislação não
dá mais conta -o incômodo provocado pelo som de boates, por
transportadoras que manobram
caminhões de madrugada e inúmeros outros poluidores sonoros.
Somente no ano passado, o Programa de Silêncio Urbano (Psiu)
fechou mais de 700 bares, segundo o próprio órgão da prefeitura.
A minuta da nova lei de zoneamento será ainda debatida na Câmara Municipal, que terá de aprová-la até 30 de abril. Porém, dificilmente a idéia das "ruas do barulho" será modificada.
Isso porque a minuta tem como
espinha dorsal a rede viária de
1.300 quilômetros proposta no
Plano Diretor, aprovado no ano
passado pelos vereadores. A rede
é formada por vias importantes
para o tráfego de veículos, nas
quais o barulho do trânsito já
afasta as residências.
O Plano Diretor classifica as vias
como estruturais, coletoras ou locais. A primeira categoria é subdividida, conforme a intensidade do
tráfego, em N1, N2 e N3. As "ruas
do barulho" serão as N2 e N3,
porque no primeiro tipo estão as
vias expressas.
Nestas avenidas -como a Bandeirantes, na zona sul- fica proibido instalar estabelecimentos como um shopping center porque
influiria negativamente no fluxo
do trânsito, já complicado.
Os estabelecimentos menos incômodos, como padarias ou locadoras de vídeo, por exemplo, serão admitidos nas coletoras. As
locais serão restritivas.
A nova lei também muda a forma de classificar os estabelecimentos incômodos. A base são as
oito características registradas
também no Plano Diretor, como
poluição atmosférica, tráfego gerado, barulho e vibração.
Hoje, eles são classificados segundo o porte (até 250 m2 de área
construída ou mais) e o tipo, se
comercial, industrial, serviços ou
institucional (igrejas e escolas).
Com a mudança, um bar, por
exemplo, será pontuado segundo
uma escala de desconforto.
Pela atual legislação, cada uma
das 19 zonas instituídas na cidade
admitem determinados tipos específicos de estabelecimentos.
Zonas de exceção
Nem tudo seguirá a ordem estabelecida segundo o sistema viário.
De acordo com Ivan Maglio,
coordenador da equipe que elabora a nova lei, haverá zonas de
exceção. "Há uma cidade constituída que não podemos ignorar."
Como exemplo, Maglio cita os
bares da Vila Madalena, na zona
oeste, que hoje estão instalados
em ruas locais.
Outro exemplo de exceção serão as zonas estritamente residenciais (antigas Z-1). Há bairros do
gênero que são cortados por vias
N3, como a avenida Pacaembu,
no bairro homônimo (centro).
Pela nova legislação, o comércio
seria permitido na Pacaembu, o
que anistiaria a situação atual dos
comerciantes. Mas a Sempla
manteve a avenida como exceção.
Nela, só um acordo firmado com
moradores derrubaria a restrição.
As zonas de exceção serão discutidas nos planos diretores regionais. Neste momento, as 31
subprefeituras da cidade iniciam
a fase final de discussão dos planos, que influirão também na divisão de zonas da cidade, mantendo a linha central da minuta.
A presidente do movimento
Defenda São Paulo, arquiteta Regina Monteiro, porém, considera
que transferir estabelecimentos
incômodos para vias movimentadas não é o suficiente. "Poderia
até complicar o trânsito", diz.
Para ela, a imposição de medidas duras que reduzam o impacto, como a construção de estacionamento próprio, é melhor.
O urbanista e professor da USP
Luiz Carlos Costa vai além: "O
pior é não ter tempo para discutir
todas as especificidades desse
problema, do jeito que os planos
diretores regionais estão sendo
feitos, a toque de caixa".
Ivan Maglio reconhece que o
tempo é curto mas diz que a nova
lei poderá ser revista para se adequar à realidade. "Não há como
fazer algo estático, mas usar a rede
viária cria, pelo menos, uma base
simples", considera.
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