São Paulo, quarta-feira, 14 de março de 2007

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Em SP e RJ, alunos morrem na porta da escola

Dois estudantes foram assassinados anteontem à noite; nenhum dos dois jovens tinha registro de passagem pela polícia

Thiago, 18, do Rio, queria ser jogador de futebol; Adenilton, 19, trabalhava como cozinheiro em Bauru e estudava à noite

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

Dois estudantes -um no Rio de Janeiro e outro no interior de São Paulo- foram assassinados anteontem à noite na porta de suas escolas. Thiago Oliveira Paulino tinha 18 anos, queria ser jogador de futebol e acabara de ser chamado para testes no time de juniores do Madureira, do Rio. Adenilton da Silva, 19, trabalhava como cozinheiro em Bauru (343 km a noroeste de São Paulo) e estudava à noite.
Na história dos dois, além de terem sido brutalmente assassinados, há em comum o fato de que nenhum deles tinha registro de passagem pela polícia.

Rio
Thiago, o jovem do Rio, foi mais uma vítima da guerra de facções criminosas. Morreu quando quatro homens dispararam a esmo em frente a uma escola estadual em Bangu (zona norte). Outros oito jovens ficaram feridos no ataque. Os criminosos saltaram de um Space Fox às 20h30 e dispararam contra o grupo que estava diante do colégio Abrahão Jabour no intervalo das aulas. Minutos antes, homens armados de fuzis rondavam a escola em provável apoio à ação.
"A vida dele era jogar futebol", conta o pai, o funcionário público Fernando Paulino, 42. Thiago também ia ser pai. Seu filho com a namorada de 15 anos tem nascimento previsto para abril. O nome escolhido é Gabriel, mas pode virar Thiago Gabriel em homenagem ao pai. Ontem, o muro da escola exibia as marcas dos tiros de fuzis 7.62 e escopeta calibre 12. Os tiros atingiram o tórax e o abdômen de Thiago, que morreu no hospital. Diego Brito, 18, Estevão Barbosa dos Santos, 18, e Leonardo Alves, 23, também baleados no tórax e no abdômen, estavam em estado grave até a conclusão desta edição.
Eles também não tinham passagem pela polícia. Apenas Thiago era aluno da escola. "Eles atiraram para todos os lados. Diego ainda correu tentando fugir depois de levar o tiro e caiu dez metros depois. Eu ganhei [corri em direção] o muro e fugi", contou um jovem. Segundo a polícia, o atentado seria uma represália de traficantes expulsos da favela do Sapo após a morte do traficante José Renato da Silva Ferreira, o Batata, da ADA (Amigo dos Amigos), em 2006. A favela foi tomada pela facção rival TCP (Terceiro Comando Puro).

Bauru
O menino de Bauru, aluno da escola estadual Luiz Zuiani, foi baleado nas imediações do colégio, quando chegava para assistir a uma aula do supletivo. Silva recebeu um tiro no tórax. Ferido, ainda caminhou até o portão da escola, onde caiu e foi socorrido por policiais militares. Levado a um pronto-socorro, morreu no caminho.
Ao menos duas testemunhas presenciaram o assassinato, informou a polícia. Uma delas passou mal ao ver o crime e foi internada. À polícia, testemunhas disseram que houve uma discussão entre o rapaz e um homem, que disparou e fugiu. Um suspeito foi detido. Sua identidade não foi revelada. A polícia não descarta a hipótese de haver mais um homem envolvido no assassinato.


Colaborou MARIO HUGO MONKEN, da Sucursal do Rio


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