São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2006

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ROTA DE FUGA

Segundo o cônsul libanês, Rana Koleilat deu golpe de US$ 1,2 bilhão para financiar atentado contra premiê

Presa em SP libanesa suspeita de terrorismo

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Acusada no Líbano de ter dado um golpe bancário de US$ 1,2 bilhão -um dos maiores da história daquele país- e de envolvimento com o atentado que matou o premiê libanês Rafik Hariri, a economista libanesa Rana Abdel Rahim Koleilat, 39, foi presa pela Polícia Civil anteontem à tarde, no Parthenon Hotel de Santana, na zona norte de São Paulo.
Ela acabou presa, segundo o delegado Nicanor Nogueira Branco, por ter oferecido US$ 200 mil a dois policiais civis que a procuravam desde sexta-feira. "Quando nossos policiais chegaram para abordá-la, essa moça falou que tinha dinheiro, dólares, e que queria ir embora. Ela disse: "Tenho US$ 50 mil, US$ 100 mil, US$ 200 mil, quero ir embora. É só ligar para um amigo", disse Branco.
Até então, a polícia tinha um despacho da Interpol com um pedido de localização da economista, mas não tinha uma ordem de prisão contra ela.
O Cônsul-Geral do Líbano em São Paulo, Joseph Sayah, disse à polícia que Rana trabalhava no Bank al-Madinah e, com outras sete pessoas, desviou o dinheiro para financiar o atentado a bomba que, em fevereiro de 2005, matou Rafik Hariri. A economista chegou a ficar presa por 14 meses acusada pelo golpe. Foi solta, mas deveria permanecer no Líbano.
Na tarde de ontem, após a Polícia Civil confirmar a prisão de Rana, o delegado Moacir Moliterno Dias, da Interpol (polícia internacional), informou que ela é uma das pessoas que circulam pelo mundo na categoria "Difusão Vermelha" -classificação dada aos suspeitos de terrorismo. Ontem, a Interpol fez um pedido de prisão provisória dela.
O cônsul Sayah disse ainda existir uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas , de abril de 2005, alertando sobre a importância da prisão de Rana para as investigações sobre o atentado contra Hariri.
Antes de vir para o Brasil, Rana, segundo consta em seu passaporte, teria passado pela China, Turquia, República Tcheca, Iraque, França e pelo Reino Unido, onde ela disse ter residência fixa.
A polícia chegou a Rana após receber informações de um denunciante anônimo que, segundo a polícia, falava com forte sotaque. Nas ligações, ele deu detalhes sobre o paradeiro dela.
"Num primeiro momento, até desconfiamos da veracidade das denúncias. Era tudo muito certinho, muito preciso, bem detalhado. Nem fomos para cima logo, só quando recebemos pelo Correio uma cópia do despacho da Interpol sobre o pedido de localização é que resolvemos agir", revelou o delegado Murilo Fonseca Roque.

Passaporte falso
No momento da prisão, a economista portava um passaporte da Irlanda do Norte em nome de Rana Klailat. Levantamento preliminar junto às autoridades britânicas no Brasil e no Líbano apontou que o documento é falso, pois o número dele corresponde a um emitido para um homem.
Os policiais também apreenderam o telefone celular de Rana, além de R$ 14.600. O objetivo é rastrear suas ligações.
Como foi enquadrada no crime de corrupção ativa, caso seja condenada, Rana poderá cumprir pena de prisão que varia de um a oito anos. Até a conclusão desta edição, as autoridades paulistas ainda não sabiam onde ela ficará presa. A hipótese mais provável é a de que ela fique sob custódia da Polícia Federal, na Lapa (zona oeste).
Na delegacia, já quando era interrogada, Rana disse não entender o que era perguntado pelos policiais. Por conta disso, Muhamed Suaid, um comerciante que vive no bairro do Itaim Paulista (zona leste de São Paulo), foi chamado pelos investigadores para ajudar a fazer a tradução.


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